Antes mesmo que Getúlio Dornelles Vargas tivesse seu nome conhecido em todo o Brasil como Presidente da República e, posteriormente, ditador, ele passaria a ser conhecido no noticiário nacional como Ministro da Fazenda. Embora tenha exercido o mandato de Deputado Federal por duas vezes (1923 até 1926), era um politico reconhecido apenas no seu estado Rio Grande do Sul.
A primeira fase de nosso sistema republicano conhecida como ‘República Velha’ estava em seus últimos anos, mas suas as práticas políticas características daquele período, como o coronelismo e o clientelismo, ainda se sustentariam por décadas na política brasileira. Agradar um líder político ou partido com cargos para que ele defenda as politicas governamentais, enfraquecendo qualquer tipo de oposição, ajudou a formar e manter oligarquias em todo o país. Não era necessário ter qualificação para compor alguma pasta ou comissão. Bastaria ter uma volumosa quantia de votos. Assim nasceu a nossa república.
Em 1926 o Presidente recém-eleito, Washington Luís, reunira a portas fechadas em seu gabinete a bancada governista para a escolha de seu ministério. Para acalmar os ânimos dos republicanos do Sul, Getúlio Vargas foi escolhido como o responsável pelas finanças do Brasil, mesmo tendo como profissão a advocacia. O seu biografo, o jornalista e escritor Lira Neto, assim definiu a escolha de seu nome para o cargo: “o ministro da Fazenda não entende nada de finanças. Mas sabe tudo de política”.
No dia de sua posse como Ministro, o Palácio do Tesouro, um palacete situado na área central da então capital federal, Rio de Janeiro, estava lotado. A fila de presentes naquele ato ia desde políticos, jornalistas, empresários, banqueiros, representantes comerciais e curiosos em geral. Quase todos com o mesmo objetivo. Apertar a mão do ministro e ao pé de seu ouvido fazer o pedido. E pedido era o que não faltava. Desde pequenos favores como amortizar dívidas, empréstimo camarada ou apenas pedir emprego para alguém em algum lugar. E esse tipo de visitantes se tornou tão comum que Getúlio, áspero político, resolveu fazer audiências públicas apenas para receber pedidos. A economia nacional poderia aguardar.
Getúlio Vargas se mostrava sempre muito atencioso com todos que ali se dirigiam pedir alguma coisa. Desde o mais nobre banqueiro trajando ricos ternos de linhos e charutos importados, quando o humilde transeunte que só carregava seu chapéu de palha. Ele fazia a expressão de quem ouvia atentamente e anotava os pedidos com carinho, claro, nem todos seriam atendidos.
Enquanto estava nos últimos visitantes daquele longo dia de sua posse, surgiu naquela fila um sujeito que estava ali a horas. Quando finalmente chegou sua vez de parabenizar o ministro da Fazenda, ele falou:
“- Sr. Ministro, não venho aqui pedir nada. Apenas o parabenizo e que tenha êxito nesse cargo”.
Apertou a mão de Getúlio e virou as costas, indo embora.
Aquele gesto surpreendente impressionou Vargas que, quando tudo se encerrou virou para seus assessores comentando o ato, dizendo que entre tantas figuras importantes e pedidos, apenas um único cidadão nada pediu. Era sinal de que o povo tinha em seu nome uma grande esperança de dias melhores ao Brasil.
Um antigo funcionário do Ministério da Fazenda, conhecedor de todos os causos, políticos, pessoas e situações ocorridas naquele lugar, se aproximou de Getúlio Vargas e falou:
“Sr. Ministro, aquele sujeito é conhecido por aqui. Todas as solenidades ele está presente fazendo a mesma coisa. Ele é doente mental”.
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