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O caso do casarão: Edifício Duque de Caxias


Jornal O Pioneiro, nº 380, de 20 de fevereiro de 1977.

Na semana passada, publiquei o artigo intitulado “Ed. Duque de Caxias: o que já era ruim está cada vez pior”, sobre a situação lamentável em que o sobrado colonial, situado na Praça Gonçalves Dias, se encontra atualmente. Um fiel retrato do abandono de um patrimônio histórico relegado a especulação devido principalmente, pela falta de políticas urbanísticas e patrimoniais em Caxias.

O abandono neste caso não se dá na concepção de seu uso, ocupado quase que integralmente por pontos comerciais e de serviços diversificados. Mas sim na falta de cuidados de sua estrutura física e o zelo em sua manutenção por ser um dos mais importantes exemplares da arquitetura colonial portuguesa na cidade. O reboco da fachada está caindo o que representa um risco ao próprio imóvel e a quem dele faz uso. Os ricos azulejos europeus datados do século XIX, pintados em cores diferentes de acordo com cada loja. Berrantes engenhos publicitários que agridem visualmente o entorno da praça em que ele está situado. Enfim, toda uma camada de intervenções irregulares que o transformaram em um péssimo exemplo de ocupação, não só de local histórico, mas também de uso na área central.

E foi um tipo de intervenção como essa, no ano de 1977, que chamou a atenção do jornalista Vitor Gonçalves Neto. Um desses pontos comerciais instalados no casarão, uma sorveteria, resolveu pintar de vermelho parte da fachada em que se instalara. A ação do novo locatário iria desfigurar aquele imóvel, levando o jornalista a denunciar aquela “aberração” no jornal O Pioneiro (ver imagem acima). Não consegui descobrir se a pintura foi concluída. Se sim, provavelmente não durou muito, pois fotos posteriores a década de 1970, mostram o casarão com sua colorização informe, sem agressão como aquela.

Por que não conseguimos nos chocar hoje, como aconteceu com o velho jornalista e poeta, há mais de quarenta anos atrás? Devido ao acumulo de sucessivas irregularidades que não foram corrigidas de imediato e que levaram a diversas outras, formando esse processo de degradação do espaço do centro histórico.

Em outro artigo, intitulado “A Teoria das Janelas Quebradas no contexto patrimonial e urbano de Caxias”, de 2019, tratei desse fenômeno que aconteceu em nossa cidade e que foi responsável por diversas irregularidades que continuam sendo feitas até os dias atuais. Um pequeno erro quando não é corrigido assim que identificado, leva a outros, criando uma bola de neve, como explica o experimento chamado de Teoria das Janelas Quebradas. Essa pequena irregularidade leva a ideia de abandono de um todo como se fosse um local sem dono, sem lei, sem intervenção pública – base fundamental para a conservação e preservação da paisagem urbana e patrimonial - e assim, novas irregularidades são realizadas. E isso se torna uma coisa normal.

A degradação do casarão iniciou com uma simples pintura que desfigurou parte do imóvel, até que um outro locatário resolveu fazer o mesmo que seu vizinho. Sem a atuação do Poder Público, que tem a obrigação de normatizar e fiscalizar essas intervenções, todos sentiram-se no direito de realizar obras da forma desejada. Tal falta de cuidado o deixou dessa forma, completamente desfigurado e que uma nova pintura deixou de ser o menor dos problemas.

Em 1977, época em que Victor Gonçalves Neto denunciou essa obra a realidade de Caxias era outra. Repleta de casarões ocupados e bem preservados, sem agressão como as atuais placas comerciais, privilegiando a volumetria dos imóveis. A leitura que ele e os demais caxienses tinham da cidade não é a mesma da nossa atualmente. Era a de uma regularidade e organização que chegava a ser respeitosa com o direito dos demais ao acesso à cidade.

De lá para cá, acumulamos uma série de problemas urbanos que passaram a fazer parte de nossa rotina. Equilíbrio e a harmonia estética foram sendo minados por anos até que atualmente, um simples questionamento sobre sua realidade pode se tornar intolerável por quem está além da compreensão das necessidades de aplicação das leis. É o errado se tornando correto.

O que diria então Vitor Gonçalves Neto, hoje, ao ver a situação lamentável com que se encontra o casarão da Gonçalves Dias? Que estamos em permanente carnaval.


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