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Fábio Kerouac

Um poeta caxiense em Hamburgo

Café Paris


Eu saí de Paris, mas Paris não saiu de mim… parece pretensão dizer isso, mas não é, talvez seja um misto de nostalgie et perte (nostalgia e perda), de algo que nunca me pertenceu, mas que estava entre o estômago e a garganta. Foi com esta sensação que eu fui ao Café Paris, dois dias depois de eu ter chegado da Cidade Luz.

Fui até lá para não sair do clima em que fui envolvido estando na cidade de Edith Piaf, Emma Watson (ela não nasceu na Inglaterra e sim em Paris!), Baudelaire e Émile Zola. Como muitos, eu saí de lá mais uma vez enfeitiçado! Até mais encantado por ver por ali africanos e descendentes de africanos em grande quantidade, talvez numa proporção de 4/10 em relação aos franceses. Eles estavam no metrô, na Champs Élyssées, na Gare du Nord, em Saint Martin e em alguns Cafés, mesmo que em condições ainda de subempregados, mas deu pra notar e sentir que a invasão africana está em curso ali!

No Café Paris sentei num banco encostado ao balcão e pensando nesta "invasão" pedi um chá de menthe (Pfefferminze em alemão), naquele momento eu era o único ali, somente 5 minutos depois chegou alguém que sentou dois bancos à minha direita, não sem antes jogar uma revista Stern com Lothar Matthäus na capa sobre o balcão, mas antes de folheá-la ele deu uma fuçada no seu celular, sendo interrompido pelo bartender que lhe perguntou o que queria para tomar. Foi o mesmo bartender que dois minutos antes me pediu para esperar um pouco, justificando que ele tinha chegado há pouco tempo e precisava preparar a máquina de café, a qual estava a poucos palmos na minha frente, à direita.

 

Um casal chegou em seguida e sentou à minha esquerda com um banco vazio entre nós, ela sentou de costas pra mim e de frente pra sua companhia, ele pediu vinho branco pros dois, ela pediu ostras. Um outro bartender anotou os pedidos, mas foi o bartenders anterior que trouxe os pedidos alguns minutos depois.

Quando meu chá de menta chegou acompanhado de uma pequena barra de chocolate, ambos em embalagens com o logotipo Café Paris, me virei em direção à porta de entrada e vi que 5 pessoas esperam em pé alguma mesa vazia para sentarem e não no balcão ainda com lugares vazios. Vi um casal de idosos elegantemente vestidos e três pessoas por volta dos seus 25 anos, duas garotas e um jovem, as garotas eu reconheci, uma linda e esbelta loira e uma pequena garota com pele cor de jambo com cabelos curtos, elas formam um casal de lésbicas que trabalham na casa de idosos Alsterdomizil, o meu antigo empregador. Nos encaramos, mas não nos cumprimentamos.

 

O meu relógio marcava 17h26 quando vi que o homem da revista Stern pagou e saiu, tendo o seu lugar ocupado por um sessentão, sendo que a sua esposa sentou ao meu lado, esta pediu vinho rosé para os dois. Quase ao mesmo instante mais um casal se aproxima do balcão e fica diante da máquina de café e sem sentarem pede vinho branco. Pude ouvir o pedido desde o meu lugar quando eu já saboreava o meu chá. Em uma das pausas do chá pude ver que o casal de lésbicas se beijavam e o amigo batia uma foto, registrando o momento de carinho e amor entre as duas numa mesa no fundo do Café. Virei para o meu chá, dei um gole e decidi pedir a conta. Deu 3,30 euros, dei uma nota de 10 euros e disse ao bartender que ele podia tirar 1 euro como pourboire (gorjeta). Dois minutos depois ele trouxe o meu troco e tomei um último gole no momento em que duas orientais sentavam ao meu lado esquerdo, onde estava o casal das ostras. Quando levantei do banco para ir embora notei que elas eram japonesas, já que ouvi elas falarem algumas palavras que conheço: "Kore wa oishii desu" (este é gostoso)!

 


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