Dando continuidade ao projeto do livro ‘Por Ruas e Becos de Caxias’ a ser lançado no início de 2020, estamos lançando o segundo teaser sobre as ruas de nossa cidade. Neste vídeo apresento algumas histórias do tradicional e antigo bairro do Ponte.
No século XVIII na região que ficou conhecida como Trizidela, foi construído pelos padres jesuítas o Seminário das Aldeias Altas, local de grande impacto na educação do sertão maranhense e outras regiões como Piauí e Goiás. No ano de 1801 essa região é elevada à categoria de 2º Freguesia de Caxias que se limitava ao sul até a região de Pastos Bons e Piaui. Com a perseguição aos padres pelo Marquês de Pompal e a posterior expulsão, o seminário dos jesuítas foi fechado restando apenas a capela dedicada da Nossa Senhora de Nazaré.
Se o seminário dos jesuítas não tivesse sido fechado, possivelmente a história da povoação da Trizidela e em consequência, suas adjacências, seriam bem diferentes. Pois todo o foco comercial, serviços e urbanização foram feitos na outra margem da cidade o que conhecemos hoje como área central, no século seguinte. A Trizidela se resumira a uma região de baixa povoação, sem expansão urbana significativa e melhorias, como calçamento e distribuição de quadras ordenadas. A área servia apenas de acesso e saída de Caxias para as demais cidades dos sertões que escoavam suas produções pelo porto do Itapecuru.
Uma dessas regiões foi um povoado que surgiu a partir de um desses caminhos e que acabou sendo batizada com o nome do belo riacho de águas doces e cristalinas. O nome primitivo do riacho se perdera no tempo. Apenas se sabe que era chamado como ‘riacho da ponte’, pois para fazer o trajeto até a Trizidela para ter acesso ao Porto do Bispo, era necessário atravessar o riacho. E em determinada data, alguém construiu uma pequena ponte de madeira em que as pessoas conseguiam fazer o trajeto com tranquilidade. Foi então dessas pequenas fazendas, casas e áreas de descanso para quem chegava em Caxias que nasceu o Povoado Ponte.
O Ponte se transformou uma região cheia de sítios em que os coronéis que residiam na área central construíam casas de veraneio e ali iam passar os fins de semana. O riacho do Ponte também virara um balneário. Todo visitante que chegava a Caxias tinha que conhecer o riacho e se deliciar em suas águas. As lajes que formam a pequena cachoeira conhecida como ‘roncador’ era o local preferido do poeta Gonçalves Dias em Caxias e anos depois, do também poeta Vespasiano Ramos.
Do Seminário na Trizidela fechado por volta de 1760 até o final do século XIX, ou seja, mais de cem anos de existência da povoação que virara a cidade de Caxias, a outra margem do Itapecuru pouco progresso assistiu. Foi só com a vinda de um maranhense visionário que a região finalmente passaria a ter uma atenção maior. Seu nome era Francisco Dias Carneiro. Após vender suas terras no município de Pastos Bons e residir por um breve período em São Luís, ele resolve comprar terras na área rural do Ponte e ali construir sua residência que chamou de ‘Parnaso’.
Com ele veio a construção da segunda ponte de madeira sobre o Itapecuru, finalmente unindo as duas regiões de Caxias. A primeira ponte caiu antes mesmo de sua inauguração, sendo, portanto, essa construída por Dias Carneiro e primeira de fato! E foi de sua atitude que veio a primeira fábrica têxtil do Maranhão, a Industrial Caxiense, construída em 1883 nas suas terras, no encontro do riacho Ponte com o Itapecuru. Daí vieram outras fabricas na região, como a União, Usina Agrícola e a Sanharó na Trizidela. O Ponte passou a ser conhecido como o ‘bairro industrial’.
A povoação que se concentrava as margens do caminho que ligava Caxias aos sertões (que acabou ganhando o nome de Rua do Parnaso devido a chácara de Dias Carneiro que ficava no caminho), próximo ao Morro do Boticário (que recebera o nome de Morro de Santo Antônio devido a capela construída no final do século XIX) e nas margens do riacho, passaram a habitar a área próxima as fabricas.
Com o enfraquecimento e posteriormente, fechamento das fabricas Industrial e União, o Ponte também ficou as margens de novas obras urbanas. A região continuou por décadas considerada área suburbana não recebendo benefícios dos governos. A única escola no povoado era que tinha como professor o ilustre José do Rego Medeiros, que residia próximo ao morro de Santo Antônio e que hoje a praça recebe o seu nome. Uma outra escola só foi construída anos depois, na década de 1950 pelo governador Eugenio Barros, a escola Vespasiano Ramos em funcionamento até hoje.
Muitas ruas do Ponte são em homenagem a pessoas daquela época: José Firmino Lopes de Carvalho (pai do Nacor Carvalho e avô de Jadiel Carvalho) que ali tinha grandes terras; Veras de Holanda (poeta), João Guilherme de Abreu (politico), Segisnando Moura (político e Diretor das fábricas) e também de nomes populares como a Rua dos Prazeres em homenagem aos casais que iam namorar a beira do riacho. Na expansão do Ponte que acabou gerando o bairro do Salobro após metade do século XX, nomes de outros políticos daquele período militar: Rua José Sarney, Geisel, João Castelo, Berenice Castelo e praça Costa e Silva.
Com a compra da antiga Industrial Caxiense pela família Castro, foi fundada da Francastro e com isso a região passou a ter novo fôlego. O riacho acabou sendo totalmente urbanizado pelo prefeito José Castro em 1976, tendo o seu leito aterrado com cimento e uma ponte de concreto facilitando trânsito até o centro. A ideia era tornar o riacho como um balneário cheio de bares e restaurantes. O antigo riacho do Ponte foi rebatizado de ‘Balneário Senador Millet’, em homenagem ao então codoense Clodomir Millet que na época era Senador da República. A ideia acabou não progredindo, se resumindo apenas a melhoria das ruas e a calçada as margens do riacho.
Com o crescimento urbano desordenado após a metade do século XX, o riacho do Ponte que era uma área aprazível de Caxias foi se tornando um problema. A antiga área de sítios entre a nascente na ‘Maria do Rosário’ até o Itapecuru, foi sendo loteada para diversas ocupações residenciais e com isso o esgoto passou a ser despejado diretamente no riacho. Sem preocupação com o meio ambiente, falta de planejamento e sem leis e fiscalização adequada na área pelo Poder Público, o Riacho do Ponte entrou para o século XXI como área imprópria para o banho. O que era um belo cartão postal e orgulho para a cidade por diversas gerações, vem se esvaziando a cada dia com sujeira e mal cheiro.
O bairro do Ponte hoje em dia continua a ser um lugar agradável para habitação. Ainda é possível encontrar casas com aspectos de sítios com grandes quintais e arborização. Casas de Morada Inteira (porta central com duas janelas de cada lado) ainda herdadas do período colonial e com afastamento com charmosas muretas protegendo a fachada da calçada. E o Morro de Santo Antônio vigilante a olhar para o centro e Morro do Alecrim.
PUBLICIDADE