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A Teoria das Janelas Quebradas no contexto patrimonial e urbano de Caxias


A Teoria das Janelas Quebradas é um estudo sobre a psicologia humana que retrata a desordem e a criminalidade social, utilizando-se de uma simples janela quebrada como metáfora, para representar o princípio da decadência de todo um ambiente. Nos anos 60 professor da universidade americana de Stanford, Dr. Philip Zimbardo (famoso por outro experimento, o polêmico ‘Experimento de Aprisionamento de Stanford’) e sua equipe deixaram dois carros idênticos estacionados na rua em duas áreas distintas de duas cidades americanas: um no bairro degradado com altos indicies de criminalidade e o outro em um bairro de classe alta, com violência praticamente inexistente. Embora essas duas áreas tenham uma realidade totalmente opostas, ambos os carros tiveram o mesmo destino quando tiveram uma de suas janelas quebradas. Foram saqueados e o que sobrou, foi totalmente destruído. Em 1982 o cientista político James Wilson e o psicólogo criminalista George Kelling publicaram o estudo intitulado “Broken Windows Theory” (Teoria das Janelas Quebradas), fundamentado no experimento do Dr. Zimbardo. Eles associaram uma pequena irregularidade (simbolizada na janela quebrada) como inicio de um processo que, caso não seja corrigido imediatamente, geraria uma sequência de outras irregularidades até se tornar um caos.

Para tornar esse experimento mais próximo de nosso dia a dia e nos dar uma maior compreensão, vou utilizar um exemplo simples por qual você provavelmente já passou:

Imagine que você está tomando um refrigerante na rua e ao terminar de saboreá-lo, precisa jogar a lata fora. Se você estiver em uma rua completamente limpa, higienizada, urbanizada, sem buracos ou nenhuma irregularidade, você se sentirá inibido em desarmonizar o local e ficará com a lata seca até encontrar uma lixeira. Mas se você estiver em uma rua completamente suja, repleta de outras latas pelo chão, além de lixo acumulado e muito entulho, você não verá nenhum problema em jogar a lata no chão.

Qual a relação da janela quebrada de um automóvel com a sua atitude sobre o que fazer com uma latinha de refrigerante?

O resultado deste estudo de observação nos dá uma resposta. Os pesquisadores concluíram que a janela quebrada transmitia a mensagem de abandono, um objeto sem dono, longe do olhar de leis, onde a depredação é vista como algo normal. A Teoria desenvolvida posteriormente amplia essa questão no campo urbano. A janela quebrada de uma casa, se não fosse conservada pelo seu morador, passaria a fazer parte natural daquele ambiente e quem por ali passasse, teria a ideia de um local abandonado. A depredação de toda a casa seria questão de tempo e o próximo passo seria todo o seu entorno. Isso faria com que a região viesse a ser desvalorizada, moradores abandonariam o bairro e acabaria atraindo vândalos de outras regiões. Assim, essa teoria também poderia servir na área criminal, onde uma pessoa que comete um pequeno delito, não recebendo punição adequada, logo passaria a cometer crimes mais graves.

No século XIX, tentando investigar o que levaria alguém a cometer um crime, teorias racistas associavam a cor da pessoa e sua etnia a grupos mais sensíveis a tais atos. O que se provaria mais tarde não ser verdade. A Teoria das Janelas Quebradas serviu também para desmitificar que pobreza era fator para origem de criminalidade. A segregação urbana e falta de políticas sociais nessas áreas, geram uma potencial região para atrair a marginalização.

Ainda na década de 80, autoridades de Nova Iorque resolveram aplicar a Teoria das Janelas Quebradas como politica de prevenção ao crime. O local escolhido foi o metrô, considerado um dos pontos mais perigosos da cidade. Após uma grande reforma na área devolvendo um aspecto de zelo, os pequenos delitos, como: papel no chão, lixeira cheia, lâmpadas quebradas e furtos iam sendo rapidamente resolvidos. Foi então que em pouco tempo o metrô se tornou um dos lugares mais seguros de NY. Cerca de dez anos depois, o prefeito Rudolph Giuliani, baseado nesse resultado, implementou a “política de tolerância zero” de uma forma geral. Com isso houve uma grande redução de crimes, roubos e transgressões em Nova Iorque.

