Um dos desafios dos centros urbanos atualmente é a possibilidade de vincular seu passado, presente e futuro, integrando a cidade ao cidadão. Enfrentar a problemática das cidades do século passado, como o afastamento do morador das regiões centrais, ampliando as atividades econômicas e sociais em áreas de acervo histórico-cultural.
As áreas centrais das cidades médias vêm passando por grandes transformações como o seu esvaziamento fora do horário comercial. As metrópoles já enfrentaram as consequências geradas pelo crescimento sem planejamento, assistindo seu centro comercial agitado no dia e abandonado pela noite. Agora os gestores incentivam o retorno a ocupação dessas áreas que acabaram se tornando degradadas. Investimentos são atraídos tanto para o fomento do turismo como áreas de entretenimento (bares, restaurantes, boates) como áreas para escritórios e até moradias. E essa intervenção visa principalmente resgatar prédios históricos incentivando restauros, reformas e recuperação de espaços sociais, hoje tão raros nas cidades.
Caxias não está longe do que as grandes cidades já passaram. Alias, esse é o caminho que estamos seguidos neste exato momento. O de uma cidade com um centro caótico e confuso para o cidadão durante o horário comercial. E a noite um tormento para o pedestre que passeia pelas calçadas cada vez mais desertas. E um dos sintomas do crescimento desordenado faz com que o cidadão passe a ter apatia por sua cidade. Tudo que ele não compreende é indiferente.
Cidades sustentáveis e inteligentes, centros urbanos prontos para encarar o século XXI, andam de mãos dadas com o planejamento de suas áreas ambientais e patrimoniais. E a construções de novas edificações dentro de áreas tombadas são essenciais para dar nova vida e ambientação esse espaço urbano.
Qual oportunidade melhor de se difundir a identidade local, representando a história pelas formas arquitetônicas de nosso rico passado, em um ambiente moderno, alinhado as atividades diárias e nos referenciando para um progresso? As diretrizes que regem o patrimônio cultural nos dão os requisitos básicos para essas construções sem que agridam seu entorno.
A instalação do banco Santander em Caxias gerou muito mais do que o impacto financeiro. A agencia bancaria está instalada em um novo prédio na rua Gustavo Colaço, próximo a praça Salustiano Rego (três corações). O entorno da praça é ainda o de maior acervo arquitetônico de interesse patrimonial que Caxias possui. Grande parte daqueles imóveis ainda resistem ao tempo e a especulação imobiliária. É possível encontrar naquele reduto o aspecto mítico da cidade histórica.
Se analisarmos as áreas de interesse histórico, como Morro do Alecrim, Praça Panteon, Rua do Comércio, Praça Gonçalves Dias e Matriz, que são áreas centrais e importantes, porém com avançada destruição e poluição visual, o entorno dos Três Corações ainda é mais significativa por agrupar um conjunto arquitetônico e ainda possível se entrar na fase de restauração de seu espaço físico.
Poderíamos aproveitar a oportunidade para dar a população caxiense um exemplo a ser seguido pelas demais construções na área central. Um espaço a ser copiado positivamente na demanda da construção civil. Uma total apropriação da cultura e suas formas.
Mas aconteceu o contrário. Longe de qualquer tipo de intervenção ou analises, no meio desse belo conjunto foi construído um prédio sem seguir os padrões de seus vizinhos ou qualquer tipo de arquitetura de nossa região. Temos uma caixa branca encravada naquela viela que conta nossa história. Um corpo estranho como caído de alguma parte do céu e por acaso ali fincado, diferente ao seu entorno.
E por que Caxias perde uma outra oportunidade? Porque não é a primeira vez que construções são feitas sem as devidas fiscalizações de um imóvel em área de preservação histórica. Muitos prédios de grande impacto visual e urbano estão sendo construídos em nossa área central sem que seja feitam as devidas exigências legislativas das quais deveríamos estar vigilantes e atentos.
A diferença do Santander é de que será um imóvel de uso de boa parte da sociedade caxiense. Parte essa que poderia estar presenciando a ligação de um imóvel novo, moderno em harmonia com a arquitetura caxiense do passado, assim, tirando a falsa impressão sobre o patrimônio histórico de que o espaço urbano deve ser ‘coisa velha’.
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