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A família de Coelho Neto


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Coelho Neto e sua esposa Gaby.

 

“A família é o núcleo ou gérmen da sociedade. Nela é que se formam todas as virtudes e se amolda o caráter, que é a feição da alma. 

É a oficina sagrada onde se prepara, entre o amor e o respeito dos pais e o exemplo dos antepassados, o futuro cidadão. O que se adquire na infância leva-se até a morte. Assim como o corpo se desenvolve na sua conformação, a alma dilata-se nos princípios em que foi iniciada. O culto da família, que foi a primeira religião do homem, deve manter-se no coração de todos, porque é ele que estabelece a solidariedade entre os membros da mesma casa, perpetuando a honra de um nome pelos tempos adiante. As pátrias são agregações de famílias e, quanto mais virtuosos forem os lares, que são elos, mais forte será a cadeia da nacionalidade”

Assim declara Coelho Neto sobre a família em seu Breviário Cívico, livro editado pela Liga da Defesa Nacional e publicado em 1921, no Rio de Janeiro. 

Pouco se sabe sobre os ascendentes de nosso ilustre conterrâneo. Seu pai, Antônio da Fonseca Coelho, nascera em Portugal e veio para o Brasil se estabelecendo por fim em Caxias. Foi aqui que conheceu Ana Silvestre. Ela seria uma índia ou descendente de povos indígenas, mas há muito residindo na cidade de Caxias. O jornal Correio Paulistano ao noticiar a morte do poeta assim descreve seus pais: 

“Seu pai, Antônio Francisco (1) Coelho, era um pequeno comerciante sem letras, austero e ríspido. Ana Silvestre Coelho, oriunda da raça aborígene (2), sem instrução, mas muito habilidosa”. (Correio Paulistano - SP, Ano LXXXI, Ed. 24.136, de 29/11/1934).

Antônio Coelho faleceu em maio de 1884, sendo enterrado no Cemitério da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, situada no atual bairro do Caju – RJ, deixando viúva e o único filho com 20 anos de idade. A data do falecimento de Ana Silvestre é desconhecida. Um tio seu de nome Resende, Guarda-Livros e provavelmente irmão de Antônio Coelho, foi o responsável por apresentar ao então garoto Coelho Neto os clássicos da literatura portuguesa. 

Residindo no Rio de Janeiro trabalhando como professor e escrevendo para jornais, Coelho Neto conhece a jovem Maria Gabriela Brandão. Conhecida como Gabi, nasceu na cidade de Vassouras (RJ) em 25/07/1872, sendo filha de Alberto Olympio Brandão, ilustre professor com ligações com a elite da então capital brasileira. 

Os dois se casam no dia 24 de julho de 1890, em uma cerimônia civil na casa de seu sogro, onde seguiram para a Igreja da Glória para a cerimônia religiosa. Como padrinhos e testemunhas dos noivos o Generalíssimo Manoel Deodoro da Fonseca (então Presidente do Brasil) e o jornalista José do Patrocínio. Ele com 26 anos de idade e ela com 18 anos. Gabi adotou o nome de Maria Gabriela Coelho Neto, sendo eterna companheira e apoiadora do marido. Foi professora de música e com idade avançada realizada filantropia na sociedade fluminense, organizando entre outros eventos o Natal dos Pobres. Deu nome ao torneiro de futebol Taça Madame Gaby Coelho Neto, disputado em 1916, que teve como campeão o time do Flamengo. Gaby faleceu na residência do casal no dia 01 de dezembro de 1931.

coelho e familia
Coelho Neto e família na escadaria lateral da Igreja da Glória, em missa
comemorativa dos 25 anos de seu casamento. Revista Fon Fon, 1915.

Os filhos

O casal teve um total de 14 filhos, mas nem tudo foram alegrias na prole. Algumas tragédias se sucederam na vida de Coelho Neto e Gaby em relação a seus filhos. Os primeiros faleceram cedo. O primogênito Alberto Coelho Neto nasceu em 1891, falecendo por volta de 1892 ou 93. O segundo, Paulo Alberto, nasceu na cidade natal da mãe, e faleceu com dois meses de idade no dia 03 de janeiro de 1894. Assim como o terceiro, Edgardo Coelho Neto, falecido também com dois meses de idade no dia 15 de novembro de 1895. 

Como o casal perdera seus filhos por doenças, Coelho Neto acabou acreditando que o ambiente fechado em que viviam contribuíram para essas fatalidades. Por isso, decidiu criar os outros filhos em áreas livres, se tornando um incentivador do esporte como o futebol e natação. 

