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Fábio Kerouac

Um poeta caxiense em Hamburgo

Maya Kaffeerösterei


(Trecho do livro CAFÉ, ainda em produção)

"Será que é um Café mexicano?", me perguntei ao avistar de longe a placa do estabelecimento. Eufórico, eu nem deixei as ladys first passarem, abri a porta e fiquei ali parado, junto a ela paralisado pelo cheiro forte que exalava no recinto. O meu narigão agradeceu o agradável aroma do café que ali mesmo é tostado. 
 
"Vou ver o que eles têm", disse minha esposa e me deixou ali observando ao longe uma sala com divisórias de vidros onde se podia ver as torradeiras de café e um homem com avental verde, que os colocava na máquina. 
 
 
Dentro do Café vi que apenas duas mesas estavam ocupadas, uma com duas jovens e uma senhora sexagenária  e uma outra, esta à minha direita, com um senhor que fuçava no seu celular. À minha frente, bem na minha frente, vi poltronas com seus encostos forrados com estopas do Cafés do Brasil. E não eram poucas, eram no mínimo 10, um quarto talvez dos lugares disponíveis no Maya Café. Mas não foi em uma delas que sentei, pois diante do balcão de atendimento não tinha uma igual, mas resolvi ficar ali mesmo porque eu poderia ver as opções de cafés do local. Quando sentei foi que eu finalmente ouvi que tipo de música rolava no ambiente. Eram "enlatados/dos U.S.A, de nove às seis" (Geração Coca-Cola -  Legião Urbana) tocando num tom acima do normal para um Café, mas ao sentar eu pude entender o porquê. É que as atendentes eram jovens, 3 lindas mädchen (garotas em alemão) por sinal, e a música que rolava (acho que cheguei a ouvir Beyoncé!) revelava o espírito jovem e ainda descompromissado delas.
 
 
"O que você vai querer, Gonchan?", perguntou minha esposa.
 
Olhei, olhei e fiquei indeciso com a grande quantidade de opções nas tabelas de preços que decoravam a parede atrás das 3 lindas garotas. 
 
"Eu vou querer o Housecoffee!"
 
"Suave ou forte?", perguntou uma das lindas atendentes.
 
"Kräftig (forte)", respondi. 
 
Minha esposa pagou 2 euros e 50 centavos pelo meu café, vi o preço na parede, e o trouxe pra mim colocando-o na pequena mesa onde onde pus o meu celular e o livro que eu ia ler ali. Ela sentou numa pequena mesa ao lado com o seu capuccino e um croissant. 
 
 
"Você quer comer alguma coisa?", perguntou ela.
 
Dei um gole no meu café, levantei a cabeça e encarei os bolos que estavam na minha frente, a apenas três passos me provocando. Os desafiantes eram bolo de chocolate, Käsekuchen, Bratapfel, Banana-Nut Bread, Kanadischen Birnen, Himbeer-Schnitte…ah, a lista é saborosa e grande.
 
"Não, eu não quero comer!", respondi e abri o livro que eu lia na página 75 e vi que chegaram dois rapazes e pediram latte macchiato e capuccino, pegaram o pedido e foram sentar em um dos sofás tendo os Cafés do Brasil como encosto.
 
 
De repente houve uma invasão no Maya Café. Entrou um quarentão com um violão nas costas e pediu um café zu mitnehmen (para levar). Logo em seguida um grupo formado por quatro pessoas, incluindo uma bela morena, todos vestidos de preto (será que eram uma banda de rock??), pediram café também para levar.
 
Dei o terceiro gole no meu café e percebi que não era lá essas coisas! Comentei como minha esposa dizendo ainda que me lembrava o café Tall do Starbucks que eu não tomo há mais de dois anos. O café ali era grande, não sei como é ainda, mas não agradava o meu paladar, que não é tão exigente, não! Como é que pode ser exigente uma pessoa que bebia cachaça com torresmo?
 
"Eu vou querer o café Hammerbrooklin", disse um cliente.
 
"Quantos grama?", perguntou uma das garotas.
 
"Eu vou querer um 1 quilo, pois eu gostei demais da mistura que vocês fazem neste café", confessou o comprador.
 
"Pois nós ficamos felizes em saber disso", confessou a vendedora, enquanto uma outra atendia uma mulher que havia chegado e pedido 250 gramas de café queniano.
 
"É 5,90 euros", ouvi desde a minha mesa e foi então que percebi a tabela de preços, também na parede dos cafés tostados vendidos em pacotes. Vi nesta tabela que café orgânico mexicano de 250 gramas custava 5,20 euros, já o peruano de 1 quilo custava 22 euros e 10 centavos, enquanto o colombiano também de 1 quilo custava apenas 18 euros e 10 centavos. Já o do Brasil, sil, sil, sil… custava 7,40 o de 250g, 14 euros e 40 centavos o de 500 gramas e de 1 quilo custava 28 euros e 20 centavos. Ou seja, o café brasileiro era o mais caro no pedaço. Se é o melhor eu não sei, só sei que é o mais famoso. E olha que por aqui eles usam e abusam do nome Brasil e o que vem dali. Pois vejam só: a minha esposa levantou dizendo que ia ao banheiro e quando voltou ela trouxe um cartão com os dizeres Brasil Camocim (Handwerkskunst aus der MAYA).
 
"Camocim é no Ceará", disse eu pra minha esposa, mas para minha surpresa o tal Camocim do cartão era o nome de uma fazenda no Estado do Espírito Santo, a Camocim Organics, ou Fazenda Camocim. Lá eles plantam café orgânico desde os anos 60 quando nem se falava nisso no mundo. O seu fundador, segundo relata no cartão, sempre teve paixão em manter o ecossistema saudável. 
 
Eu lia mais informações acerca da Fazenda Camocim quando notei que o som do ambiente havia mudado, tocando uma sequência de 5 músicas natalinas. Como era dezembro o velho barbudo (ou o velho baitola como diz o meu tio e poeta Elio Ferreira) não podia deixar de dar o ar da graça no Maya Café. Ele estava num cantinho segurando uma placa que dizia Fröhe Weinachten chamando a atenção para alguns pacotes de café preparados nas cores vermelho e branco para serem comprados e presenteados. 
 
"O velhinho não perde uma oportunidade!", pensei e fui ao banheiro. Quando voltei a minha esposa tinha comprado 250 gramas de café expresso. Eu pedi a ela um tempinho pra fazer dois origamis, dois kranichen, e os entreguei a duas atendentes, uma já tinha ido embora, e desejei Feliz Natal.
 
"Olha que lindo!", comentou uma dela.
 
"Obrigado", agradeceu a outra enquanto nós saíamos.
 


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