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Fábio Kerouac

Um poeta caxiense em Hamburgo

Na Psiquiatria Alemã


No dia 20 de julho de 2018 eu entrei numa clínica, a Schön Klinik Hamburg Eilbeck, e saí de lá no dia 9 de agosto. Ali fui tratar do meu problema com o álcool, que me acompanhava há mais de 30 anos. Na Schön Klinik eu convivi não só com pessoas viciadas em álcool, mas também com pessoas viciadas em drogas, já que ali também ajuda pessoas a sairem desse problema. O meu dia-a-dia ali, com essas pessoas, participando de terapias, de aconselhamentos e outros momentos estão registrados no meu próximo trabalho, cujo nome provisório é "Um Poeta na Psiquiatria Alemã". Ele está no presente momento sendo revisado pela escritora caxiense e moradora da Ilha do Amor (São Luís), Heloísa Sousa, autora de "Laura".

Abaixo apresento um trecho do capítulo Dia 11:

O meu relógio não falhava! Ele não me deixava passar das 6h da manhã, ele não permitia que eu dormisse mais do que 6 horas. E eu tinha acordado cedo como sempre, às 5h17 e às 5h43 deixei o quarto em direção ao refeitório. O primeiro que vi chegar ali foi o Ferdinand, que chegou às 5h48. Ele sentou, preparou um cigarro, depois foi buscar um café e saiu.

Às 5h54 entrou Catarina, deu bom dia e encheu uma xícara de café e saiu. Saiu em direção ao elevador. Julia apareceu 4 minutos depois com seu roupão de banho e com a cara amassada. Brigitte entrou às 5h59, pegou um café e sentou no sofá. Eu via naquele momento um show do Greta Van Fleet no youtube, num show gravado no HD Radio Sound Space.

"Como as coisas mudam, não? Ouvindo rock`n`roll tomando café e não cerveja!", pensei com meus botões.

Quando o relógio marcou 6h12 entrou Achim, ele pegou um café e saiu. Seis minutos depois entrou "A Mulher Que Lê e Fuma", esta pegou seu café e saiu em direção ao… elevador. Gunda apareceu às 6h22 no momento em que eu decidi descer, não sem antes de ir ao meu quarto, deixar meu computador ali e dar uma mijada. Passei novamente no refeitório, preparei um chá de hortelã e desci pelas escadas.

Lá embaixo vi Gunda, Ferdinand e "A Mulher Que Lê e Fuma" na cabine destinada a eles, os fumantes. Achim fumava e mexia no seu celular no banco ao lado da cabine. Às 6h33 apareceu Marcos na entrada do prédio e nesse momento Gunda se levantou e foi em direção contrária ao Marcos, que foi fazer companhia a Achim com um cigarro entre os dedos. A queniana surgiu às 6h41 no momento em que eu resolvi subir e nas escadas eu encontrei Michel às 6h43. Fui ao refeitório e ali vi Vanessa enchendo um copo descartável de café para descer e fumar. Preparei mais um chá pra levar para a sessão de acupuntura e ao sair do refeitório vi no corredor "A Mulher de Muletas" com pressa. Com certeza ela iria fumar!

E foi por causa do cigarro que Marcos chegou um pouco atrasado para a sessão de acupuntura, mas ainda a tempo de ter suas orelhas perfuradas, pois os dois cuidadores ali presentes ainda não tinham dado conta do trabalho com os pacientes que chegaram antes dele. A música andina ditava o nosso ritmo de concentração cortada com a entrada dele, mas não causou o furor que causou Julia que deixou cair algumas agulhas no chão quando chegou a sua vez de ser atendida por uma cuidadora.

Julia, a louca, vou chamar ela assim, gosta de ter as mãos perfuradas e a testa, por causa de dores. "Mas que dores ela sente?", perguntei-me e notei que ali faltava Sofia e Andreas, mas tinha a presença de Michel, o novo paciente que tinha chegado no dia anterior. No dia anterior também chegou uma jovem de cabelo verde. Magra e com cara de criança, parecendo ter 15 aninhos. Qual seria o vício dela? E por que ela não estava na acupuntura?

Estas perguntas me acompanharam até o café-da-manhã, mas antes de ir para a primeira refeição do dia fui tomar um pouco de sol e ali embaixo fiquei cerca de 10 minutos, o mesmo tempo que me deixei ficar no refeitório, depois das 8h, quando terminou o café matinal. Fiquei ali para colocar as cadeiras em cima da mesa para facilitar o trabalho da mulher da limpeza. Mas eu não estava sozinho. Julia tomava seu café despreocupada na companhia de Anette. Bem perto delas Michel tomava café observando as duas pacientes. Eu terminei naquele momento um origami que eu tinha iniciado na sessão de acupuntura, era uma íris, que eu dei pra Julia quando ela levantou.

"Oh, mas que lindo!", disse ela. "É pra mim?", perguntou.
"Sim", respondi.
"Obrigado!".
"De nada!".


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