Ser uma cidade histórica é ter valor. É guardar um conjunto de construções que, somadas a sua história e cultura, elevam o nível de consciência coletiva de sua sociedade. Dessa forma, a preservação da memória se torna um pilar das cidades do século XXI, que tem como objetivo a integração da cidade com seu cidadão, em busca de uma qualidade de vida dentro dela. Quando esta integração não é feita de forma correta ou então ela não existe, a sociedade se perde entre ela própria renegando suas origens e o presente, dificultando a construção de um futuro adequado as novas gerações.
Caxias está nesse patamar de desconhecimento dela mesma quando o assunto é seu passado.
Em toda a cidade do Brasil, se faz necessário apresentar projeto para a devida apreciação do Poder Público. Dessa forma, busca-se ver se ela está dentro das normas arquitetônicas garantindo sua segurança, se enquadra dentro da legislação municipal obedecendo espaçamentos mínimos, etc... Feito isso, é expedido o alvará de demolição e construção.
Em casos de cidades com centros históricos, essa verificação se faz mais necessária ainda, pois o imóvel pode possuir elementos arquitetônicos que devem ser preservados ou então que a sua volumetria não interfira na paisagem local. Tudo deve ser minimamente planejado e estudado para se evitar problemas. E não é isso que acontece em Caxias.
Uma prática comum na cidade e que não dá mais para tolerar são obras sem o devido conhecimento da Prefeitura Municipal. E é justamente esse tipo de prática que vem transformando, de forma danosa, o centro da cidade. Obras sem o material e medidas adequadas em calçadas, número de pavimentos inadequados, volumetria do imóvel, engenho publicitário exagerado, e isso sem falar dos ambientes internos. Tudo vem sendo erguido sem nenhum critério levando a cidade a se desenvolver sem planejamento e harmonia.
Se as normas tivessem sido seguidas, se o órgão municipal da Secretaria de Obras, Urbanismo e Patrimônio Histórico tivessem sido consultadas, mais um casarão caxiense não teria sido demolido.
O casarão em questão é datado do século XIX e tinha diversos elementos arquitetônicos de nosso acervo histórico cultural, como a sua platibanda eclética com linhas art nouveau e art decó, desenhadas em um rico período da cidade. E o imóvel ainda tinha um detalhe importantíssimo que o diferenciava e destacava dos demais: o arco ogival. Esse elemento arquitetônico surgiu pela metade do século XIX e tinha como Caxias um centro de influência que passou para as demais cidades da região, como Maranhão e Piauí, conforma atesta o arquiteto Luís Saias que visitou Caxias por volta da década de 1930. Muitos imóveis da cidade tinham suas portas e janelas em arco ogival e esse foi o único exemplar restante em Caxias. O único até mês passado quando foi derrubado.
O que deveria ser mais um orgulho para a cidade, esse elemento ímpar em nossa história e cultura, vai recebendo esse tratamento, jogado ao desconhecimento.
A associação Amigos do Patrimônio Caxiense, vigilante e preocupada nessas questões, solicitou o devido embargo da obra para que sejam feitos os documentos necessários para a sua legalização. Com isso, se faz necessária a reconstrução da fachada original, devolvendo a cidade e a sociedade o que lhe foi tomado.
Mesmo com sua reconstrução é o original que se perde. Precisamos rediscutir a nossa cidade.
PUBLICIDADE