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Celso Antônio, caxiense


No ultimo dia 15 (junho), Caxias teve a oportunidade de assistir o documentário ‘Celso Antônio, Brasileiro’, do cineasta maranhense Beto Matuck. A sessão de estreia do filme aconteceu no Multicine Caxias, no Shopping Center em sessão única e gratuita a todos que ali estavam interessados em conhecer melhor a vida e obra deste grande e desconhecido caxiense.

Celso Antônio Silveira de Meneses (1896/1984) é um personagem que deve ser resgatado em nossa história. Deve, é a palavra correta, pois este artista que é considerado um dos maiores escultores do movimento modernista brasileiro, não passa de um ilustre desconhecido em sua terra natal.

No ano de 2012, o escritor e pesquisador Eliézer Moreira, lançou o livro ‘Um Gênio Esquecido’ em que traz a biografia completa do artista, incluindo o catalogo de suas esculturas e boa parte de seus desenhos. Como o titulo já descrevia, e denunciava, Celso Antônio se encontrava no ostracismo em sua terra natal, mesmo sendo reverenciado por artistas, escritores, poetas e amantes das artes pelo Brasil. O livro nunca foi lançado em Caxias embora o autor tenha demonstrado por diversas vezes, através de seus amigos da Academia Caxiense de Letras, o seu desejo de fazer aqui esse lançamento.

O filme talvez preencha essa lacuna de Celso Antônio em sua cidade natal. O longa tem algumas cenas feitas em Caxias, mostrando a cidade do alto do Morro do Alecrim, do seu sertão castigado pelo sol e o dia de finados no Cemitério da Olaria, no Itapecuruzinho, tudo ao som do mais tradicional musica popular caxiense, o Divino Espírito Santo dos moradores da Vila São José.

O gênio artístico deste escultor o colocou no mesmo patamar de outros reconhecidos nacionalmente, como Rodolfo Bernardelli, Bruno Giorgi, Victor Brecheret e pintores, como Portinari e Di Cavalcanti. As suas linhas e curvas esculpidas em pedra e mármore, revolucionavam aquele período saído da Semana de 22 e endossado no governo da Era Vargas em que o brasileiro buscava a sua identidade nacional. Embora tenha aperfeiçoado sua técnica na Europa no inicio do século XX, não se rendeu ao academismo da época ao retornar ao Brasil. O art nouveau e art déco, estilos arquitetônicos e artísticos que estavam na moda naquele período, destacavam os corpos atléticos e delicados dos deuses do período greco-romano. Era época de forte eugenismo, que de forma torpe, tentava justificar a supremacia da raça branca, principalmente quando o Nazismo assumia a liderança na Alemanha.

Celso Antônio foi na contramão de tudo isso, por duas vezes.

Quando teve a oportunidade de participar do ambicioso e moderno projeto do prédio do Ministério da Educação e Cultural no Rio de Janeiro - participação essa exigida pelo arquiteto francês Le Corbusier, e em seguida para o projeto do Ministério do Trabalho. A primeira, uma escultura para representar o homem brasileiro e a outra, o trabalhador. Em ambas esculturas, Celso Antônio apresentou um homem de características mestiças, músculos fortes, beiço grande e, segundo alguns, pênis volumoso. Era o verdadeiro trabalhador brasileiro que Celso Antônio conhecera em Caxias, trabalhando de forma braçal no porto do Itapecuru. O brasileiro que viu na sua andança pelo país quando conheceu outros estados, muito diferente daquele físico nórdico que o Estado acreditava ser a representatividade de nosso povo.

Esse homem brasileiro acabou sendo sabotado por aqueles que ignoraram a verdadeira face do Brasil. A estatua representado o homem brasileiro acabou desmoronando durante a execução e a outra, poucos dias depois de inaugurada em frente o novo prédio do Ministério do Trabalho, foi removida e escondida durante anos em um galpão. Hoje, ela está quase que escondida em uma praça na cidade de Niterói e aqueles que por ali passam, nem imaginam a história por trás daquele monumento.

Nem o niteroiense e nem o caxiense se passar por lá, diga-se. Desconhecemos o valor dessas obras de nosso grande conterrâneo.

O único registro histórico que se tem noticia de uma obra de Celso Antônio para sua terra natal, foi uma encomenda feita pelo caxiense Zadok Pastor para a execução do busto do industrial Dias Carneiro a ser assentada na praça em frente a antiga fabrica têxtil, hoje Centro de Cultura, isso por volta da década de 1910. O projeto acabou não indo adiante e sendo executado décadas depois por outro artista. Depois disso, de seu reconhecimento nacional, em nada mais foi citado seu talento. Se ele morreu esquecido no Rio na década de 1980, ele morreu primeiro aqui, muitos anos antes.

Atualmente, as únicas obras de Celso Antônio em Caxias são um auto retrato, doado por Eliézer Moreira a Academia de Letras e duas esculturas adquiridas em leilão por mim: uma cópia da escultura em bronze de uma mulher nua e o medalhão em prata confeccionado para a Casa da Moeda de 1978 – seu ultimo trabalho para uma instituição de cunho nacional. Nenhuma em exposição para o caxiense.

Celso Antônio é um personagem caxiense que vai além de sua obra artística. Ele propôs um debate sobre a linguagem do brasileiro em uma época que isso sequer era debatido. Aliás, se acreditava cientificamente que existia uma raça superior e essa não era a do brasileiro. Celso Antônio nos mostrou o corpo e a alma. E só agora, décadas depois passamos a lhe compreender.

Celso Antônio Silveira de Meneses é um caxiense que deveria ser estudado nas salas de aula muito mais do que um escultor ou desenhista. É um caxiense que está no mesmo patamar de Gonçalves Dias, Coelho Neto e Vespasiano Ramos. Celso Antônio merece uma escultura no meio da praça do Panteon.


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