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Um ano atrás


Neste dia 23 de março de 2019, completa-se um ano da perda de um ilustre caxiense: Eziquio Barros Filho.

Dr. Eziquio pertencia a uma geração de médicos conhecidos como ‘médicos humanistas’. Os médicos que eram conhecidos por amor e dedicação a profissão e muitas vezes sequer recebiam por consultas. A cidade teve grandes doutores da medicina atendendo a população dessa forma, como Gentil Pedreira, Miron Pedreira, Bento Urbano da Costa, Fernando Chaves, Marcelo Thadeu de Assunção e muitos outros que no momento me falha a memória. Além de sua paixão, a medicina, teve destaque também na área politica da Princesa do Sertão. Como todo jovem que nasceu sob o medo da 2º Guerra e a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, militou nas colunas do ‘Partidão’ seguindo Luís Carlos Prestes (que conheceu pessoalmente). Foi eleito para o legislativo e executivo municipal, estando no centro de um redemoinho que abalou a politica local no final dos anos 90.

Sua história iniciou no dia 11 de fevereiro de 1934. Veio ao mundo em casa pelas mãos de uma experiente parteira, pois Caxias ainda não tinha hospital. Seu pai era o picoense Eziquio Barros (Nascido em Picos, atual cidade de Colinas) e a mãe Nair Palhano de Moura Barros (Nascida em Codó). Logo cedo, aos 11 meses de idade, teve o infortúnio de perder o pai. Cresceu sob os braços da matriarca da família Barros. Dona Nair, como era carinhosamente chamada, criou não só seus 4 filhos, como também seus dois sobrinhos: Ruy e Raimundo Palhano, ambos caxienses ilustres, membros da Academia Caxiense de Letras.

Eziquio Filho cresceu ali no largo de São Benedito onde residia a família, um casarão de Morada Inteira do século XIX de propriedade de seu avô, Rodrigo Palhano – funcionário da Estrada de Ferro. Estudou as primeiras letras em casa com a professora Nazinha e depois com outros professores como Nereu Bittencort, Ari Cunha e Filomena Teixeira. Seguiu posteriormente para o Colégio Caxiense estudar o ginásio, ali na rua Aarão Reis. Sua turma de amigos dessa época, futuramente se tornariam grandes personagens da história de nossa cidade: João Castelo, Frederico Brandão, Nezinho Moura, Zezinho Chaves e muitos outros personagens. Aos 18 foi servir o Tiro de Guerra que ficava localizado no largo de São Benedito. Exímio atirador, era o primeiro da turma no tiro ao alvo.

O científico fez na capital, no Colégio São Luís, famoso centro de ensino onde muitos caxienses iam estudar. Ali residiu na Rua das Mangueiras (atual Arthur Azevedo) em um casarão onde sua mãe também passou a residir com a mudança da família para São Luís. Ali o jovem Eziquio teve contato com os ventos que sopravam fortemente a política. O primo de seu pai e seu padrinho de batismo, Eugenio Barros, acabara de assumir o Governo do Estado sob uma forte pressão popular nas ruas. Porem, ele penderia para um lado reverso do poder. Criaria simpatia com a esquerda, que tinha como liderança na época a médica Maria Aragão, que se tornaria sua amiga. Participando da juventude comunista do PCB, não demorou para o jovem se destacar na oratória e articulação política.

Concluído o segundo grau ele embarca para o Rio de Janeiro afim de estudar o pré-vestibular. Nas terras cariocas a paixão política aumentara assim como as tensões entre o governo e os militares. Eram o inicio dos anos 60.

Retornando ao Maranhão cursou a Faculdade de Odontologia, logo sendo eleito para Presidente do Diretório Acadêmico do curso de Odontologia e Farmácia. Passados dois anos, finalmente conseguira passar para Medicina, onde novamente foi eleito Presidente do Diretório Acadêmico das Ciências Medicas do Maranhão. Em 65 é eleito pelos universitários maranhenses para presidir o Diretório Estadual dos Estudantes. Como a UNE estava na ilegalidade, Eziquio participou de encontros de representantes dos estudantes estaduais no ano seguinte no Rio de Janeiro para reorganizarem o movimento nacional. Mas com o AI-5 em 67 e a repressão ainda maior, o movimento de união nacional esfriou. Com isso, Eziquio fica alguns dias escondido para evitar ser preso, pois era um dos principais alvos do movimento dos estudantes. Logo depois volta a faculdade onde concluí os estudos se formando em medicina na turma de 69. Foi escolhido para ser o Orador da formatura unificada da Universidade do Maranhão daquele ano.

Dali, migrou pelo interior do estado como todo jovem recém-formado. Foi residir na cidade de Viana, onde conheceu e se apaixonou pela jovem Iracy Silva. Na falta de estradas de rodagem e transporte adequado até São Luís, o meio mais rápido e eficiente para se chegar até lá era o avião de pequeno porte, os chamados “mini motor”. Em uma dessas viagens ao decolar da pista de Viana, o motor falha e o avião despenca do céu indo cair em cima de uma casa. Eziquio Barros sobrevive a queda de avião todo molhado de gasolina. Fato que ele lembraria posteriormente com muita ênfase, afinal era um fumante e naquele momento deixara o cigarro de lado. Após o acidente, com o corpo imerso de gasolina, ainda volta ao avião para ajudar os amigos que lá ficaram, mesmo correndo o risco de explosão.

