No dia 13 de maio, um grupo de homens da mais alta classe comercial, intelectual e social, se reuniam pela primeira vez com o único objetivo: libertar escravos. Dessa reunião, uma escrava que pertencia a um desses senhores ganhou sua liberdade. Mas não é o 13 de maio de 1888, dia em que a Princesa Isabel assinou a Lei Aurea encerrando a escravidão no Brasil, a qual me refiro. Foi um ano antes, em uma sexta-feira, 13 de maio de 1887 na cidade de Caxias, Maranhão. Neste dia se reunia pela primeira vez a diretoria da Sociedade Libertadora Caxiense, que por uma grande coincidência, faria essa sua primeira reunião exatamente um ano antes da data libertadora nacional.
Embora a Lei Aurea pareça um ato humanitário, demonstrativo de um regime moderno e defensor dos direitos humanos pregados pelo iluminismo francês, a realidade estava bem longe disso. A monarquia brasileira passou a declinar desde o fim da Guerra do Paraguai em 1870 com novas ideias em seu seio militar, como a própria abolição e as ideias republicanas. A Questão Religiosa, conflito entre a Igreja Católica que fazia parte do Estado e a Maçonaria que tinha seus membros nos altos graus nos governos, ajudou ainda mais a enfraquecer o Império. A gota d’agua veio com a Questão Militar (1883/1887) que gerou uma grave crise política, fortalecendo os republicanos e positivistas.
Para os historiadores, a assinatura da Lei Aurea não passou de uma imposição política e comercial e não um ato libertário. O Brasil era o único país da América Latina que ainda permitia a escravidão e a Inglaterra pressionava nosso governo a acabar com essa pratica maléfica e desumana. O Império Brasileiro não viu outra alternativa, mesmo com a maioria absoluta dos latifundiários e os membros do Partido Conservador, base sustentável do governo imperial, contrários a libertação dos negros.
Mas luta por esse ato de libertação foi ampla em todo o território nacional. No Maranhão, desde a revolta ocorrida em São Luís, como a Setembrada em 1831, os republicanos desejavam a libertação dos escravos. A Balaida que veio em seguida idem, embora não tivesse bandeiras politicas firmes como as outras revoltas do período regencial. E em Caxias essa batalha também teve um amplo campo de debates.
A Sociedade Libertadora Caxiense tinha como objetivo principal a libertação de escravos no solo caxiense, comprando alforrias ou incentivando seus filiados a os libertarem do trabalho humilhante. A ideia da fundação desta sociedade partiu do advogado Tito Joaquim de Lemos, que no dia da fundação, em abril de 1887, perante o grupo de homens interessados na libertação dos escravos, fez um discurso eloquente e caloroso contra a escravidão e comemorando o fato da cidade gonçalvina ter um grupo disposto a lutar pelas liberdades do ser humano.
Tito Joaquim de Lemos nasceu em Caxias no ano de 1859. Formado pela Faculdade de Direito de Recife retornou ao Maranhão onde foi Juiz em Brejo e em Caxias a partir de 1886. Embora na capital pernambucana teve contato com os ideais abolicionistas e republicanos, foi em Caxias onde o jovem passou a conhecer teorias do iluminismo pela liberdade, igualde e fraternidade entre os homens. Seu pai, também Tito Joaquim de Lemos, era importante figura daquela Caxias do século 19. Chefe do Partido Conservador em Caxias, foi Deputado Provincial onde, na tribuna da Assembleia, travou debates com o também Deputado por Caxias, Luiz Raimundo da Silva Britto, futuro 1º Arcebispo de Olinda. Tito Joaquim de Lemos, o pai, era membro da Maçonaria e naqueles anos de 1870 durante a Questão Religiosa entrou em conflito com o vigário da igreja de São Benedito, o então padre Brito, que se transformara em um anti-Maçom.
As Lojas Maçônicas de Caxias desde esse período arrecadavam fundos para a libertação de crianças ou jovens escravos. Os próprios Maçons libertavam alguns de seus escravos em datas cívicas ou religiosas. O movimento republicano e abolicionista em Caxias teve grande parte de sua expansão graças a Maçonaria, onde a maior parte desses homens eram Maçons: Salustiano Rego, Gustavo Colaço, Libânio Lobo, Pedro Pinto Ribeiro, entre outros.
Infelizmente não se tem mais informações desta Sociedade Libertadora Caxiense e suas ações depois do 13 de maio de 1887. Após a Abolição da Escravidão, Tito Joaquim de Lemos foi transferido para a Comarca de Turiaçu e depois mudou-se com a família para a cidade de Campinas-SP, onde faleceu em 1939.
Um ano depois dessa ação de Tito Lemos, Caxias foi as ruas comemorar o fim definitivo da escravidão negra no Brasil.
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