Estar na Academia Caxiense de Letras é um enriquecimento. Se quiser, basta ir ali em qualquer estante e buscar um livro. Ou então, se deparar com os membros da casa e bater aquele papo cultural gostoso. Isso faço sempre.
Poucos dias atrás, em um sábado de manhã, estávamos lá na Casa de Coelho Neto e entre os ilustres presentes, degustando umas e algumas geladas, nosso grande memorialista Rodrigo Otávio Baima Pereira. Entre tantos assuntos debatidos de nossa Caxias, comentávamos os tempos atuais de grande intolerância. Que tempos são esses que no futebol se mata o torcedor adversário? Não se respeita a religião alheia? E na politica então? Hoje você não pode se declarar de um lado, pois logo alguém vai lhe agredir verbalmente. Uma simples opinião em sua rede social vira um grande redemoinho onde amizades são desfeitas e novos inimigos são declarados.
‘Seu’ Rodrigo comentava da falta de respeito com o próximo na política atualmente. A patuleia (os eleitores em geral) eram uns carniceiros se envolvendo e comprando briga por qualquer motivo, enquanto o alto comando (os políticos) mantinham a irmandade de sempre.
Me contou ele que quando mais jovem, seu chefe, o grande politico Eugenio Barros, com seu terno branco de fina elegância e alinhado com aquela gravata de cor escura, o chamou e exclamou:
“- Rodrigo, vamos dar uma volta”.
Ele um molecote, doido para andar naquele automóvel pelas ruas de Caxias, onde ter um carro ainda era um privilégio para poucos e se contava nos dedos quem tinha um carro naquela época em Caxias, foi logo se dirigindo ao veículo do patrão.
“- Rodrigo, volte aqui, aonde vais?”
Exclamou o chefe político, ex-prefeito e futuro Governador do Maranhão a seu jovem funcionário. Rodrigo então se virou e estranhou aquele chamado. “- Vamos a pé”, falou em seguida Eugenio Barros. O jovem Rodrigo Bayma voltou cabisbaixo, pois não pegaria o vento na cara naquele dia e gastaria mesmo era a sola de seu sapato.
Saíram então ambos da firma comercial ‘Eugenio Barros & CIA’ que ficava ali no largo da Matriz, imóvel esse que ia de uma ponta a outra, da rua Gustavo Colaço a rua Teixeira Mendes. Lá iam Eugenio Barros e Rodrigo Bayma Pereira.
Ao cruzar o pomposo templo católico dedicado à Nossa Senhora da Conceição e São José, pegaram a calçada do quarteirão repleto de casario do século XIX, decorados de azulejaria e esculturas vindas da Europa.
Na janela de um desses casarões, observando o movimento da cidade, lá estava Aquiles de Almeida Cruz. Médico, politico e adversário de Eugenio Barros. De braços cruzados, do alto janelão de sua residência o Dr. Aquiles observou aquelas figuras vindo em sua direção. Uma forte tensão pairou no ar. O que será que aconteceria com o encontro destes dois políticos que dividem em dois lados Caxias?
Eugenio Barros com toda aquela elegância, me contaria Rodrigo Baima, ao passar na casa de seu adversário, falou:
“- Bom dia, Dr. Aquiles”.
Prontamente, com toda educação e respeito o médico caxiense respondeu:
“- Bom dia, Dr. Eugenio Barros”.
E assim o empresário caxiense seguiu seu rumo a pé até seu destino, enquanto o doutor continuou apreciando o movimento daquela praça, até então o ponto mais movimentado da velha Caxias.
“- Respeito, Eziquio. Naquela época se tinha respeito um pelo outro”, me falava ‘seu’ Rodrigo com aquele ar saudosista. E de certa forma, lamentando a situação em que essa geração se encontra atualmente.
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