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Adios, Maradona!


O corpo humano foi uma criação tão perfeita que atraiu e seduziu até mesmo os deuses que desciam do Olimpo em direção a morada dos mortais para manter relações amorosas. Na mitologia grega dava-se o nome do filho dessa união de semideus. Esse personagem tinha uma força incomum, mas com sua biologia humana, não tinha a imortalidade daqueles seres superiores. Os semideuses também eram venerados como heróis pelos outros humanos devido a atos de verdadeiras proezas em favor de comunidades que serviam de exemplo de bravura aos demais mortais.

Esses seres sobre-humanos acabaram sendo esquecidos com o fim dos impérios Greco-Romanos e a ascensão do judaísmo, cristianismo e o islamismo, religiões que adotaram o monoteísmo, ou seja, a adoração a um Ser Supremo único. 

Os deuses parecem terem se recolhido e entrado em um sono profundo por milênios até que o homem trouxe de volta a prática do esporte olímpico e ainda, o surgimento de outras atividades no século XIX, como o futebol. Mas dessa vez não foi apenas Zeus que ressurgiu. Foi Tupã, Quetzalcóatl, Viracocha, Odin, Júpiter, Rá, Olorum e todas as nações da terra que desceram dos seus montes e retornaram ao mundo terreno.

Os semideuses ressurgiram e agora se envolviam na arena em torno daquela esfera. Os novos heróis das nações se destacavam dos seus pares, criando jogadas espetaculares que encantavam multidões. Diversos são seus nomes e os maiores nasceram aqui, abaixo da linha do equador. Pelé, no Brasil e Maradona, na Argentina.

Mas um semideus ainda é humano. E deve-se separar o herói mitológico dessa parte imperfeita da criação.

Existe o Pelé e o Maradona, assim como existem o Edson Arantes do Nascimento e o Diego. Esses dois últimos tiveram diversos problemas pessoais como nós, os mortais, e que passaram a imagem negativa fora dos campos. Edson e Diego não são exemplos e nem serão venerados como ídolos. Mas sim Pelé e Maradona com sua genialidade, seus atributos físicos, velocidade de raciocínio e nas pernas - as vezes, na mão.  

Nesta ultima quarta-feira, um desses personagens que surgem a cada centenas de anos subiu ao Olimpo, onde os deuses do futebol ficam assistindo as partidas. Foi tomar assento naquela plateia, Maradona, que por aqui passou 60 anos entre nós.

Na Copa de 82 eu tinha apenas dois anos de idade e obviamente não recordo nada daqueles dias em que minha família se reunia na sala assistindo aos jogos daquela mágica Seleção de semideuses, como: Zico, Sócrates, Junior, Falcão e tentos outros comandados por Telê Santana. Já na seguinte, em 86, recordo vagamente dos jogos principalmente daqueles pênaltis e da tristeza em que pairou quando o Brasil perdeu para a França.

Na Copa de 90, um garoto com dez anos de idade, flamenguista, entendia bem o futebol e a Copa era um momento esperado por todos. Álbum de figurinhas, futebol de botão, ‘travinha’ na rua ou na praça e debate na hora do recreio de como o Brasil poderia chegar ao tetracampeonato depois de vinte anos. Até que chegou o dia de Brasil x Argentina, nas oitavas de final. Era jogo de eliminação. Ganhar ou perder. Foi uma ansiedade tamanha naqueles dias que se sucederam a partida pois quem estaria em campo e do outro lado seria um dos maiores jogadores do mundo, Maradona. Mas ainda tinha outros, como o goleiro Goycochea, Batistuta e Caniggia. Nunca vou me esquecer daquele lance. Foi de Maradona que partiu o lance onde surgiu o gol de Caniggia que nos eliminou. A tristeza foi tão grande que nosso futebol no meio da rua após as partidas, na Travessa dos Remédios (atual Rua José Vieira Chaves), não aconteceu. Saímos da casa de um amigo ali mesmo e passamos um bom tempo sentados na calçada. Por muitos anos os garotos de minha geração sentiram uma raiva tremenda daquela dupla. Só passou na Copa seguinte, com o tão aguardado tetra de 94.

Para quem viu Maradona jogar, foi um privilégio. Para quem ia enfrentar, era um terror. Senti ambos os sentimentos.

Não é todo dia em que assistimos um semideus partir para um outro plano.

Foi-se o Diego, mas Maradona se tornou imortal.


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