Não chores, meu filho; Não chores, que a vida É luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos Só pode exaltar. (Canção do Tamoio - Gonçalves Dias)
O tamoio representado pelo poeta caxiense Gonçalves Dias pode simbolicamente representar também a população feminina que, ao longo de sua história, vem lutando para garantir a sua cidadania, luta incessante e que parece não ter fim, mas, como diz o poeta, “[...] a vida é combate, que os fracos abate, que os fortes, os bravos só pode exaltar [...]”.
Sobre as lutas da população feminina, os registros das sociedades ocidentais nos mostram que a mulher foi deixada à margem da sociedade, assim como sua existência e contribuição, nas relações sociais, políticas, econômicas e culturais. Nessa lógica, as mulheres quase sempre foram invisibilizadas em decorrência de uma cultura heteropatriarcalista. Nas palavras de Perrot (2005, p. 468), “[...] tão longe quanto se possa olhar no horizonte da história, vê-se apenas a dominação masculina [...]”.
É importante destacar que, apesar do lugar social a que foram as mulheres submetidas (ou, talvez, em razão disto), coube, principalmente, à mulher desnaturalizar e contestar a ordem estabelecida imposta pela sociedade, por meio de sua organização em movimentos de mulheres e feministas que passaram a defender os direitos sociopolíticos da população feminina.
O percurso realizado pelas mulheres, em busca de visibilidade e de identidade, não representou um processo linear. Assim, na tentativa de descortinar a história das mulheres enquanto grupo social que, ao longo de sua existência, sofreram e ainda sofrem com as mais perversas formas discriminatórias e de violências, que marginalizaram gerações, houve posturas variadas e, às vezes, até conflituosas. Afirmar-se então, que as conquistas das mulheres foram fruto de um longo processo reivindicatório do movimento feminista que, por décadas a fio, viveram e por que não dizer ainda vivem esse embate com o Estado em busca da conquista de direitos que nos são negados.
Compreende-se também, que as mulheres, de modo geral, sejam negras, brancas, deficientes, lésbicas ou não, sofrem com variados tipos de situações que dificultam sua existência enquanto mulheres cidadãs que possuem os mesmos direitos que outros sujeitos sociais.
Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade em que a igualdade entre mulheres e homens apenas está colocada juridicamente, mas, no cotidiano, existe um longo caminho a ser percorrido para que sejam ultrapassadas as desigualdades que colocam as mulheres em posição de inferioridade. Infelizmente, a sociedade comunga de uma visão androcêntrica do mundo, onde prevalece, em suas relações sociais, a naturalização da invisibilidade feminina. Adiciona-se a essa visão distorcida o machismo, o patriarcalismo e a discriminação socioeconômica, política e cultural contra a mulher.
A Constituição Federal do Brasil de 1988, em seu artigo 5º, assegura: “Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]”. Tais direitos, infelizmente, ainda não são de fato para todas e todos, na prática, logo existe uma grande parcela da população brasileira excluída, entre estas, às mulheres.
Os descompassos, contudo, não obscurecem os avanços em termos socioeconômicos, político e jurídicos em nossa sociedade, sobretudo nas sociedades ocidentais. Reafirma-se, portanto, que as normas, as leis, tanto no mundo, quanto no Brasil, embora tenham avançado para dar contas das demandas sociais dos grupos minoritários, ainda não conseguiram reverter o quadro de desigualdade.
Em razão desse contexto de desigualdades, faz-se necessário ouvir o eco das vozes femininas que retumbaram na história brasileira, em busca da tão sonhada “libertação” das amarras impostas pela sociedade, tanto no espaço privado quanto no espaço público. As vozes dessas mulheres podem nitidamente ser ouvidas e seu clamor sentido ao visitarmos a história das mulheres e suas várias formas de organização.
A luta necessita continuar no combate a desigualdade de gênero que deve ser vista e encarada como um problema de todas e todos que acreditam e lutam por direitos humanos.
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