Em seu diário o ilustre descreveu um dia nas atividades de seus filhos no esporte:

“Pela manhã, Violeta nadou na prova experimental (200 metros) batendo brilhantemente quatro nadadores adultos. Na piscina do Fluminense, à tarde: João venceu, sob delirantes aplausos, o campeonato de natação do clube, na distância de 600 metros. Violeta venceu a prova de 30 metros e Georges e Paulo venceram a prova de estafetas. João obteve, ainda vitória na prova “ ‘salvamento de um afogado’ ” (Diário de Coelho Neto, 24 de abril de 1921).

Abaixo a relação de seus filhos que chegaram a fase adulta. Do total de 14, apenas um não consegui identificar seu nome. Possivelmente sendo um dos primeiros a falecer.

Dos homens:

Emanuel Coelho Neto (28/07/1898 – 30/09/1922). Conhecido carinhosamente como Mano, era Ponta-direita do time do Fluminense, fazendo 67 jogos e marcando 9 gols. Foi tricampeão carioca em 1917, 18 e 19. Faleceu de forma trágica: Durante uma entrada violenta do adversário, recebeu uma forte pancada no abdômen que causou uma hemorragia interna. Atendido pelo treinador é aconselhado a abandonar a partida, mas recusa-se a desfalcar o Flu (na época não havia substituição). Volta a campo praticamente cambaleando até o apito final. Passou nove dias agonizando em sua residência onde veio a falecer aos 24 anos de idade. O pai nunca se recuperara dessa perda. A ele, Coelho Neto escreveu o livro Mano (1924). Não casou nem deixou descendentes.

Georges Coelho Neto (1900 – 21/06/1964) – Atleta do Fluminense praticava algumas modalidades sendo o water-polo em destaque, junto do irmão Paulo. Sua profissão era bancário. Casou em 1924 com Jussara Dantas Pimentel, onde tiveram quatro filhos. Desse casamento veio Dóris Coelho Neto, que casou com Leónidas Pires Gonçalves, General do EB e Ministro do Exército no governo de José Sarney. 

Paulo Coelho Neto (1902/1985) – Publicou alguns trabalhos sobre seu pai, incluindo sua biografia (1956). Escreveu o livro “História do Fluminense”, lançado em 1952 e um segundo volume em 1968. Escreveu também livros sobre discos voadores nas décadas de 1960 e 70.

João Coelho Neto, o Preguinho (08/02/1905 – 01/10/1979). Talvez o mais famoso dos filhos. Considerado o atleta brasileiro mais completo do século XX, pela revista Placar. Ganhou 387 medalhas e 55 títulos em: futebol, vôlei, basquete, polo aquático, remo, natação, hóquei, tênis de mesa, atletismo e saltos ornamentais. Iniciou como jogador profissional pelo Fluminense aos 17 anos de idade, fazendo 184 gols pela camisa do Flu. Sua dedicação ao clube e ao esporte fez com que recusasse salários pelo clube. Foi o primeiro jogador brasileiro a marcar um gol pela Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo em 1930. Chegou a casar, mas não teve filhos. 

Mauro Coelho Neto – Não encontrei informações sobre sua vida. Apenas que deixou filhos. 

Das mulheres:

Violeta Coelho Neto (1909/1997). Aos 10 anos de idade se tornou uma grande nadadora especialista na modalidade crawl, se destacando na cidade como uma das melhores atletas nessa categoria e uma das primeiras nadadoras a vencer campeonatos. Mas sua vida não se resumiu a natação. Segundo a crítica é considerada a maior cantora lírica do Brasil no século XX.

Bailarina do Teatro Municipal (RJ), foi descoberta por acaso pela cantora italiana Gabriela Besanzoni quando uma pianista tinha faltado um ensaio e Violeta ocupara seu lugar. Se tornou famosa cantora lírica e soprano. Chegou a cantar no Carnegie Hall em 1947, em Nova Iorque, uma das mais renomadas casas de espetáculos do mundo. Uma de suas mais celebres apresentações foi Madama Butterfly, marcando época no teatro carioca. Casou com Jorge Amaro de Freitas, em 1930.

Zita Coelho Neto. Foi considerada a “Rainha dos Estudantes”, em 1926. Publicou os livros: “Coelho Neto – Meu Pai e Grande Amigo” (1964), resultado de uma palestra realizada em 26/11/1962 na Associação Guanabarina de Impressa, para alunos do curso de Jornalismo. “Dois Aspectos de Coelho Neto”, Editora Minerva – RJ, 1965. Não casou e nem teve filhos.

