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A arquitetura invisível de Caxias


Tema recorrente em meus artigos ultimamente é mostrar como a cidade de Caxias vem perdendo o dialogo com seu cidadão, tanto na questão urbana como na patrimonial.

A mensagem que a cidade nos passa é a de um aglomerado cada vez mais confuso, conflituoso e inquietante para quem trafega por suas ruas e calçadas. Não é só se desviar de entulhos, buracos, rampas ou automóveis estacionais irregularmente. O espaço urbano é muito mais do que isso. Mas são esses pormenores que estão visíveis ao cidadão.

Só para quem tem um conhecimento histórico e técnico é capaz de transcender essa problemática, indo além dos gritantes engenhos publicitários que ficam acima das portas dos comércios, quase tomando toda a volumetria de um edifício. Ainda assim é difícil encontrar os elementos arquitetônicos, pontos fundamentais do nosso patrimônio, para se ter uma ideia da condição de seu estado de conservação. O risco é de, na falta dessa visualização que muitas vezes são propositais, não se sinta falta e se perca para sempre.

A arquitetura que está invisível ao caxiense é aquela que ainda resiste ao tempo e a ação irresponsável do homem. São aqueles traços que são capazes de gerar em uma sociedade ou um determinado grupo, transformações sociais e outras perspectivas de construção positiva para a cidade.

Confira em dez imagens como a falta de regularização atrapalha a construção de uma cidade harmoniosa, escondendo seu valor cultural e social.

 

O casarão colonial datado do início do século XIX, localizado na praça Gonçalves Dias, é um dos mais belos exemplos do casario colonial português existentes no interior do Maranhão. No século seguinte, parte de sua fachada foi revestida de azulejos europeus, também datados do século 19, feitos em revelo. Esses azulejos, que ajudam a contar a rica história de Caxias, está catalogado no inventário de patrimônio azulejar do Maranhão. Mas nem isso foi capaz de garantir que os azulejos e o prédio em si, fossem preservados. Muitos deles estão escondidos atrás de revestimentos como esse da foto, descaracterizando totalmente o imóvel.

 

Imóvel colonial situado na praça Gonçalves Dias com rua Afonso Pena. Assim como o sobrado, esse imóvel também do século 19 faz parte do acervo patrimonial do casario colonial português, típico dos quarteirões da época e que foi repedido nas décadas seguintes, copiando sua arquitetura na expansão de Caxias. Seus elementos arquitetônicos como beiral e base de cunhal estão escondidos no imenso engenho publicitário e outros materiais, além do revestimento cerâmico na cor branca, inadequado para esse caso. A leitura que o cidadão faz é de um imóvel sem vida, de padrão comum, longe de qualquer vínculo com a cidade.

 

Esse imóvel na praça Gonçalves Dias com a rua Fause Simão esconde um dos elementos mais significativos da arquitetura caxiense: A ogiva na porta da fachada. Esse tipo de elemento arquitetônico foi catalogado pelo IPHAN e Caxias, um dos principais centros de influencia desse tipo de arquitetura ainda no século 19. Como é possível conferir na foto, a ogiva está escondida atrás do engenho publicitário.

 

Mesmo imóvel continuando pela rua Fause Simão. O padrão segue o mesmo dos engenhos publicitários nas fachadas, mas aqui é possível ver partes da ogiva.

 

Imóvel do século XIX onde teria residência e comercio o português Augusto José Marques, e onde teriam nascidos Cesar Augusto Marques (médico e intelectual) e Augusto Cesar Marques (farmacêutico e também intelectual), ambos caxienses ilustres. O beiral, típico desse tipo de construção colonial, permanece escondido atrás do engenho publicitário.

 

Os imóveis vizinhos da casa de Cesar Marques pela travessa José Guimarães, também datados do mesmo período, são do mesmo padrão colonial português. Alguns são visíveis os beirais e outros seguem escondidos.

 

Imóvel possivelmente da virada do século 19 para o 20. O elemento arquitetônico conhecido como ‘platibanda’ possivelmente foi adicionado anos depois de sua construção, pois o beiral era solução da arquitetura colonial e ainda servia como elemento de destaque social. Quanto maior o beiral da residência, mais rico era o seu proprietário. Foi dai que nasceu a expressão ‘eira e beira’, pois quem era pobre não tinha eira nem beira. Na platibanda e possível ver detalhes em formato de rosas que passam quase desapercebidos. No sobrado ao lado, em que funciona uma famosa lanchonete, parte da arquitetura Art Decó, vinda da Europa pela década de 1930/40, também permanece parcialmente escondida devido ao imenso engenho publicitário. Local: Rua Afonso Cunha (Calçadão).

 

Rua Afonso Cunha com Praça da Matriz. A primeira foto é recente com o gigante engenho publicitário a mostra. A segunda foto foi captada em 2004, onde é possível ver os detalhes da bela platibanda com elementos da arquitetura Art Decó e ainda nome do construtor e data, elementos característicos da arquitetura caxiense.

 

Rua Aarão Reis. Assim como a foto acima, a primeira imagem é mais recente e a segunda datada de 2014. Os azulejos que revestem o imóvel, datados do século 19, estão escondidos atrás dos engenhos publicitários (e se ainda estiverem lá). Quem trafegar pela rua e dar uma espiadinha por cima, ainda é capaz de visualizar alguns.

 

Bela platibanda de um imóvel na rua Aarão Reis. Só mesmo dando um zoom na imagem é possível conferir os detalhes, como a data 1919 e outros elementos arquitetônicos, escondidos pelos engenhos publicitários e a confusão de cores em sua fachada.


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