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Fábio Kerouac

Um poeta caxiense em Hamburgo

Maconha na Garoa


"Me deram um cigarrim pra fumar
Menino como eu gostei"

Pedra de Responsa (Zeca Baleiro)

Essa é um história baseada em pequenos fatos reais...

2019... sempre que vem o dia 7 de setembro eu me lembro dessa data com um certo carinho, não pelo fato de comemorarmos o dia da Independência do Brasil, e sim por me transportar para o ano de 1987, o ano da minha iniciação na cannabis sativa, mais conhecida como maconha. Esse meu primeiro contato com as drogas (diamba não é droga, é erva!) foi num dia 7 de setembro, em 1987.

1987...garoava em sampa desde cedo e só alguns gatos pingados se arriscavam sair pelas ruas do Parque das Árvores, o bairro onde eu morava. Depois do almoço chamei meu irmão e descemos do Edifício Tulipa, onde morávamos na quadra 14, e fomos à quadra vizinha, a 13, visitar o Augusto e o Fonfo. O primeiro não estava, o segundo desceu do prédio onde morava, mas antes ele ligou para o Donizete, um amigo com quem estudei o segundo e o terceiro ano do colegial técnico de eletrônica no colégio católico Jesus Maria José. Donizete chegou 20 minutos depois vindo da Vila São José, onde morava.

Nos reunimos no canteiro de plantas que dividia as pistas da rua em frente às quadras 12, 13 e 14, bem em frente desta, em torno do fusca do Donizete. Conosco ouvia The dark Side of the Moon do Pink Foyd no toca-fitas do carro do Doni, o "Inquilino", era assim que nós chamávamos um novo morador da quadra onde eu morava, que na sua casa tinha um fabricante de batidas, o pai dele. Ele estava ali enfrentando conosco uma garoa que insistia em cair. Para amenizar a determinada água que caía naquele dia de feriado, ele nos trouxe uma batida de amendoim dentro de um grande litro de Coca-Cola. A batida não demorou muito pra acabar e ele foi buscar mais um litro e quando voltou Fonfo sacou do bolso um bem elaborado baseado, um bru-bru-bru, como Augusto apelidou a cannabis sativa. Ela foi acessa e o Inquilino deu um pulo de alegria:

- "Agora o negócio vai ficar bom!" E foi logo tomando do Fonfo para dar uma tragada...

- "Eu não quero...", defendeu-se Donizete.

Meu irmão ficou calado tomando um pouco da batida. Meu irmão sempre foi o cara certinho da família!

"Eu vou provar, Fonfo", disse eu.

"Bem vindo ao clube, Fabinho." 

Fabinho era como eu era conhecido no Parque das Árvores.

Recebi o bru-bru-bru do Fonfo e traguei como quem fumava um cigarro comum.

"Não é assim, não, Fabinho. tem que prender a fumaça na boca e deixar ela subir pra cabeça", explicou Fonfo e tentei de novo com algumas tossidas. Na terceira tentativa "viajei"... confesso que não vi discos voadores!…

No dia seguinte eu, Fonfo, Augusto e Belo (os anti-heróis da zona sul*) fomos pra linha do trem dar um tapa na macaca. A linha do trem fica somente uns 500 metros distante da entrada da quadra 14. Ela fica num morro que divide o Parque das Árvores do bairro Grajaú. Dali de cima, onde Fonfo mais uma vez sacou um "cigarrim", notei que a partir daquele momento eu via o mundo de uma outra forma!

*Augusto, Fabinho, Fonfo e Belo (Os Anti-Heróis da Zona Sul) é o título de um livro que tenho iniciado e que é ambientado nos anos 80, em pleno boom do rock nacional, protoganizado por 4 jovens da periferia paulistana.


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