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Fábio Kerouac

Um poeta caxiense em Hamburgo

Lembranças


1988

Fui expulso de casa em 1988 com a gentileza da minha madrasta. Fui morar num mocó com meu irmão (o hoje sargento do exército Helder Ferreira), que naquela época estava em Sampa estudando no Objetivo. Era janeiro e em fevereiro fui morar num apartamento que o Tatu, um descente de japonês, alugou pra mim e Donizete, um técnico em eletrônica da cidade de Bebedouro que trabalhava conosco. O Doni ficou só 4 meses e o Helder só um mês, só o mês de fevereiro. Eu recebia na época somente a visita do Augusto e sem ele visitava o Fonfo e o Belo no Parque das Árvores, o bairro onde morei 6 anos perto do Autódromo de Interlagos, na zona sul. No Parque das Árvores nós (Augusto, Belo, Fabinho e e Fonfo) éramos os desterrados, os execrados, os odiados porque gostávamos simplesmente de rock´n`roll. Mas a casa subiu... o rock virou moda e atrás dos gurus, nós, veio uma turma atrás de conselho errado... Essa turma, que incluía a Bete, Roberta, Marcela, Adriana, Daniel, entre outros, passsou a frequentar meu AP a partir de setembro e ali ficaram até o início de janeiro de 1989, depois que o Belo largou o emprego e pegou a estrada rumo a Minas e depois o Sul. Foi em janeiro também que nós, a turma toda, foi ao Hollywood Rock ver o Supertramp, sem o Roger Hodgson, cantar From Now On e outras músicas que ouvíamos em casa, aliás no meu "apertamento", onde bebíamos cerveja Brahma no gargalo e ouvíamos Legião Urbana, Camisa de Vênus, Cazuza, Rush, Pink Floyd, Janis Joplin, entre outros que faziam a nossa cabeça na época. Eram tempos sem compromisso, era um época que díziamos O Tempo Não Pára.

Antes de partir, o Belo, teve uma idéia: "Vamos escrever poemas, nós, eu, Fabinho e tu, baiano". O Fonfo é descendente de baianos. "Escrever poemas a seis mãos", disse certa vez o Belo com uma garrafa de cerveja na mão. A platéia, nesse dia duvidou! Mas fizemos um, dois, três... E num outro dia fizemos mais alguns, só que aí veio o fim, antes de sermos famosos. E como fomos felizes nessas baladas!

Eu era o cara que já tinha lido Shekespeare, Balzac, Machado de Assis, Jorge Amado, Ferreira Gullar, Manuel Bandeira, Cruz e Sousa, entre outros. O Belo era informado, gostava de notícias e coisa o tal... mas o Fonfo não lia nada, e a bagagem dele foi posta nos poemas. No poema derradeiro, ele, Fonfo, mostrou toda a sua filosofia, numa época em que eu tinha acabado de ler On The Road de Jack Kerouac e pensávamos pegar a estrada como o velho profeta beatnik. Fonfo, o filósofo, o iniciante a poeta escreveu:

Louco, louco e não sei porquê

Mas estou topando essa balada

Vamos lá mundão

Quero sentir teu tesão..."

Ao escrever isso Fonfo recebeu setença de morte poética, dada pelo Belo, que o chamou de aculturado, analfabelo... e baiano. Eu achei profundo o que Fonfo escreveu, mas não disse nada, dei risada e acabei concordando com o fim de uma carreira sem futuro de três amigos que fingiram ser poetas por alguns dias. Coisa da "danada"!

2009

Fiz minha mochila sexta-feira passada e coloquei alguns pares de meias, algumas camisetas, um jeans, fui vestido em outro, não esqueci dessa vez a minha escova, alguns cds e um livro do meu curso de japonês. Fui para Stuttgart, de lá eu fui para Eguisheim, na França, uma pequena Dorf (aldeia em alemão), com pouco mais de 1500 habitantes. Segundo dizem Eguisheim é a aldeia mais bonita do mundo... não sei por que, mas eu fui e lá lembrei do Fonfo quando cheguei no Alberge des Trois Châteux, onde fiquei até a última segunda-feira, e lá recitei pra mim mesmo:

Louco, louco e não sei porquê

Mas estou topando essa balada

Vamos lá mundão

Quero sentir teu tesão..."


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