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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Uma adversidade que ensina


A pandemia que se expande no mundo por causa do novo coronavírus (Covid-19 ou Sars-Cov-2) não sai dos noticiários da mídia e das conversas nas redes sociais. Praticamente não há fato que possa superá-la em importância, a não ser, pasmem, por uma nova escorregada quase diária do nosso presidente da República, gerando situações que vêm levando paulatinamente a uma desconstrução de sua imagem perante a população, desde que assumiu o cargo em janeiro de 2019.

Fosse somente a desconstrução da imagem do presidente por ele próprio, nosso povo nada teria que temer, posto que ele que chamou a Covid-19 de gripezinha, demitiu recentemente, por ciúmes e por não concordar com as orientações da Organização Mundial da Saúde, um excelente ministro da saúde em plena pandemia, pode ser substituído simplesmente pelo voto popular e ninguém estará obrigado a ouvir mais a respostas como a famosa e insensível frase recente: “E daí!  Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias (aludindo ao próprio nome), mas não faço milagre". Mas, a pandemia, infelizmente, não nos deixará apenas com uma eventual vontade das urnas..

Em números globais ela já matou, até esta data, em notificações que não param de crescer, cerca de 230 mil pessoas. No Brasil, 10º lugar entre os países infectados, o número de diagnosticados chegava a 85.380, 7.218 casos nas últimas 24 horas, e 5.901 mortes. Não obstante, o quadro, no entanto,  já se afigura alarmante, com o Ministério da Saúde já admitindo que as subnotificações podem esconder mais de um milhão de casos e que é quase certo registrar-se brevemente cerca de mil mortes por dia em todo território nacional. Cada paciente infectado no país transmite o Sars-CoV-2 para 2,8 pessoas. Outros países com taxas altas são Irlanda (2,24), México (1,95) e Polônia (1,78). As menores taxas estão na Grécia (0,44) e na Suíça (0,71)

Com tais dados, já superamos a China em número de mortes e só ficamos atrás dos Estados Unidos, estes com cerca de um milhão de infectados, 128 mil recuperados e mais de 63 mil mortos por causa da doença - estatística que supera, por exemplo, as perdas dos EUA em homens durante os muitos anos da guerra do Vietnam. Nossa tendência, porém, é atingir a mais alta taxa de crescimento da enfermidade na América Latina, ao contrário do que acontece nos países vizinhos, por conta de soberba, falta de investimentos e uma estúpida teimosia da população em aceitar a política de distanciamento social, exatamente como  fazem os nossos irmãos sul-americanos.

No Maranhão, até à noite de ontem, 3.506 casos foram confirmados com a doença e já há registro de 204 óbitos. Os casos suspeitos envolvem 9.174 pessoas, dos quais 4.335 foram descartados, 1.977 pacientes encontram-se em isolamento domiciliar e 784 já estão recuperados. 350 pessoas achavam-se internadas em enfermarias (130 em hospitais privados e 220 em hospitais públicos), e 191 estavam internadas em UTI (57 na rede privada e 130 em hospitais públicos).

Na capital, a taxa de ocupação de leitos exclusivos de UTI já atingira 77,64 por cento de disponibilidade. A exclusiva de leitos clínicos se situava em 58,40 por cento. Com base nestes dados, após receber comunicação oficial dos hospitais privados informando que a capacidade de internação chegou ao limite, o juiz Douglas Mello Martins, da Vara de Interesses Difusos de São Luís, decidiu ontem suspender a livre circulação de pessoas na região metropolitana da capital, que abrange os municípios de São Luís, São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar. A tentativa, em verdade, uma das opções que o governador Flávio Dino trazia no bolso, foi anunciada para estreitar mais a circulação de pessoas na Ilha de São Luís, considerada como a maior responsável pelo aumento dos casos de Covid-19 naquela região.

