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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Abertura comercial, se for ampla, é perigosa


A semana transcorreu sob o frisson da reabertura do comércio. Uma ideia justificável do ponto de vista da economia, do funcionamento das empresas e do pleno emprego para a classe trabalhadora, mas diametralmente oposta em direção à saúde das pessoas, preservação de vidas, nesse tempo em que se vive sob a indelével presença de uma letal e indesejada pandemia, a Covid-19 (SarsCov2).

Se ceder à pressão do empresariado, e concordar com a abertura total e indiscriminada do comércio, o governo municipal estará colocando sua gestão a um risco de não ter mais condições de atender às demandas decorrentes da pandemia, dado que em pouquíssimo tempo, talvez no máximo duas semanas, não mais terá condições de internar os casos graves de infectados nos hospitais de toda a rede de saúde de Caxias.

A pergunta a ser feita, neste momento, é como abrir o comércio, se a doença ainda não deu o menor sinal de estar recrudescendo no município. Pelo contrário, continua em franco crescimento, muito embora se saiba que os dados oficiais não reflitam uma realidade que pode ser multiplicada por sete, segundo dizem especialistas que se dedicam a estudar as estatísticas da Covid-19 no Brasil.

Para piorar ainda mais o cenário sanitário do país, mesmo que a infecção tenha diminuído um pouco nos grandes centros urbanos, começa a se replicar exponencialmente no interior e, no caso de Caxias, basta verificar que os casos de  infectados vêm crescendo semana após semana.

Na terça-feira (02), 22 leitos estavam ocupados com casos mais graves da doença, que fizeram acender uma luz amarela no sistema que administra as ações de enfrentamento à Covid-19 no município. Esse número caiu para 19, na quinta-feira (04), certamente pelo aumento de óbitos, 13 na manhã de sexta-feira. Contudo, os testes positivos só crescem. Hoje (07), passou para 419 casos confirmados. Felizmente, 130 pacientes já estão recuperados.

À essa altura dos acontecimentos, com a curva de casos sempre em elevação, não é exagerado pensar-se que a internação de infectados se aproxima daquele ponto sem volta que administração a todo custo quer evitar, pois o pior de tudo é a cidade perder a capacidade de internar pessoas por causa de um aumento na demanda. Hoje estima-se que existam cerca de 50 leitos para a Covid-19 em Caxias.

Ademais, passando a vista sobre os gráficos da pandemia em Caxias (ver no sítio oficial da Prefeitura), nota-se que os infectados estão em maior número na faixa etária que vai de 20 a 49 anos, praticamente o grosso da população ativa do município que estaria ainda muito mais exposta com uma abertura geral da economia. Existe alternância quase diária entre homens e mulheres se revezando na liderança dos positivados com a enfermidade.

Por outro lado, a saúde pública municipal iniciou o mês de junho com mudança de comando. Saiu a médica Maria do Socorro Coutinho Mello, oficialmente a primeira mártir do novo coronavírus em Caxias, e entrou o engenheiro elétrico/administrador Carlos Alberto Martins de Sousa, nome que construiu um invejável currículo como gerente local da extinta Cemar, presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto e Caxias (SAAE/Caxias) e, por último, ocupando a direção-geral da Assembleia Legislativa do Maranhão, na gestão da presidência do ex-deputado Humberto Coutinho.

Socorro Mello, que estava afastada do cargo desde que contraiu a covid-19 no início de abril, deixou a pasta sob a justificativa de ter que dar mais assistência à saúde de sua própria família fragilizada pela exposição ao novo coronavírus. Física e psicologicamente abalada também pela doença, a secretária, que recuperou o status da Maternidade Carmosina Coutinho (antes conhecida como maternidade da morte) e restabeleceu junto ao UNICEF o conceito do Hospital Municipal da Criança, em verdade, pediu para se afastar da rotina estressante da direção da SMS, mas não deixou o governo e continuará auxiliando as ações da pasta no Hospital Centro Médico, onde está internada grande parte dos infectados atualmente.

É claro que o engenheiro Carlos Alberto não é um especialista em saúde e muito menos em política do Sistema Único de Saúde (SUS), mas ao prefeito Fábio Gentil (Republicanos), ao que parece, importa muito mais colocar neste instante a parte administrativa da pasta nos eixos, que estava acéfala, enfim, dar um tratamento de choque para levantar o ânimo do seu pessoal. Mas o novo secretário entra com limitação de poderes, pois a parte financeira do órgão ficará restrita a pessoas de confiança do próprio prefeito.