Logo depois resolve se estabelecer em sua terra natal, voltando depois de muitos anos distante. Aqui casa-se com a vianense Iracy com quem tem quatro filhos. Mudaram-se para uma casa moderna na Travessa dos Remédios (atual Rua José Vieira Chaves) e posteriormente na praça Magalhães de Almeida onde viveria com a família por mais de 30 anos.

Médico concursado do Instituto Nacional de Previdência Social - INPS, sendo chefe do Serviço de Assistência Médica em Caxias e também concursado pela Secretaria Estadual de Saúde, onde foi Diretor Regional da Saúde. Clinico e Cirurgião, foi Diretor do hospital Miron Pedreiras e ainda trabalhando na Casa de Saúde e Maternidade, Sinhá Castelo e Policlínica Gentil Filho. Pertenceu ao Lions Club Caxias e fora um dos fundadores do Clube dos Médicos, que em seguida passou a se chamar Associação Recreativa Alecrim - Clube Alecrim.

A antiga paixão pela política da juventude, retornou quando ele voltou a Caxias. Filiado ao MDB, se candidata para o cargo de vereador nas eleições de 81, obtendo sucesso e sendo eleito. Foi eleito entre os vereadores como Presidente da Câmara naquela gestão. O prefeito era José Castro, seu grande amigo.

Durante a reeleição de vereador, com o falecimento de José Castro, Eziquio entrara em uma nova proposta política. Deixara o grupo liderado por Aluísio Lobo e aderindo ao jovem Paulo Marinho, que prometia romper com o velho tradicionalismo que atrasava o desenvolvimento de Caxias. Porem toda a chapa foi cassada, sendo impedida de concorrer a eleição municipal daquele ano. Foi então criada a “campanha do X”, quando o eleitor anulava o voto assinalando um enorme X na cédula de papel. Saíram derrotados, mas isso temporariamente. Na eleição seguinte de 1992, Paulo Marinho foi eleito Prefeito e Eziquio Barros o seu vice.

Em 1996 houve uma ferrenha briga interna para quem deveria ser o sucessor do prefeito. Diversos nomes surgiram até que fizeram pesquisas na população. O nome de Eziquio sempre alcançava os primeiros do topo. Assim, ele foi escolhido para disputar a eleição onde acabou sendo eleito Prefeito de Caxias para o período 1997/2000.

A sua administração fora breve, pouco mais de dois anos. Mas fez grandes projetos na área cultural, como as escavações no Morro do Alecrim, dando inicio ao Memorial da Balaiada, uma nova estátua do poeta Gonçalves Dias na praça, a revista O Balaio, além de grande apoio para a fundação e o funcionamento da Academia Caxiense de Letras.

Com problemas políticos internos, devido os velhos vícios que sempre atingem as administrações desta cidade, o seu grupo político rompe e acaba ficando sem base de sustentação. Devido a uma denuncia de irregularidade ocorrida ainda no período das eleições, onde prefeito que o apoiava doou um terreno, acabou sendo cassado. Assumiu então o segundo colocado nas eleições. Faltando menos de dois anos para as eleições, Caxias viveu um verdadeiro período de incertezas com troca de prefeitos. Um período turbulento que ainda precisa ser estudado e exposto para entendermos melhor a nossa política local.  

Com seus mais de 60 anos de idade, afastado da Prefeitura, se desiludiu da politica se dedicando ao máximo a profissão da medicina e a família. Com o convite na distante Buriticupú, mudou-se para lá onde passou quase 10 anos de sua vida naquela cidade e região. Ao retornar para Caxias ainda trabalhou dando plantão em postos na zona rural, como no Baú. Só parou quando teve de botar um stent, pois era necessário diminuir o ritmo.

Sempre fora um leitor voraz. Mantinha uma biblioteca repleta de livros dos mais variados temas: de medicina a ficção cientifica. Mesmo com seus 80 anos, aprendeu a navegar pela internet com seu notebook ou tablet. Fazia analises politicas até mesmo no campo internacional. Não fazia exercícios, mas tinha seu esporte favorito: a caça, em que passava dias com amigos nas matas no Norte, até dormindo com tribos indígenas.

E foi no seio de sua família, em casa, que na tarde do dia 23 de março de 2018 ele desencarnou.  Provavelmente falecera como todos um dia desejam. Dormindo, sem sofrimento. Seu corpo fora velado na Câmara Municipal de Caxias, recebendo visita de autoridades, amigos e familiares. Mas foi o povo simples, que lá fora prestar as últimas homenagens ao médico, que mais me chamara atenção. Muitas histórias de auxilio e ajuda ouvi de gente simples, quase chorando, agradecidas em nome de toda sua família. Seu corpo foi sepultado no Cemitério dos Remédios mesmo jazido de seu pai.

Grande político, grande médico e grande pessoa.

Um ano sem esse grande personagem de nossa história.


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