Em Caxias, o boletim epidemiológico divulgado às 20 horas  da noite de ontem, 30, assinala que o número de infectados  confirmados com a covid-19 já chegou a 18, sem registro de morte, no espaço de pouco mais de 10 dias.  Contudo, 17 casos suspeitos aguardam resultado de exames, há oito pacientes confirmados em isolamento domiciliar, 45 descartados por exame, nove doentes foram recuperados e um caso somente está recebendo tratamento em internação hospitalar.  O bairro Nova Caxias, com seis casos, até agora é o que tem o maior quantidade de infetados na cidade. Depois vêm a região central (04), a Vila Lobão (03), o Dinir Silva (02), seguidos de Seriema, Itapecuruzinho e Eugênio Coutinho, todos com um caso de infectação.

As cidades que ainda não registram mortes ligadas à propagação da Covid-19, como Caxias, podem dar graças aos Céus, e se os infectados e os em tratamento estão resistindo, mais ainda, porque a estrutura de saúde interiorana não dispõe de pessoal nem de equipamentos suficientes para atender a grandes demandas. Mesmo assim, há um clima de certa histeria na população, onde muitos querem saber onde estão os infectados, para melhor se protegerem, situação que se torna impossível sem a política de distanciamento social, tendo em vista que a doença já assumiu ritmo de propagação comunitária, isto é, pode estar em todo lugar.

Os caxienses conversam sobre o uso de medicamentos para malária, tipo cloroquina, hidroxocoloquina, de antiácidos, os quais, consorciados com antibióticos, estariam dando algum resultado num ou noutro caso. Contudo, a receita para erradicar a doença ainda está sendo tecida duramente nos laboratórios mais especializados, sem previsão de prescrição segura para tratar neste momento a humanidade.

Não obstante, olhando-se até onde é possível vislumbrar-se como funciona a vida, toda coisa ruim traz embutida em si algo aproveitável. A pandemia, em sua crueza mórbita, letal,  está servindo para desanuviar a mente das pessoas, como, por exemplo, revelando as mazelas que decorrem da insensibilidade que leva, no caso do Brasil, a uma vergonhosa desigualdade social que, por sua vez, coexistindo no seio de nossa sociedade, mantém entre nós a gestação e proliferação do perigoso novo coronavírus.

O mais incrível nisso tudo é que a doença originária da China, e que passou antes pela Europa, chegou ao nosso país nos corpos de pessoas abastadas e felizes que viajavam para fazer turismo ou estudar no exterior, refúgio de quem vive de curtir a vida, indiferente às mazelas que engessam o desenvolvimento de nossa nação.

Por conta dessa mentalidade egoísta decantada pela elite do país que, além de insensível, impõe uma tributação vergonhosa ao povo brasileiro,  é que pululam por todas as cidades as favelas, a ausência de saneamento básico, o transporte coletivo deplorável, a falta de escolas estruturadas para melhorar a educação do povo, o desemprego e, em consequência de tudo junto e somado,  amplifica a criminalidade, transformando-a em uma atividade fim para juventude, em vez do diploma, do emprego seguro e de melhores oportunidades no mundo dos negócios.

Por conta desse modo de pensar, que não é de agora e é quase cultural desde o descobrimento, a riqueza do país restringe-se a um dígito da população. De sorte que até mesmo uma de nossas maiores conquistas, o nosso Sistema Único de Saúde, o SUS, vitória e modelo perante as nações, claudica pela pouca atenção que o governo central lhe dá, e é nessa hora que começamos a pagar a conta

Como se a natureza estivesse dando uma lição a todos, mesmo os mais abastados não conseguem lugar para ficar imunes à enfermidade; sequer têm a alternativa para isolarem-se fora do país, dado que no exterior a situação também é a mesma e as fronteiras estão literalmente fechadas. Também não adianta ser possuidor de plano de saúde, poder pagar hospitais particulares, já que as unidades médicas, tanto públicas quanto privadas, estão abarrotadas e a tendência é que o processo se expanda para as unidades públicas mais modestas do interior, onde a população já começa também a ficar apavorada apenas com o fato dos casos suspeitos resultarem em confirmação da doença.

A despeito de tantas informações lançadas a todo momento pelos meios de comunicação, segmentos da população ainda se mostram reticentes em aceitar a política de distanciamento social estabelecida pelos governos dos estados e prefeituras municipais. O temor maior é a quebra da economia e o aumento do desemprego, que já são realidade por toda a parte e, no Brasil, bem pior, por causa de muita gente que trabalha na informalidade para sobreviver.

Na tarde da última terça-feira, 28, o prefeito Fábio Gentil (Republicanos) reuniu-se com a bancada de vereadores da sua base de sustentação na Câmara Municipal, onde, com o consenso de 15 dos 19 parlamentares da casa, inclusive do presidente da casa, vereador Catulé (Republicanos), ficou decido, até segunda ordem, a manutenção da política de distanciamento social em Caxias.

O primeiro mandatário do município e a maioria dos vereadores não quer ver Caxias passar pelos atuais problemas de São Luís, onde a capacidade de leitos de internação está à beira do colapso, tantos nos hospitais públicos como nos privados. Para tirar as pessoas teimosas que insistem em ir para as ruas, as praias, o governador Flávio Dino (PCdoB) vem alinhando o seu discurso com ações da polícia militar e ontem mesmo baixou mais um decreto, desta vez proibindo a circulação de pessoas na região metropolitana de São Luís a partir da semana que vem. Sem meios para receber a contento a demanda de pacientes que acorrem para as unidades hospitalares da capital, o governador maranhense é o primeiro dirigente estadual a adotar a política extrema de fechar a circulação de pessoas em uma determinada região.

Por outro lado, aos poucos percebe-se uma mudança sensível no comportamento das pessoas, aqui em Caxias, que passaram a usar máscaras quando em circulação pela cidade. O setor bancário, porém, é o lugar que mais preocupa as autoridades municipais, por causa das seguidas aglomerações que se formam, sobretudo em dias que são honradas as folhas de pagamento.

Com uma compreensão maior da doença que tem ceifado vidas, em sua grande maioria, por incontrolável insuficiência respiratória, talvez as pessoas comecem a valorizar mais o distanciamento social e a permanecerem em casa, enquanto a vacina não vem. Ademais, sem a preservação de vidas, pra que é que faz sentido mesmo a economia que impulsiona as pessoas para as ruas!

Que este 1º de Maio, Dia do Trabalhador, atípico porque as classes trabalhadores não poderão comemorar como comumente o fazem, seja um dia de reflexão para o povo   brasileiro encontrar novos caminhos que o levem a ser um país mais justo para todos.     

Atualmente estamos rotulados pejorativamente como o povo mais rico do mundo, na medida em que vivemos em um país de dimensões continentais,  onde os desastres naturais são raros, temos sol o ano inteiro, possuímos a maior floresta do mundo,  somos donos de 20 por cento da água potável de todo o planeta, fartos em potencialidades de utilização de energia alternativa e sustentável, gigantes no agronegócio e, no entanto, é a população que paga mais caro pela água tratada que bebe, pela energia que utiliza, pelos alimentos que consome, desmata aleatoriamente suas terras, paga fielmente inúmeros impostos abusivos, não enriquece e, mesmo assim, ainda é a que continua a sustentar um sistema econômico que, por favorecer a corrupção, só mantém a grande maioria na pobreza.

Não. Essa pandemia funesta do novo coronavírus não está nos oferecendo somente o mal. Em sua crueza, está abrindo também nossos olhos para real situação do nosso país; para mostrar-nos que a nossa grandeza e prosperidade não decorrerá da aceitação de ideologias de plantão. O modelo de passado recente, com o PT, terminou em desastre e vergonha. O que está no poder, agora, para não desabar, já disse a que veio ao aproximar-se do mesmo séquito servil de um já conhecido grupo de políticos chamado “Centrão”, que abriga velhos conhecidos condenados da política. O combate à corrupção também ficou de lado, após a demissão do ex-juiz Sérgio Moro, afastado do Ministério da Justiça e da Segurança Pública apenas por divergir da política que o presidente Jair Bolsonaro quer imprimir na área de atuação da Polícia Federal.

Por isso, só temos a aprender com a Covid-19. E neste momento deixar de ser teimosos, evitar aglomerações, cuidar mais da higiene pessoal, com muita água e sabão, uso de álcool etc, e ficar em casa, obedecendo as orientações de quem entende. Às vezes, a adversidade também tem muito a nos ensinar.


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