Ao apostar na experiência do administrador que transformou o SAAE/Caxias numa autarquia modelo e superavitária, Fábio Cabeludo demonstra que não quer saber mais de digerir problemas na saúde, mas sim colher resultados satisfatórios que o façam dormir melhor e economizar forças para focar seu trabalho em outras áreas da gestão, sem falar que tem ainda pela frente uma campanha de reeleição a ser ganha. Vamos ver, por exemplo, como serão assistidos a partir de agora os infectados que estão em domicílio, mas que ficam em casa sem receberem a atenção médica que lhes foi prometida.

Sem saber ainda a que ponto essa mudança estrutural vai ser digerida dentro da aliança Gentil/Marinho, e tendo que conviver com as especulações de que a atração de assessores renomados do grupo Coutinho seria, por baixo dos panos, uma reaproximação com este clã, bem ao gosto do governador Flávio Dino (PCdoB), o prefeito passou também a dar mais visibilidade sobre o quanto já gastou com a pandemia até agora. Segundo ele, algo em torno de pouco mais de 6,3 milhões de reais.

Ao abrir as receitas e despesas do caixa da pandemia, FG fechou a boca de quem falava que a cidade já recebera mais de 23 milhões de reais do governo federal só para aplicação em prevenção e tratamentos da doença. Contudo, em suas aparições na TV ou por meio de lives, a sensação que passa é a de estar-se frente a um homem muito preocupado com a situação e visivelmente incomodado com qualquer tipo de reprovação ao seu trabalho.

Salvo se for uma manobra para despistar, a hipótese de aproximação com os Coutinho logo caiu por terra, porque a dupla Adelmo Soares/Thaís Coutinho, em nota no meio da semana, imediatamente confirmou que segue na disputa pela prefeitura com o apoio da deputada estadual Cleide Coutinho (PDT), que quer ver os dois no lugar de Cabeludo no próximo ano.

Realmente, como se vê, não está fácil conduzir administrativa e politicamente a gestão municipal nesse tempo de pandemia. A lógica sugere que o correto é promover-se uma certa abertura da economia com o conhecido jeitinho que o brasileiro sabe dar quando sempre se ver afetado por uma situação. Caso contrário, ninguém se espante com o fato dessa abertura vir a ser  comemorada por toda a região, como se a pandemia tivesse ido embora. Mas ela não foi, e continua entre nós cada vez mais diligente e oportunista. E, claro, pela sua sobrevivência, agradecendo a presença de público nas aglomerações.

Aliás, não sabemos porque houve tanta parcimônia no lockdown levado a cabo dias atrás no coração da área comercial de Caxias. Certo que foi evitada a circulação de veículos no perímetro, mas os vetores que propagam a doença, que são as pessoas, circularam à vontade na área. Nos supermercados, todos os dias tem sempre muita aglomeração, e nestes a contaminação pode ser muito maior, dado que são ambientes fechados e climatizados.

Na terça-feira, 02, no entanto, o prefeito cedeu à reivindicação do empresariado local, depois de 70 dias de portas fechadas. Mas o fez com restrições que ficarão sob estrita vigilância e podem inclusive ser suspensas se os indicativos piorarem. Por meio de mais um decreto (nº 164/2020), FG manteve o isolamento social no município até o dia 15 de junho, mas concordou que ficavam permitidas, desde quarta-feira (03), “a abertura e o funcionamento das atividades comerciais, de serviços e industriais, das 7 às 13 horas”, desde que o empresariado levasse em conta os seguintes cuidados: como providenciar pias com água e sabão em seus estabelecimentos; acesso gratuito a álcool em gel para os clientes; marcação no piso das lojas, para garantir o distanciamento entre os clientes; controle da quantidade de pessoas dentro das lojas etc., tudo para que se garanta a política de distanciamento social que vigora em Caxias, respeitando as normas da Organização Mundial de Saúde”.

O acordo de cavalheiros foi selado após reunião na sede da prefeitura, sem a presença de dignatários dos comerciários, por representantes do Caxias Shopping Center, Sindilojas e Clube dos Dirigentes Lojistas (CDL), concordando com os termos do mais novo decreto baixado pelo alcaide municipal, no sentido de que a reabertura do comércio caxiense é para acontecer de forma gradual.