O desleixo com a questão urbana e em consequência, patrimonial de Caxias é um longo processo de negação de nosso próprio ambiente. Chegamos ao ponto de ter repulsa por algo que seja correto, como manter uma harmonia estética e o direito de ir de vir de cada um. Uma calçada ocupada irregularmente, uma rampa que prejudica o transeunte, um poste de luz assentado no meio da calçada atrapalhando a passagem do pedestre, totem comercial em via pública, um veículo estacionado irregularmente atrapalhando os demais. E muitos outros problemas que encontramos diariamente ao transitar pela cidade. Problemas essas que são considerados pequenos diante de outros, como saúde, educação e segurança precários, como toda cidade de um país subdesenvolvido como o Brasil enfrenta.

O cidadão caxiense chegou ao ponto de ignorar essas questões diárias, mesmo que ele sofra consequências ao se deparar com essas dificuldades. Ele não se importa em sair de uma calçada e ir para o meio da rua, correndo o risco de ser atropelado, porque na calçada tinha uma moto estacionada. Afinal, diariamente pessoas morrem nas filas de hospitais e não se deve perder tempo com alguém que tirou o seu direito de andar na calçada – assim ele pensa.

Os imóveis que fazem parte do acervo patrimonial, até hoje, sequer foram catalogados. Estamos a quase trinta anos acompanhando diariamente cada imóvel sofrer o desgaste do tempo e da ação da falta de planejamento nesta área. O telhado cai, o reboco também, as esquadrias são retiradas. Uma garagem é aberta, um ar-condicionado é instalado na fachada, uma cor é alterada, um engenho publicitário é inserido usando todo o espaço criando uma poluição visual. Essas “pequenas” questões que desgastam a harmonia da cidade, e que vão contra as normas de preservação adotadas internacionalmente, acabam por serem aceitas devido a alterações ainda maiores, como a demolição total de um imóvel E assim, nada é feito. Nem contra o pequeno delito e muito menos contra o maior.

Encontramos toda essa problemática andando por Caxias, tanto na sua área central quanto na área periférica. E desviamos dos pequenos problemas como um simples obstáculo. Não nos incomodamos, não questionamos e por fim, não nos envergonhamos. Nos encontramos em meio a degradação e a tratamos como algo natural.

As duas construções na foto acima são perfeitas para exemplificar como a Teoria das Janelas Quebradas se enquadra na questão patrimonial e urbana em Caxias. A falta de uma atuação firme do Poder Público nos delitos cometidos, geraram um caos urbano em que muitos não se dão conta. E esse tipo de flexibilização de leis e normas enfraquece o próprio Poder Público, que acaba se tornando um agente passivo, incapaz de agir em ações futuras.

Fora das normas arquitetônicas, as duas construções não podem ser consideradas rampas de acessibilidade, mas sim barreiras urbanas, pois elas mais dificultam a mobilidade do que ajudam. Outro agravante é o uso do espaço publico (calçada) para se construir as barreiras, o que é proibido, pois tira o direito de ir e vir do pedestre o obrigando a fazer uso de um instrumento que não deveria estar ali. A responsabilidade de dar acessibilidade a um imóvel cabe ao proprietário, ou seja, iniciar a rampa a partir de seu imóvel. E não jogando essa responsabilidade para o caxiense, como é o exemplo desses dois casos.

Esse tipo de problema de rampas de acessibilidade é mais comum do que se possa imaginar em Caxias. Mas como diz a Teoria das Janelas Quebradas, uma sequencia de pequenas irregularidades, causam outras e as pessoas acabam achando normal. Se a rampa do imóvel vermelho tivesse sido removida assim que as obras iniciaram, o seu vizinho não teria construído uma igual. E teríamos uma harmonia mais do que uma boa estética, mas uma via tranquila para quem faz uso dela.

Cidades planejadas tendem a diminuir conflitos e, como consequência, menos violência. Espaços livres e recreativos em áreas carentes estimulam crianças e jovens a pratica de esportes os deixando longe de ociosidades. Área bem arborizada dá uma ótima sensação térmica, conforto ambiental, harmonia paisagística e incentivo ao plantio. Área bem iluminada incentiva a socialização e afasta insegurança. Imóvel bem preservado estimula o turismo e a ideia de ligação do cidadão com a sua história e cidade.

O princípio fundamental da Teoria das Janelas Quebradas é a da solução rápida para resolver um problema, não procurando ser ele de grande ou pequena proporção. Assim, se tem uma politica preventiva de organização do espaço urbano, devolvendo ao cidadão caxiense o aspecto de uma cidade adequada a seu bem estar e o mais importante: que ele não veja irregularidades como algo normal. 


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