No último sábado (19/10) estive na cidade de Itapecuru Mirim para a posse de quatro novos membros da Academia Itapecuruense de Artes, Letras e Ciências. Junto com o confrade Wybson Carvalho, fomos representar a Academia Caxiense de Letras naquele belíssimo evento.
Itapecuru Mirim é uma rica cidade histórica maranhense. Terra natal de Joaquim Gomes de Souza, onde a população tem grande orgulho desta figura. Tanto que na praça central está assentado o seu busto. Banhada pelo nosso rio Itapecuru, a cidade era trajeto da navegação do sertão até a capital São Luís. E quando foi construída a estrada férrea São Luís – Teresina, Itapecuru ganhou uma estação ferroviária. A cidade tem alguns prédios históricos, como a própria estação férrea que infelizmente está abandonada e em ruínas.
A Casa de Cultura Professor João Silveira, museu da cidade, está instalada na antiga candeia pública. Além de sua arquitetura colonial portuguesa ricamente preservada, o local tem uma importância histórica e cultural. Foi ali que ficou preso Negro Cosme, um dos líderes da revolta popular da Balaiada (1838/1841) e em frente ao prédio ele foi enforcado em setembro de 1842.
Sai de Itapecuru Mirim refletindo a importância de nossas cidades maranhenses. Caxias, Viana, Codó, Itapecuru-Mirim, Guimarães e outras que agora me falha a memória e que tem grandes histórias a serem exploradas. Cidades banhadas por rios que transportavam muito mais do que produtos comerciais. Pelas águas vinham cultura e conhecimento, acelerados depois pela linha férrea. Um roteiro de cidades históricas do Maranhão.
O que teria acontecido ao Maranhão se nossos governantes tivessem planejado nossas cidades. E se o que ocorreu em Ouro Preto – MG, quando lá estiveram os modernistas em 1924 em busca da identidade brasileira, tivesse ocorrido aqui também? A visita de Mário de Andrade e seus amigos aquela cidade mineira foi um marco na história da preservação do Brasil, pois naquela arquitetura barroca que corria o risco de sumir, estava a nossa identidade nacional. E se um grupo de intelectuais maranhenses, como os ‘novos atenienses’ que fez renascer um novo período de cultura e literatura no estado no início do século XX, tivesse feito uma visita ao interior em busca da identidade maranhense? Com certeza a realidade das nossas cidades seriam outras.
Em Caxias, caso aqui viessem Antônio Lobo e os imortais da recém-inaugurada Academia Maranhense de Letras, ainda encontrariam reminiscências do período áureo de Gonçalves Dias, Coelho Neto, Vespasiano Ramos e Dias Carneiro. O quartel do Morro do Alecrim, a fábrica União no Ponte e a Estação Férrea Caxias Cajazeiras não chegariam as ruínas, pois estariam protegidas por novas ideias que acabariam sendo absorvidas pelo povo caxiense. Mas eles não vieram.
O Maranhão no século XX entrou em um triste período de declino econômico que o tornou o estado mais pobre da Federação. Daí, passamos a uma busca constante de soluções para sair do atraso, quase sempre em um discurso modernista e de progresso. Assistimos nossas cidades crescerem sem planejamentos, de forma irregular e irresponsável. E assim, está indo embora nossa identidade interiorana maranhense.
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