Julia Coelho Neto. Uma das tantas tragédias que marcaram o casal Coelho Neto foi a da sua filha Júlia. Seu casamento durou pouco pois seu marido falecera, deixando apenas uma filhinha de nome Ester. Seis meses depois de ficar viúva a pequenina Ester vem a falecer. Vivendo na casa dos pais, Julia fica reclusa em seu quarto arrumando as roupas da filha morta, onde o casal Coelho Neto assiste a filha aprofundando na depressão. Até que Julia passa a conversar com a filha Ester pelo telefone e então sua fisionomia antes de tristeza muda completamente. Achando que a filha tinha enlouquecido de vez, certo dia o escritor pega uma das extensões e se vê diante de um fenômeno paranormal, pois também ouve a voz de sua neta falecida. Esse fato marcante fez com que Coelho Neto se aprofundasse na leitura espírita, coisa que ele sempre ridicularizara. 

Dina Coelho Neto de Lacerda (1907/1991) – Usava o pseudônimo de Maria Cecília. Artista, foi uma famosa cantora do rádio, onde chegou a ser contratada pela Rádio Nacional para cantar músicas regionais sul-americanas na década de 1940. Casou em 1926 com o comerciante Jorge Lacerda. Posteriormente casou novamente com Lino Corrêa Neto.  

Sua filha Ana Maria Coelho Neto Lacerda (10/03/1936-05/11/1973), que tinha nome artístico de Patrícia Lacerda, foi Miss Distrito Federal (RJ), em 1954. Era também modelo e atriz, trabalhando no cinema, teatro e TV. Aos 15 anos participou do filme “Com o Diabo no corpo” (1952). Ao casar mudou o nome para Anna Maria Coelho Netto Lacerda Haynes.

Marieta Coelho Neto (1904/1993) – Não consegui informações sobre sua vida.

Para mais informações de seus descendentes o meu confrade de ACL e IHGC, Edmilson Sanches, em 2014 fez importantíssima pesquisa no artigo “Os descendentes de Coelho Neto” localizando quase sua totalidade entre os filhos, netos e bisnetos de Coelho Neto.  

Imagens

(Clique nas fotos para ampliar)

Gaby Coelho
Gaby Coelho Neto, a eterna companheira.

 

Emanuel Mano
Emanuel, o Mano. tragédia na vida do casal
Coelho Neto e no futebol brasileiro.

 

Preguinho
Preguinho, o primeiro brasileiro a fazer um gol em Copas do Mundo.

 

Casamento Coelho
Casamento de Georges Coelho Neto e Jussara Dantas Pimentel, na residência de
Coelho Neto, no dia 20 de 1924. Imagem: Vida Doméstica (RJ), Ed. 077, de 1924.

Foto Coluna Coelho

Zita Coelho
A bela Zita Coelho Neto em diversos momentos. Na primeira foto no
escritório de seu pai e abaixo na porta de sua casa.

 

Revista Zita
Primeira imagem: Revista O Cruzeiro (Ano I, nº28, 18/05/1929) Destaca a
jovem artista Zita Coelho Neto.  Segunda imagem:
Capa com a foto de Zita Coelho Neto a Rainha dos Estudantes.
Revista Vida Doméstica, nº 104, janeiro de 1927.

 

Dina Coelho
Dina Coelho Neto, famosa cantora na era do rádio.

 

Ana Maria Lacerda
Ana Maria Lacerda - filha de Dina e
neta de Coelho Neto.

 

Violeta Coelho
Violeta Coelho Neto, de campeã do nado a cantora lírica.
No centro durante a encenação de Madame Bovary.
Imagens: Página no Facebook ‘Violeta Coelho Netto de Freitas”,
em homenagem a artista.

 

Violeta canta
Violeta canta no Teatro Municipal. Imagem: Página no Facebook
‘Violeta Coelho Netto de Freitas”, em homenagem a artista.

 

Casamento de Violeta
“Um dia de felicidade no lar de Coelho Neto”: Casamento de Violeta com
Jorge de Freitas, em 04/10/1930. Imagem: Vida Doméstica (RJ), Ed. 152 de 1930.

 

Revista Fon Fon
Revista Fon Fon, 1957. Homenagem da Casa do Porto, clube português situado no RJ.
Presentes estão Zita e Paulo Coelho Neto.

 

Dança das Ciganas
Dança das Ciganas – Violeta e Dina Coelho Neto ao lado de amigas em uma
apresentação artística sob a direção de Coelho Neto,
na sede do Fluminense, em 1925. Imagem: Revista Para Todos (RJ), Ed. 342 de 1925.

1- Possivelmente o jornal trocou o sobrenome Silvestre por Francisco. 

2- Aborígene era como se tratavam os nativos povos indígenas naquele início do século XX, no Brasil.


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