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Nazismo: Bauhaus e a arte degenerada


Nazistas passeiam por cima da Bauhaus na obra ‘O golpe contra a Bauhaus’, de Iwao Yamawaki, 1932.

Não foi só o Brasil, mas o mundo ficou horrorizado com a fala do agora ex-Secretário Especial de Cultura Roberto Alvim. Em um vídeo que chegou a ser caricato de tão grotesco e tinha como objetivo, demonstrar a cultura nacional em um novo rumo, totalmente voltado ao ‘nacionalismo brasileiro original’, soltou uma frase que pretendia demonstrar seus planos que acabou se demonstrando falso, pois nem de sua autoria era. A frase era uma mutação de outra, de autoria de Joseph Goebbels, um dos mais celebres e infames nazistas da história.

A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”. O próprio Alvim, após seu pedido de desculpas pela derrapada dizendo que assessores teriam lhe apresentado o texto, afirmou que o sentido da frase era perfeita.

Mas nada daquilo foi atoa. O próprio cenário foi milimetricamente armado com uma estética cheia de simbolismos que relembrava o próprio Goebbels em seu gabinete. A música que soava no fundo do vídeo era de Richard Wagner (1813/1883), musico venerado por Adolf Hitler em que muitos comícios e vídeos nazistas tinham suas composições, inclusive o plano para manter a ordem na Alemanha em caso de emergências se chamava Operação Valquíria, em referencia a ópera ‘Cavalgada das Valquírias’, de Wagner.

“... ou então não será nada”. A tentativa de reescrever a história não é surpresa desse governo, onde a cultura em geral, inclusive a educação, é vista com desconfiança e constantemente atacada por ser de viés esquerdista. Parece que estamos vivendo em 1950 na fase áurea do ‘Macarthismo’ nos EUA, onde uma patrulha perseguiu diversas pessoas sem base e fundamento, só por serem acusadas de comunistas. Mas estamos no Brasil em 2020. Ou é 8 ou é 80. Ou você é Fla ou é Flu. Se você não concordar com tal opinião, automaticamente você é do outro lado, assim, visto como adversário (e alguns casos como inimigos).

A cultura nacional virou saco de pancadas nos últimos anos desde que houve um renascimento da direita brasileira. O tal do ‘marxismo cultural’, uma frase que foi jogada e colou como ‘superbond’ no senso comum, vem julgando tudo que alguns acham como resultado de uma politica de cunho socialista que visava, olhe bem, o fim da sociedade judaica-cristã. Esse foi o pensamento que se estabeleceu na área governamental responsável por indicar Alvim a assumir uma cadeira na cultura que tinha como objetivo... acabar com a cultura. Pelo menos a que conhecemos.

Toda essa história de uma proposta de renovação das artes, inclusive a tosca frase copiada, me lembrou da Bauhaus e a perseguição que sofreu dos Nazistas.

A Bauhaus foi uma escola fundada em 1919 em um período de renovação democrática na Alemanha pós-primeira guerra mundial e que tinha como objetivo reformular as artes de uma forma geral unindo arquitetura, design, pintura, escultura, etc... em um único ambiente, criando assim uma nova proposta com ampla liberdade de ideias e pensamentos, voltadas ao autoconhecimento que permitiam novas concepções de linhas, formas, volumetria e meios de produção. Sua proposta foi tão revolucionaria que inspirou as gerações futuras pelo mundo, como os modernistas aqui no Brasil, como Lina Bo Bardi e Oscar Niemeyer.

Enquanto isso, por uma serie de conflitos econômicos e sociais por qual passavam a Alemanha, o Partido Nazista, que apresentava uma proposta radical de mudança das coisas, culpando políticos e o sistema de governo, ascendia ao poder com a promessa de devolver a Alemanha aos alemães. Sua bandeira era um retorno as verdadeiras raízes arianas e germânicas, assim, ignorando qualquer cultura diferente.

A arte foi muito usada como propaganda do Partido Nazista para divulgar não só sua concepção de uma nova nação como também uma nova arte voltada ao classicismo - fortemente influenciados pelo império romano. A arquitetura tinha papel fundamental para Hitler, que quando jovem tentou entrar para a escola de Belas Artes e foi-lhe negado ingresso por não ser considerado apto. A sua estética que vislumbrava para a Alemanha é perceptível na arquitetura que construiu para seus desfiles, celebrações nazistas e sedes governamentais. Nada moderno. Tudo reto, racional, pesado e decorado por simbologias pagãs. Mas a arte também foi usada para denegrir inimigos como a esquerda, liberais e judeus. E a Bauhaus com suas ideias de vanguarda não era bem vista pelo novo governo.

Em 1937 os nazistas chegaram a realizar a exposição ‘A Arte Degenerada’ com o objetivo de denegrir a arte moderna. E quem eram os degenerados? Picasso, Matisse, Mondrian, Lasar Segall e muitos outros. Essa exposição foi vista por mais de 2 milhões de pessoas, que absorvidas pela propaganda nazista, apoiaram as perseguições que vieram a seguir.

A Arte Degenerada, exposição em Munique, 1937.

Considerada de viés comunista, a Bauhaus foi fechada em 1933 e muitos de seus diretores, professores e alunos foram presos ou deportados.

Arte heroica, nacional, vinculada às aspirações do povo... ou não será nada’. A frase de viés nacionalista coloca toda a arte já produzida no Brasil, como um perigo a cultura. É a tentativa de denegrir a arte como um todo, resumindo-a um perigo comunista de destruição da sociedade a ser combatido. A tal renovação que se propunha, essa sim, de viés ideológico ainda não tão bem definidos.

O responsável pela frase saiu, mas e a ideia no governo permanece?


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