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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Enfim, prevalece o bom senso


Desde quinta-feira, Caxias ficou mais calma, e seus habitantes, com raríssimas exceções, passaram a entender que eles próprios têm que fazer algo contra a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) instalada no município. No meio da semana, ouvindo o clamor da grande maioria da população, o prefeito Fábio Gentil (Republicanos), que antes cedera à pressão do empresariado para flexibilizar o comércio para além das atividades consideradas serviços essenciais, resolveu fechar a semana com um feriado extenso de quinta a domingo, período em que só ficou permitido o funcionamento em horário integral de alguns serviços essenciais, como farmácias e drogarias, enquanto que padarias, restaurantes e lanchonetes voltaram ao regime de delivery. Mercearias e supermercados, que também estão no grupo, tiveram o período de atendimento restringido, funcionando somente  das 7 às 13 horas, assim permanecendo por toda a semana seguinte.

O ponto de partida da decisão governamental nasceu na Câmara Vereadores, ainda na tarde de segunda-feira, 2, durante mais uma sessão remota da casa. Por unanimidade, os vereadores e vereadoras acolheram mensagem do Executivo e aprovaram um projeto de lei antecipando os próximos feriados municipais dos dias 1º de Agosto (197 anos da Adesão de Caxías à Independência Nacional), que vingou no dia de ontem, e 4 de Outubro (homenagem a São Francisco de Assis), antecipado para esta sexta-feira.

A essa altura dos acontecimentos, e mesmo com a campanha eleitoral em curso, os vereadores da situação, em maior número na Câmara, realmente têm sido a base de sustentação e apoio ao governo municipal em busca de solucionar gargalos que surgem com o andamento da pandemia. Com o apoio do presidente da casa, vereador Catulé (Republicanos), seis vereadores, quatro da situação (Mário Assunção - Republicanos , Jerônimo Ferreira – PMN, Magno Magalhães – PL, e Darlan Almeida – PL), e dois da oposição (Aureamélia Soares – PCdoB, e Thaís  Coutinho – PSL), constituíram uma comissão especial , arregaçaram as mangas e se lançaram a fiscalizar as unidades de saúde disponíveis no município.

A presença de vereadores oposicionistas no grupo, os quais, é claro, aproveitam o espaço para encontrar falhas, a fim de utilizá-las como instrumento de posições políticas contrárias, visa desacreditar e enfraquecer a gestão. Mas suas presenças, como afirmou o presidente Catulé, em vez de enfraquecer o grupo, dá mais credibilidade ao trabalho da Câmara, porque o objetivo é produzir um trabalho sério em benefício de toda a comunidade caxiense, como sugerir, por exemplo, que a política de isolamento social voltasse a ocupar destaque no contexto do município, assim como distribuir imediatamente kits de medicamentos para quem estiver infectado. O presidente desta comissão, vereador Mário Assunção, é um dos maiores entusiastas para o endurecimento da medida e da distribuição de medicamentos, ao lado do presidente Catulé, dos demais membros da comissão e de todos os demais edis.

Na terça e na quarta-feira passada, usando as mídias que estiveram a seu alcance, Fábio Cabeludo acolheu a sugestão e passou a traçar a sua estratégia de ação para intensificar o isolamento social no município pelo período de 11 dias. Pedindo desculpas à população por ter antecipado a abertura total do comércio, mesmo colocando em vigor medidas de resguardo às pessoas e aos estabelecimentos empresariais, assim como ao comércio informal, Gentil admitiu que a flexibilização foi mal compreendida pelos cidadãos, que saíram descontroladamente às ruas, como se estivessem comemorando uma libertação e ignorando completamente a forte presença do Covid-19 em Caxias.

O equívoco dos caxienses não foi diferente do já acontecera em muitas regiões do planeta. Sentindo-se aprisionadas por causa da doença, as pessoas, muitas por se acharem deprimidas, querem romper suas amarras e voltar rapidamente à vida comum. Mas, de acordo com o prefeito, essa abertura fez crescer em cerca de 400 por cento o número de infectados no município, inclusive com a doença se alastrando para as povoações da zona rural.

