O que deveria ser um dos maiores exemplares da arquitetura colonial portuguesa existente em Caxias, pela sua opulência, volumetria, simbologia e história, tem um outro significado. Um exemplo de como anda a situação preocupante, precária e abandonada do patrimônio arquitetônico em nossa cidade.
O Edifício Duque de Caxias, como é conhecido desde que foi adquirido pelo comerciante José Delfino da Silva por volta da década de 1940, está localizado em um dos pontos centrais do chamado Centro Histórico. Repleto de casarões históricos em seu entorno, além da bela Praça Gonçalves Dias, é um recanto para quem pretender conhecer bem a história e evolução urbana de Caxias.
Não se sabe o ano de sua construção e nem o seu primeiro proprietário. Mas pela sua imponência, erguida no interior do Maranhão pelo início do século XIX, deve-se estipular que foi um importante comerciante ou político na época em que Caxias se tornara a segunda Vila, depois Cidade, mais importante da Província. Seu nome atual vem da lenda oral que afirma que ali esteve hospedado, em 1840, o Coronel Luís Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias), quando aqui esteve durante a Balaiada (1838-41). A posse do imóvel passou por diversos proprietários onde funcionou diversos pontos comerciais como a Leiteria Ouro Velho e até o Casino Caxiense. Atualmente pertence a uma família local. Além de sua volumetria, estilo arquitetônico, implantação em sobrado, o imóvel possui diversos elementos arquitetônicos de destaque como suas ferragens nas sacadas e os azulejos em relevo oriundos da Europa. Mesmo não sendo originais do imóvel (os azulejos pertenciam a um casarão no Largo de São Benedito), esse tipo de revestimento e ornamento é o exemplar mais raro e belo de Caxias, merecendo destaque no inventário azulejar do Maranhão. Mas nem isso garantiu sua preservação e conservação.
O entorno do imóvel, a Praça Gonçalves Dias e Rua Afonso Cunha (conhecida como Calçadão) se concentram os maiores comércios populares que cada vez mais ocupam os espaços públicos, gerando conflito entre os transeuntes e suas mercadorias. E é justamente esse fenômeno urbano crescente e desordenado, que vem ajudando a descaracterizar a paisagem da cidade alterada pela poluição visual dos imóveis históricos ou o pior, com a demolição deles. E o Duque de Caxias é um belo exemplo do que vem acontecendo nos últimos anos, de forma bastante acelerada.
O edifício está atualmente subdividido por diversos pontos comerciais em sua parte térrea. Cada um desses comércios alteram a colorização da fachada no entono da porta de acesso a loja, inclusive por cima dos azulejos do século XIX. Mas o que era apenas uma agressão visual com camadas de tintas vem se tornando pior nos últimos anos. Outros materiais vêm sendo anexados as paredes danificando ainda mais o imóvel pela pesada poluição visual. Na parte superior, que foi abandonada há décadas, foi reformada recentemente para abrigar uma clínica dentária. Essa reforma demoliu a escada centenária confeccionada em madeira de lei, onde em seu lugar foi construída uma nova de alvenaria e mármore.
Não há dúvidas de que o casarão nunca esteve tão feio e tão mal cuidado quanto agora. A falta de normas urbanísticas na cidade e a ausência de atuação do Poder Público quanto as políticas patrimoniais, contribuem para a permanência desse triste estado em que o imóvel se encontra.
O Centro Histórico de Caxias, seu conjunto arquitetônico e cultural, constituem importante patrimônio cultural para o Estado do Maranhão. Esse conjunto é formado por uma série de imóveis e cada um deve ter uma atenção especifica. Sem os devidos cuidados na sua conservação e preservação, o risco que a cidade corre é de perder seus imóveis históricos. E isso acontecendo, Caxias deixa de ter centro histórico.
Acompanhe abaixo a evolução da descaracterização do Edifício Duque de Caxias.
PUBLICIDADE