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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Nem a pandemia desarma a política de Caxias


Nas últimas horas, em meio às apreensões das autoridades de saúde, e de empresários, comerciantes e a população em geral, que sofrem os efeitos da estratégia de isolamento social estabelecida por força de decreto do prefeito Fábio Gentil (Republicanos), por conta da possibilidade da gripe do novo coronavírus atingir Caxias, a atividade da classe política local, que batalha na campanha eleitoral das próximas eleições de 4 de outubro, nunca esteve tão frenética quanto nesse momento de fechamento do prazo da janela partidária (fecha dia 04 de abril), oportunidade concedida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que os postulantes adequassem suas candidaturas às agremiações que julgassem mais convenientes à disputa do pleito.

Se havia no ar um clima de beligerância mais ou menos suportável entre os litigantes da campanha, a coisa desandou de vez nos últimos dias, e evoluiu para um pandemônio político como jamais se viu aqui nas plagas de Caxias. Em pouco espaço de tempo, com a reengenharia da melhor situação para alcançar resultados, siglas partidárias trocaram de mãos, traições destroçaram candidaturas e personalidades que andavam escondidas dos campos de batalha da política resurgiram do limbo a que foram jogadas por anos a fio.

Em lance espetacular, talvez inexplicável para o leigo, o grupo político Soares/Coutinho, que postula a Prefeitura de Caxias com a indicação do deputado estadual Adelmo Soares (PCdoB), para o cargo de prefeito, e da vereadora Thaís Coutinho, para vice, conquistou nada menos do que o PSL local, até então sob o comando do advogado Luís Carlos Moura, para garantir mais espaço na mídia para o momento da propaganda eleitoral, em busca de reduzir deficiência nesse campo, quando tiver que se bater de frente contra a reeleição do prefeito Fábio Gentil (Republicanos).

Para Luís Carlos Moura, partindo de São Luís, a traição do diretório estadual do PSL às suas pretensões de disputar a prefeitura foi um verdadeiro desastre. Tanto que, no espaço de dois dias, abandonando o PSL, primeiro ele se mudou para o PSDB que estava nas mãos da família Martins e foi para a família Marinho, e depois foi para o PMN, onde, modificando suas pretensões, já disse que não mais concorrerá na eleição majoritária, mas em busca de uma vaga de vereador. Seu candidato a vice, o empresário Pedro Barros, conseguiu vaga na chapa da candidatura do MDB caxiense, que tem à frente o também empresário César Sabá. O estrago nas antigas hostes do PSL foi tão grande que até o professor Arimatéa, um dos mais fiéis fundadores do partido na cidade, também mudou sua bagagem para o MDB.
A investida do deputado Adelmo sobre o PSL, na verdade, não se deu por capricho ou coisa que o valha, mas por pura questão da sobrevivência da sua chapa, depois que o deputado estadual Rafael Leitoa, de Timon, entregou o PSB caxiense para o controle do deputado federal Paulo Marinho Júnior, que comanda o Partido Liberal no município.

O prefeito Fábio Gentil, que controla o partido Republicanos, já denominado de “Partidão da Morte”, concentra em torno de si praticamente todos os vereadores com mandato na Câmara de Caxias, assim como suplentes, o que faz da agremiação o partido com mais chances de eleger vereadores para a próxima bancada do parlamento municipal em 2021. A premissa faz sentido porque seu grupo concentra os quadros que tiveram mais votos no último pleito, haja vista que muitos administram bases eleitorais fiéis que lhes permitem entrar com vantagem no pleito. Mas lá, com o novo critério eleitoral vigente, entrarão na Câmara somente os mais votados do partido.

Nesse frenesi de mudanças, impressiona a desenvoltura da família Marinho em ressurgir das cinzas, como se fora a fênix da mitologia grega (o pássaro que, quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, ressurgia das próprias cinzas), à frente de várias siglas partidárias. A atual ficha do PSDB caxiense, por exemplo, que estava em poder dos Martins, agora é capitaneada pelo ex-deputado federal e ex-prefeito Paulo Celso Fonseca Marinho, tem Letícia Mabel Pinheiro da Silva, a esposa do prefeito Fábio Gentil, na secretaria, Francisco de Assis Oliveira Mesquita, na tesouraria, e Manoel Cordeiro Ferreira dos Santos e o empresário Agostinho de Jesus Maciel e Silva Neto, como membros. Paulo Marinho, que estava afastado da política, agora mostra disposição para conseguir o mandato de vereador que nunca teve e, de quebra, se possível, trazer consigo outros nomes amigos para a bancada da futura câmara.

Desprezando o famigerado quociente eleitoral que definirá a eleição, votação a partir da qual o partido começará a colocar os seus quadros mais votados (na última ele fechou em 4.050 votos), há vereadores que por iniciativa própria decidiram não assinar com o Republicanos.

Na ficha do PL, por exemplo, dirigido pela ex-vereadora Benvinda Almeida Machado Pereira (Clinison), e que tem na vice-presidência Teódulo Damasceno Araújo (Secretaria de Saúde), e Francisco de Sales Sousa Milanez (assessor do deputdo Paulinho), na tesouraria, estão os atuais vereadores José Magno de Sousa Magalhães (ex-PSD) e Luís Carlos Ximenes da Cunha (ex-MDB). Ao lado dessa turma, estão incluídas as candidaturas alternativas, muitas das quais neófitas, defensoras de um modo de fazer política fora dos moldes tradicionais praticado no Republicanos, onde prevalece a força da atividade estruturada economicamente.

Também correndo por fora, mas voltando às suas origens, o vereador Neto do Sindicato deixou o PCdoB do governador Flávio Dino e retornou à hostes do Partido dos Trabalhadores (PT). Vitorioso no último embate sindical, o vereador acredita na sua capacidade e que terá forças mais uma vez para superar os companheiros que, ansiosos por adentrar na câmara, querem barrar as pretensões de quem já detém mandato naquela casa, uma briga que nos parece doméstica e de fundo de quintal.
Olhando para o cenário posto, há quem pense que o prefeito Cabeludo tramou contra seus ex-colegas de parlamento, através de uma pretensa indução de que todos os atuais detentores de mandato sejam figuras com alto índice de rejeição e que por isso deveriam ficar reunidas dentro do partido no qual concorrerá à sua reeleição, uma vez que suas votações não podem ser desprezadas.

Contudo, há margem de raciocínio para acreditar-se que nos últimos três anos ele tem sido alvo de uma pressão intensa por parte dos seus apoiadores mais ansiosos de entrar para a política. Na lógica desse amigos de primeira hora, a lógica é assumir no lugar dos atuais vereadores, pois outro momento não será mais apropriado.

Então, agindo como vem fazendo, isto é, procurando aglutinar em torno de si mesmo as forças mais divergentes, ele vai conseguindo se cercar de um exército praticamente imbatível para as próximas eleições que, por causa da pandemia do novo coronavírus, conforme sinalização do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), talvez nem ocorra em 4 de outubro, mas em data a ser definida no próximo mês de dezembro, descartada a hipótese de uma eventual prorrogação dos atuais mandatos.

O última mexida do prefeito no tabuleiro de xadrez da política caxiense foi agregar a ex-prefeita e ex-deputada federal Márcia Marinho à sua equipe de governo, nomeando-a Secretária Municipal de Políticas para as Mulheres. O grupo Gentil/Marinho, então, parece mais do que consolidado para os futuros embates na vida política do município, e contra quem quer que seja.


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