Caxias é terra de poetas, e dos bons. Que o diga Gonçalves Dias, Vespasiano Ramos, Teófilo Dias e Coelho Neto. Esses os mais conhecidos e difundidos pela literatura nacional e maranhense. Outros são conhecidos como ‘poetas locais’, como Afonso Cunha, Benedito Pires, Veras de Holanda, Déo Silva, Nereu Bittencort... e, diga-se de passagem, alguns desses só são conhecidos por serem nomes de logradouros públicos.
Mas muitos outros poetas desconhecidos até mesmo por nós caxienses, semearam seus versos por gerações, animando festas, saraus ou fomentando o que chamamos hoje de cultura na cidade. Muitos desses poetas não deixaram escritos publicados e outros com registros publicados em jornais.
O Gazeta Caxiense, publicado no final do século XIX, foi um desses jornais que contribuíram para a erudição de Caxias no campo das letras. Na edição nº 121, de 27 de março de 1894, foi publicado o poema ‘Sonhando’, assinado por Almir.
Sem sobrenome, Almir se perdeu no tempo. Pode ser qualquer Almir que residiu ou passou pela cidade. Não se sabe.
Almir viveu, conviveu, amou. Retornou ao pó, conforme as escrituras. Almir permanece vivo agora nas letras.
Sonhando
“Adeus, dissestes a falar baixinho.
Adeus, eu disse a estreitar-te a mão,
Adeus, passando, repetia a brisa.
Adeus, minh’alma suspirar então.
Adeus, distante, eu dizer ouvia
Em bando, as aves a cantar, saudosas
Adeus no prado, a voar diziam
As borboletas, osculando as rosas.
Adeus, diziam a chorar as fontes.
Adeus, nos bosques o sabiá cantava,
Adeus, na várzea, repetia a róla
Adeus, minh’alma que por ti chorava
Adeus, dizia o cristalino pranto
Que orvalhava tua mimosa face
Adeus, beijando-te eu também dizia
No mais estreito, no mais doce enlace
Adeus, dizia a natureza inteira
Estrelas, lua, repetiam adeus
Adeus, dizia a sonhar ainda
Adeus ó anjo dos sonhos meus!”
Almir
20-03-94
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