Nota assinada pela Assessoria de Comunicação da PMC deixou claro que, “tanto o poder público, quanto os representantes da classe empresarial destacaram que a própria população pode ajudar na fiscalização informando ao poder público, que fará a fiscalização para saber se as normas estão sendo seguidas, sob pena de sanções conforme estabelecido em decreto municipal publicado dia 1º de junho, que estabelece multa ou até a cassação do alvará de funcionamento do estabelecimento”.

 Falando pelo lado empresarial, Ivan Ferreira, do Sindilojas, assim se expressou: “Queremos ressaltar para os empresários que a responsabilidade é de cada empresa. A empresa será responsabilizada pelos seus atos, pelo controle de pessoas no interior, pela higienização na entrada, colocando pias, assim como alternância dos funcionários. Espero que a gente possa dar este passo em busca da normalidade”, afirmou na ocasião.

Claro que o empresariado e o prefeito querem que as coisas deem certo e que haja uma maior atenção popular para o problema da pandemia, que exige, enquanto não aparece um antíodo eficaz, a adoção de cuidados com distanciamento e higiene. Isso, de certa forma (com raros exemplos de boçalidade, porque ninguém pode alegar ignorância diante do bombardeio de informações que recebe diariamente), já se nota ao circular pela área comercial de Caxias. Mas sente-se que subsiste na cabeça dos transeuntes o impulso para ter a vida normal de volta, e em simplesmente ir às ruas, ou às compras, sem necessidade definida, o popular “bater pernas”, é que reside o perigo maior da reverberação do contágio exponencial da doença.

Mesmo tendo cedido em parte às reivindicações do empresariado, Fábio Gentil continua apostando que o melhor são as pessoas permanecerem em casa, enquanto os índices não caírem. Em sua lógica, ele acredita que não são os doentes que vão para as ruas, mas os assintomáticos, que propagam a doença, na razão de um infectado para três sãos, e assim por diante… Na quinta-feira (04) à tarde o empresariado começou a fazer a sua parte, e das 13 horas em diante todas as lojas, à exceção das que oferecem serviços essenciais, cerraram as portas no centro comercial caxiense.

O gesto passou a impressão de que a classe quer colaborar e também ficou mais aliviada, relaxou a tensão. E, com as ruas vazias, o serviço de limpeza pública fazia tranquilamente a coleta de lixo, enquanto aparelhos de atomização desinfectavam toda a área comercial. Paralelamente, foi ampliado também o trabalho de barreiras sanitárias com desinfecção de veículos e distribuição de kits de proteção para condutores na MA-127 (acesso para São João do Sóter) e na Ma-349 (via para Aldeias Altas).

Nas redes sociais, participantes pessimistas já anunciam que irão crucificar Fábio Gentil caso a flexibilização do funcionamento do comércio concorra para aumentar o quadro de infectados. Mas, sua esteira de problemas, entretanto, não pára de correr. Agora, com a notícia de que os servidores da saúde diretamente envolvidos com a pandemia vão ganhar gratificação extra, sindicalistas da categoria passaram a protestar para que todos, indistintamente, também façam jus ao benefício. Em plena época pré-eleitoral, isso é mais um problema a ser digerido, porque ninguém sabe como os tribunais de contas vão analisar esse tipo de despesa.

Por outro lado, a administração do município deve ouvir também o clamor de muitas mães  que, apavoradas, temem reenviar seus filhos para as salas de aula nesse instante de flexibilizações com a pandemia. Há pressões muito fortes pela reabertura das escolas no município. Mas na Rede Estadual de Ensino, por determinação do governador do Estado, as previsões mais otimistas sinalizam que as aulas só deverão ser retomadas a partir do mês de agosto, quando se espera que a Covid-19 esteja mais controlada no Maranhão.

A população caxiense, portanto, deve estar atenta, pois os próximos trinta dias serão determinantes para a Covid-19 ser contida ou continuar em franca progressão no município. A maneira, o modo de olhar a pandemia, é que vai decidir como o povo deseja viver deste ponto em diante. Prudência, muita prudência nos relacionamentos e cuidados com higiene, são comportamentos imperativos, enquanto a ambicionada vacina não vem.


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