PUBLICIDADE


Aarão Reis agradece ao povo caxiense


O engenheiro Aarão Leal de Carvalho Reis, embora nascido em Belém no ano de 1853, era de família tradicional maranhense. O seu pai Fábio Alexandrino de Carvalho Reis era natural do município de Cantanhede, mas devido a sua profissão de inspetor da alfandega, fora transferido para a capital paraense. Ana Rosa Leal de Carvalho Reis, mãe de Aarão Reis, era filha de Alexandre Henriques Leal, portanto, irmã dos intelectuais Pedro Nunes Leal e Antônio Henriques Leal, este último considerado o ‘plutarco maranhense’. Aarão Reis casou com a caxiense Mariana Furtado Reis, filha de Francisco José Furtado (Conselheiro Furtado), este enteado de Raimundo Teixeira Mendes (o revolucionário assassinado em 1837).

Embora toda essa ligação com o Maranhão, não chegou a residir neste estado. Cedo fora para o Rio de Janeiro onde formou-se engenheiro civil e ciências físicas e matemáticas. Com a proclamação da República e sua ligação desde jovem com este movimento, ganhou espaço com a defesa da expansão nacional através das linhas férreas. Assim, acabou indicado em 1891 como Presidente da Comissão Geral de Melhoramentos do Maranhão, responsável pela construção da linha férrea ligando Caxias a Cajazeiras, atual município de Timon.

Ele não pode estar presente no lançamento da obra em 23 de junho de 1891, mas deu de presente ao município um martelo de prata a ser usado no evento. Aarão Reis chegou em Caxias pela primeira vez em 10 de setembro de 1893 para fiscalizar as obras. Ficou hospedado no palacete do Coronel José Castelo Branco da Cruz no Beco do Garapa (atual Trav. José da Cruz) onde houve um baile em sua homenagem. Uma semana depois ele partira para São Luís, mas antes deixou uma carta dedicada a população caxiense:

Retirando-me amanhã desta cidade, onde tenho a fortuna de contar numerosas amizades e simpatias, despeço-me, saudoso e sumamente reconhecido, de quantos me cercaram de inestimáveis finezas e imerecidas atenções.

Desejava, há muito, visitar Caxias e conhecer pessoalmente seus empreendimentos industriais, sua prosperidade crescente, e, sobretudo, as necessidades a quais carece ainda atender para firmar suas conquistas e consolidar sua riqueza.

Embora não haja tido a fortuna de nascer nestas belas paragens, para elas me atraem desde muito moço, os mais caros sentimentos de minha alma, inspirados pela extremosa companheira de minha vida, que aqui tem os seus parentes mais queridos, e aqui viu deslizarem-se os suaves e inolvidáveis anos de sua meninice.

E se, quando pude agora satisfazer tão vivo desejo, não me foi surpresa o grau de adiamento em que vim encontrar esta cidade, bem os imponentes palácios que está levantando corajosamente para sua indústria, nem o másculo exemplo de iniciativa com que está impulsionando todo o Estado do Maranhão; - excedeu, confessa-o, a minha expectativa amiga, a harmonia que vim depara reinando entre todos os seus habitantes, o afastamento cuidadoso das lutas irritantes de uma politicagem sempre estéril e impotente, a vida doméstica exercitada com primor e desembaraçada das pequenas intrigas tão ao saber dos nossos povoados do interior, o agasalho oferecido de coração, mas sem ridículos exageros, a convivência, enfim, das famílias, como se uma só consistirem.

São estes os predicados de que deve Caxias ufanar-se, porque a tornam quase que uma exceção em meio de um pais trabalhando demais pelas preocupações tolas da política de campanário, que irrita os espíritos, separa as famílias, inimiza os homens, estraga as instituições, esteriliza as nobres ambições, atrofia todos os bons estímulos, e impede o real progresso das localidades.

