Escrever a história de um determinado local não é fácil. Reunir diferentes narrativas, levantar dados históricos de variadas fontes, colher os saberes populares e analisar suas transformações para enfim, estabelecer a memória daquele espaço. Imagine então contar a história de mais de mil lugares?
Esse é o desafio que tenho agora nas mãos com o livro “Por ruas, becos, travessas e praças de Caxias: história e analise dos logradouros públicos de sua área urbana”. Projeto esse que tem o apoio da Academia Caxiense de Letras, fornecendo o seu selo e que foi agraciado pela Lei de Incentivo à Cultura do Governo do Estado do Maranhão, recebendo permissão para captação de recursos financeiros para publicação. Assim, conseguimos o apoio de uma grande empresa local que, acreditando no potencial da pesquisa que irá beneficiar a cidade, topou nos patrocinar.
Falo no plural, pois não estou sozinho nesse trabalho ambicioso e monumental. Foi criada uma equipe de profissionais qualificados e de renome do que diz respeito a história de Caxias. Os poetas e confrades de academia, conhecedores de casos e causos, Renato Meneses, Wybson Carvalho, Jotônio Viana e Isaac Souza, mestre em licenciatura da UEMA. Com eles trabalhei no livro Cartografias Invisíveis, lançado também pela ACL no ano de 2015. Para registrar as paisagens e os locais da cidade, o jovem David Souza que ultimamente vem realizando diversas exposições fotográficas de cunho histórico e cultural.
Cada canto de esquina, cada banco de praça e cada janela de antigos casarões dessa cidade estão repletos de histórias que vão desde fatos marcantes, como o dia em que um Presidente da República passeou por essas ruas até o mais curioso e pitoresco conto de um boêmio em uma noite de luar.
E história é o que não falta nessa Caxias.
Desde que os padres jesuítas se estabeleceram as margens do rio Itapecuru onde hoje está o bairro Trizidela, as histórias daqui começaram. E desses caminhos abertos nas matas pelos índios, explorados posteriormente pelos tocadores de boi que vinham do sertão até o litoral, as histórias se expandiram. Os costumes iam nascendo nos espaços onde, posteriormente, ganharam os nomes populares.
O principal porto da cidade ficou batizado como Porto Grande e em consequência, a rua que o ligava com o centro da cidade, ganhou o nome de Rua Porto Grande (atual Anísio Chaves). O porto ao lado, repleto de pedregulhos, era chamado de o porto das pedras. O caminho que se abriu em seguia, levou o nome: Rua Porto das Pedras, até hoje mantido. Depois vieram os nomes de ruas típico das cidades de origem portuguesa: rua augusta (rua do comércio), rua do sol (rua Alderico Silva), rua direita (rua Fause Simão), rua das flores (rua Gustavo Colaço), rua da palma (rua Coelho Neto), entre outras. Depois veio o período dos coronéis e com eles, as homenagens em vida dessas figuras: Praça Magalhães de Almeida (praça catedral), Praça Urbano Santos (praça Vespasiano Ramos), rua Godofredo Viana, e segue a lista.
Mas Caxias era uma cidade que honrava seus filhos ilustres, isso na medida do possível. Gonçalves Dias após seu falecimento recebeu a homenagem de ter seu nome imortalizado no largo, próximo onde residia. Coelho Neto, já citado, foi homenageado ainda em vida, assim como o filósofo Teixeira Mendes. Outros logo após seu falecimento, como Conselheiro Furtado, Dias Carneiro, Afonso Cunha, Conselheiro Sinval (infelizmente removido da rua), Dr. Berredo, Paulo Almeida, entre outras personalidades.
Mas não é só a elite que dá nome as nossas ruas. Os becos nas áreas periféricas ganhavam nomes de moradores da área, geralmente seus apelidos ou sua área comercial. Beco do Noronha, Beco do Guela, Beco do Galo, Sovaco da Jumenta, Travessa do Arias, rua da Galeana, Beco Caprichoso, Beco do Coalhada e mais alguns. Isso sem falar na forte devoção católica de moradores que batizavam as ruas com nomes de santos. Isso explica porque existem grandes números de nomes de ruas, como São João, São José, Santa Maria e outros santos por diversos bairros.
Até que vieram os novos conjuntos residenciais com seus lotes e quadras projetados com nomes de ruas em numerais: rua 01, rua 02, rua projetada 01 e que de certa forma cria um aspecto distante do morador com sua cidade, estabelecendo aquela localidade um padrão em sequência.
Mil ruas, mais de mil histórias. É possível encontrar um universo em cada rua dessa cidade. E esse universo diversificado que está atualmente em estudo.
Praça, avenida, rua, travessa e beco. Logradouros públicos que terão sua história contada nas folhas desse livro. Desde o seu nome primitivo ao atual, contando a biografia da pessoa, fatos marcantes ali ocorridos, personalidades que residiram ou trabalharam e a analise urbana daquela via urbana.
Esse ano de 2019 a cidade de Caxias está em estudo e no inicio de 2020, toda a sociedade terá oportunidade de conhecer melhor a sua história.
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