Recebendo total influência da arquitetura colonial portuguesa, as moradas dos senhores de engenho na área rural seguia o padrão casa grande e senzala. A casa grande para a família abastada e a senzala que servia de morada para os escravos.
Na parte urbana, nos seus primórdios, a cidade servia apenas para aglutinar comerciantes que viam atrás de mercadorias e para despachar toda mercadoria produzida em Caxias. Foi só na metade do século XIX que a parte urbana veio a ter um papel importante, servindo de morada as famílias mais ricas. E com isso, os escravos passaram do trabalho do campo para a cidade.
Muitas casas da época passaram a ter uma espécie de porão, não necessariamente se criando um pavimento abaixo do térreo. É um estilo conhecido como “Casa de porão alto”. Em São Luís existem vários exemplos de casas com “dois pavimentos e porão” e até três. Esse porão servia para a morada dos escravos. Uma vez que os imóveis na área urbana não poderiam ter as mesmas características rurais como grandes áreas, os escravos passaram a morar debaixo do térreo. Em muitos casos, os escravos tinham de dividir esse espaço com mercadorias e animais do seu senhor.
O escravo na arquitetura em Caxias
No fim do século XVIII, muitas igrejas não aceitavam negros em seus templos, como a igreja de São Benedito (que aliás era negro). Os escravos católicos se agrupavam em irmandades ligadas a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. E em Caxias também assim fizeram os negros devotos. Em 1775 o templo já tinha suas paredes erguidas faltando apenas o telhado. Em 1865 a igreja foi reformada e adicionado o frontispício na fachada, cobertura de telha, altar-mor no interior e laterais com a feição que apresenta hoje. Conta-se que em frente a esta igreja, símbolo religioso da cidade e dos negros, existia um pelourinho, local que se castigava os escravos rebeldes. Mas muitos historiadores questionam se esse era realmente o local certo. Alguns afirmam que em frente a Igreja do Rosário ficava um estandarte da monarquia que seria confundido com o pelourinho. E que o pelourinho ficava em frente a casa de Câmara e Cadeia, onde hoje é a Praça do Panteon.
Outro ícone urbano do século XIX na cidade era a pavimentação em torno do largo de São Benedito, atual praça Vespasiano Ramos. As imensas pedras irregulares, de cor rosa que brilhavam com o sol da tarde em Caxias, foram assentadas com trabalho escravo. Infelizmente as pedras foram cobertas com asfalto na década de 1990 e recentemente, foram retiradas pela troca de canos que ocorrem em todo o centro. Esse trabalho não foi acompanhado pelo Patrimônio Histórico ou algum arqueólogo, e não se sabe se esse tesouro da arquitetura colonial maranhense se perdeu para sempre.
Como os equipamentos urbanos na época eram precários, esse serviço era feito pelo escravo. O trabalho braçal do campo mudou-se para o trabalho braçal da cidade. As casas não tinham banheiros, esgoto, não tinham nem abastecimento de água. Os dejetos humanos dos senhores eram levados até o destino final, geralmente um rio pelos escravos. A agua para as casas, vinham de baldes carregados nos ombros direto dos rios ou córregos.
Muitos arquitetos contemporâneos defendem que a arquitetura brasileira também mudou com a abolição da escravatura em 1888. A família patriarcal que dependia de escravos, mudou de habito. Os imensos cômodos ficaram vazios, o programa de necessidades dessas famílias tiveram de ser alterados. Outros ainda afirmam que o ultimo resquício da escravidão ainda não foi apagado da burguesia brasileira, que é o quarto da empregada doméstica. Existente desde o período colonial, esse quarto servia ao garoto de recados e as babás. Na falta de uma política pública de relocação do negro no mercado de trabalho, muitos trabalhavam por preços muito baixos que não se diferenciavam da escravidão. Esse quadro não mudou muito ao longo do tempo, onde muitas pessoas por baixos salários, morada e comida fez com que o quarto para empregados sempre estivesse presente nos projetos de arquitetura.
O negro sempre teve papel importante na construção da história de Caxias. Seja social, como na revolta da Balaiada contra a opressão dos poderosos, seja cultural com suas danças folclores e seja na arquitetura, responsáveis pelos alicerces que se conhece hoje como o centro histórico.
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