Acolhido como filho – e filho este merecido – por esta bela localidade, dela me afasto saudoso, grato e cada vez mais desejoso de cooperar para seu engrandecimento: sentindo, apenas, que muito pouco me permita fazer nesse intuito o círculo restrito em poder agir minha atividade.

Posso assegurar, porém, aos caxienses que, se até hoje me tem encontrado sempre pronto a servi-los, na medida de minhas forças, com dedicação e sem pretensões interesseiras, de qualquer ordem – minha colaboração nunca lhes será recusada, e nunca lhes faltará quando possível, para tudo quanto for de utilidade a intervenção de um modesto engenheiro que hoje vive do simples exercício particular de sua profissão.

E a cada um de por si ofereço o agasalho sincero de minha modesta residência no Rio de Janeiro, ou algures para onde me arraste a profissão, certos de que será para mim, minha mulher e meus filhos, da maior satisfação poder retribuir, em infinitamente pequenos, os grandes e inestimáveis obséquios de que a população caxiense, sem distinções alguma, me quis fazer alvo, em excesso inexplicável de carinhosa benevolência”.

Caxias, 17 de outubro de 1893

No ano seguinte a esta carta, seria o responsável pela elaboração e execução da planta urbanística de Belo Horizonte, a nova capital do estado de Minas Gerais.

Ele retornaria mais uma vez para Caxias em 1905 fazendo parte da comitiva de Afonso Penna, então recém eleito Presidente da República. Na ocasião seria aprovada a criação de um novo ramal ferroviário ligando São Luís a Teresina, concluído quinze anos depois.

Aarão Reis foi também responsável por adaptar um antigo palácio no Rio de Janeiro para abrigar o novo palácio presidencial republicano, o Palácio do Catete. Foi ainda professor, Diretor dos Correios, do Banco do Brasil e Deputado Federal.

Faleceu no Rio de Janeiro em 1936. O povo caxiense em respeito, admiração e agradecimento pela linha férrea, nomeou a antiga Rua dos Quintais para Rua Aarão Reis.


Comentários


Colunas anteriores

Coelho Neto em caricaturas

Se Coelho Neto é o caxiense ilustre com mais registros fotográficos, é provavelmente o mais caricaturado, ilustrado e representado em desenhos nas mais diversas publicações de jornais e revistas. Gonçalves Dias, nosso querido poeta foi igualmente representado, mas isso após sua morte.  Coelho Neto é o que podemos considerar hoje uma celebridade em seu tempo, um “influencer” de sua época. Embora a fotografia...
Continuar lendo
Data:11/02/2022 21:28

A família de Coelho Neto

Coelho Neto e sua esposa Gaby.   “A família é o núcleo ou gérmen da sociedade. Nela é que se formam todas as virtudes e se amolda o caráter, que é a feição da alma.  É a oficina sagrada onde se prepara, entre o amor e o respeito dos pais e o exemplo dos antepassados, o futuro cidadão. O que se adquire na infância leva-se até a morte. Assim como o corpo se desenvolve na sua...
Continuar lendo
Data:05/02/2022 08:11

Coelho Neto em fotos

Sem dúvidas o nosso intelectual Coelho Neto é o caxiense ilustre mais fotografado de nossa história. Primeiro que o tempo em que ele viveu permitiu presenciar essa maravilha. Inventada em 1826 na França a fotografia chegou ao Brasil por volta de 1840, se tornando popular no final daquele século onde, além das tradicionais posses em perfil, registrava-se momentos de descontração entre familiares e amigos. Com a evolução dos...
Continuar lendo
Data:28/01/2022 11:45

PUBLICIDADE

Responsive image
© Copyright 2007-2019 Noca -
O portal da credibilidade
Este site é protegido pelo reCAPTCHA e pelo Google:
A Política de Privacidade e Termos de serviço são aplicados.
Criado por: Desenvolvido por:
Criado por: Desenvolvido por: