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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

A pandemia ditará o ritmo das próximas eleições


A julgar pelas última movimentações no Tribunal Superior Eleitoral(TSE), salvo se por decisão inesperada, as eleições deste ano vão mesmo cumprir o calendário eleitoral previsto. Pode até ser que, em função da pandemia do covid-19 ainda em ascensão no país, ocorra alguma mudança de data para além do próximo dia 4 de outubro, mas já é caso pensado e repensado, e quem assina embaixo é, nada mais, nada menos, do que o ministro Luís Roberto Barroso, exatamente o magistrado que passará a presidir o TSE, a partir do fim deste mês.

Esse posicionamento do futuro ministro presidente do TSE afasta de vez a possibilidade que muitos postulantes já detentores de mandato tinham em relação à próxima eleição de outubro. Chegou a haver até júbilo e comemoração diante de um fato dessa envergadura vir a acontecer.

Por um lado, os preocupados com a incerteza da atual campanha que se conduz em meio a comportamentos que ainda são uma incógnita em Caxias, como a influenciação das redes sociais que foi decisiva na última eleição. De outro, os que sonham e julgam mais acertado que o país comporte, de quatro em quatro anos, apenas uma única eleição, na qual sejam escolhidos vereadores, prefeitos, deputados federais e estaduais, governadores e o presidente da República.

A tese dos primeiros permanecerá submersa até depois das eleições. Quanto aos segundos, esbarram na manifestação do último 11, quando o ministro Barroso afirmou que unificar as eleições municipais e nacionais traria um “inferno gerencial” para o TSE. Em diversas ocasiões, o ministro já se posicionara ser contra o adiamento das eleições municipais para 2022, deixando claro que é consenso na corte evitar prorrogação de mandatos. Segundo ele, uma eleição geral em 2022 se mostraria “extremamente confusa” para o eleitor, além de favorecer confusão na cabeça do eleitorado, com uma inevitável sobreposição dos debates nacionais e locais.

Não obstante, tem relevo maior o fato de que é a pandemia do novo coronavírus ainda ascendente no país que está ditando também as regras eleitorais. Impressiona que um fenômeno visto inicialmente como uma gripezinha esteja fazendo tantos estragos no mundo. Pior ainda no nosso país, no nosso Maranhão e, aqui mesmo em Caxias, onde os dados revelam que segue em linha ascendente e não se tem ao certo quando irá estacionar e, finalmente, começar a cair.

A única certeza que persiste é a de que é crescente o número de infectados e as mortes estão se acumulando e não param de acontecer. Sem a medicina conhecer ainda uma vacina ou medicação apropriada para combatê-la – a maioria dos médicos têm medo de receitar cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina nos tratamentos -, o temor agora é ver-se que de propagação comunitária, nível em que se encontra, ela venha a se tornar endêmica, isto é, ficar entre nós permanentemente, mutando e ceifando o maior número de vidas possível em todos os níveis etários.

Para dar um exemplo das sequelas que provoca nos sobreviventes, os que são atingidos nos pulmões talvez fiquem inválidos e sobrevivendo com medicamentos pelo resto de suas vidas. Mas a doença, agora já se sabe, não se resume apenas às vias respiratórias inferiores, ela se expande também aos demais órgãos vitais do corpo humano e se aproveita de eventuais problemas que a pessoa, mesmo sem saber, possa ser portadora, praticamente entregando-a a uma fatalidade decorrente.

Neste momento, os maiores focos da doença estão nas capitais e cidades mais populosas, mas sua presença já se faz ameaçadora também no interior do país, onde a infraestrutura de saúde é muito mais precária do que nos grandes centros urbanos. O caminho que os governantes sensatos estão adotando está na promoção de ações que levem ao isolamento social de suas populações. São medidas acertadas do ponto de vista da saúde e de salvar vidas, mas, como todo remédio, trazem em si efeitos colaterais graves também para a população, como paralisar o comércio e a indústria cujas atividades não sejam consideradas essenciais, elevar o desemprego, enfim, paralisar a economia. 

Sabe-se que a economia de um país não pode parar em razão da indisponibilidade da classe trabalhadora e consumidora; que o problema transcende inclusive os posicionamentos políticos, mesmo porque todos os países do mundo o estão vivenciando. Mas é também compreensível a atitude preventiva de governadores e prefeitos que assumem a política de distanciamento social em suas regiões, inclusive com propostas de isolamento total de cidades, o significado copiado da língua inglesa (lockdown) tão difundido nas mídias, nos últimos dias.

A lógica de governadores e prefeitos faz sentido porque são eles que estão na linha de frente do combate contra a pandemia. Veja-se a situação dos vereadores, que amanhecem o dia com o povo na porta de suas residências. É daí que a escala de soluções se inicia, para chegar em seguida ao prefeito, ao deputado estadual, ao governador, ao deputado federal, ao senador e, finalmente, ao presidente da República.

Então, quando um elo dessa cadeia se rompe, de que maneira o benefício reclamado chega ao cidadão comum?!! Óbvio que alguém terá bancá-lo, dar um jeito, embora muito pouco reste a jogar atualmente, por causa do visível distanciamento para lá de social entre Brasília e os estados do Nordeste. E Brasília, sem a menor disposição para dialogar, debater, equacionar as ações, não abre mão do fato de que todos devam, primeiro, ter a mesma visão ideológica das coisas.

Aliás, por conta disso, menos de trinta dias depois do ex-deputado federal e médico Luís Henrique Mandeta (DEM) ser demitido da função, caiu hoje (15) mais um ministro da saúde, o dr. Nelson Teich. Não aguentou a pressão de conviver entre a política e a pandemia da covid-19 no Planalto Central. A política, a busca pelo próximo mandato predomina, enquanto a pandemia, que só cresce e mata, agradece piamente pela leniência e o modo descoordenado de combatê-la.

Aqui no Maranhão, por exemplo, usar de uma proposta de isolamento vertical, onde estão situadas as pessoas dos chamados grupos de risco, que são idosos a partir de 60 anos, cardíacos, hipertensos, diabéticos etc, como propõe o presidente da República, seria proceder em algo para lá de funesto, pois os dados divulgados diariamente mostram que os números dos mais infectados estão na faixa etária de 20 aos 50 anos. Quer dizer: é a população mais ativa que irá para as ruas se infectar e trazer ainda mais a doença para dentro de casa. Para o jogador de sinuca, é como se estivesse numa sinuca que se mostra intransponível. Mas é preciso transpor a situação, e um bom jogador sempre é mestre em fazer isso. E devemos encontrar um meio termo para manter nossa economia viva.

Por outro lado, a pandemia vem alterando também o comportamento das pessoas. Cidadãos e cidadãs antes dados a conversas interessantes e agradáveis, agora se mostram taciturnos, fechados, até mesmo porque estão proibidas (para evitar contágio)  as manifestações de afeto tão comuns na vida dos brasileiros. Ao desespero e sem vislumbrar qualquer luz para o problema, alguns chegam a assumir postura fatalista, inclinados a soluções a partir de modelos de triste memória na história da humanidade. Nas redes sociais, os posicionamentos têm o mesmo vigor das rivalidades nos esportes e nas religiões, motivando polarizadas e absurdas e degradantes querelas pessoais.

Entrementes, a classe política local se alinha com os defensores do isolamento e do distanciamento social. Mas para os opositores à reeleição do prefeito Fábio Gentil (Republicanos), a pandemia está provocando estragos bem maior do que a própria doença. É que, de repente, perceberam que ficaram sem palanque para atuar, enquanto o alcaide faz o impossível para projetar ainda mais a sua imagem diante do eleitorado.

Onde há alguma dificuldade, não se espante, que lá estará o prefeito Cabeludo para resolver, solucionar… E, assim, lá se vão máscaras gratuitas para a população, distribuição gratuita de álcool em gel, pulverização de ruas com veículos atomizadores e em cabines próximas de agências bancárias, recapeamento de ruas, novas luminárias de led a embelezar as noites de ruas e avenidas, e pagamento em dia do funcionalismo municipal. Na zona rural, cresce o incremento da recuperação das estradas vicinais e outros investimentos na infraestrutura dos povoados.

Nessas ações, obviamente que o prefeito não anda só, mas conta com a influência e o pedido firme da vereança e dos correligionários e correligionários que o apoiam.  E, assim, por enquanto, resta à oposição apenas reclamar sobre a destinação dos 24 milhões de reais que chegaram recentemente aos cofres da prefeitura, para serem aplicados em prevenção e tratamento da pandemia, assim como denunciar que seguem descobertos alguns contratos assumidos junto ao comércio e com prestadores de serviço, e que as ruas de alguns bairros ainda não foram recuperadas após a forte estação das chuvas deste ano.

Mais impressionante é constatar-se que essa pandemia que vivenciamos embute perigos bem maiores dos que os ataques à própria saúde da população; saber que do ponto de vista político ela agirá, tanto em 2020 quanto em 2022, como um gigantesco tsunami que varrerá da superfície da terra os incautos, os teimosos, os despreparados e os brigões da política brasileira.


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