Também não se pode dizer que a ação que está em andamento é um confinamento, um fechamento total, um lockdown, palavra inglesa que está na moda, no município. Mas os 11 dias de rigoroso controle servirão para o governo ter uma noção melhor do andamento da doença. E, se as coisas não se reduzirem, um fechamento total não está descartado para muito em breve.

Que a abertura do comércio seduz realmente as pessoas, disso não se tem dúvida. Mas há também o fator da prestação de serviços bancários, que colabora muito mais para aglomerar pessoas, levá-las às ruas, dada a necessidade que todas têm de sacar dinheiro. Em Caxias, com a exceção de uma agência do Banco do Brasil e três ou quatro agências lotéricas da Caixa Econômica Federal, não há descentralização no serviço bancário, que está todo concentrado no coração da área comercial da cidade.

Talvez por razões de segurança, não há caixas eletrônicos nos bairros.  E, assim,  o  uso dessa política acrescenta mais um ingrediente catalisador à formação de grandes e incontroláveis aglomerações no centro de Caxias, estimulando a presença de gente que vem de todos os pontos da cidade, e também da zona rural, para receber seus proventos. Outro fato a considerar, também, é a costumeira falta de dinheiro nos caixas bancários durante os fins de semana, que concorre para que as agências fiquem cheias de gente no início de cada semana.

Mas, voltando à última medida do prefeito, na manhã de quinta-feira, logo muito cedo, equipes de fiscais da Prefeitura, da Polícia Militar do Maranhão e da Guarda Municipal de Caxias estavam nas ruas desfazendo qualquer tipo de aglomeração, para fazer cumprir o último decreto municipal. Contudo, é necessário fiscalizar também com mais rigor o sistema de transportes, atividade através da qual as pessoas circulam e interagem, seja no interior do município ou para fora dele. Com essa porta aberta, dificilmente o município conseguirá quebrar a cadeia vital do coronavírus. Ou seja, você pode até isolar a cidade, mas se permitir a interação de pessoas com outras regiões, o vírus sempre estará à espreita para voltar a aparecer e se disseminar.

Em entrevista a emissora local de televisão, na quarta-feira, o prefeito Fábio Gentil não escondeu que a sua preocupação maior é com a capacidade de internação de infectados graves nas UTI’s, que é muito pequena. Na UPA, por exemplo, só seis leitos dispunham de respiradores, dois dos quais inoperantes. Enquanto isso, no hospital de campanha instalado no Centro Médico de Caxias, na praça Vespasiano Ramos, 10 leitos de UTI aguardavam para este fim de semana o término da instalação da rede que supre a unidade de oxigênio, para entrarem em funcionamento. O prefeito também anunciou que uma ala do Hospital Geral do município, com UTI, também está sendo preparada para atender os casos da pandemia.

O trato da Covid-19, em Caxias, não parece estar vinculado à falta de recursos para prover as ações que se fizerem necessárias no município. Há notícia de que Caxias já recebeu mais de 9 milhões de reais só para a pandemia, e que de mais quatro a 20 milhões de reais estão ainda por vir para os cofres da saúde municipal. Os problemas parecem mais estar afetos à logística de suprimentos e de equipamentos (dificuldade em escala mundial, já que todos os países estão buscando as mesmas coisas), e de preparo do pessoal destacado para lidar com a fera invisível.

Não obstante, para que ocorra um trabalho digno de aplauso, vê-se que não basta apenas o esforço do prefeito, da classe política e do próprio povo. A Secretaria Municipal de Saúde também deve ser mais atenciosa e diligente diante das reclamações das pessoas que procuram atendimento nas unidades de saúde. Por conta disso, muitos espectadores da política apostam que o governo está perdido.

Afinal, ninguém vai a uma unidade dessas a passeio, mas porque está sentindo algo diferente no próprio corpo. E, se você chega amargurado e atemorizado no lugar, ainda mais por causa da pandemia, não pode ser tratado com indiferença ou pouco caso, a exemplo das reclamações que se assiste e ouve ultimamente nos meios de comunicação da cidade. É um comportamento que confronta todo o esforço da gestão municipal.

Por outro lado, em que pese os gráficos assinalarem que a pandemia da Covid-19 ainda está em franca expansão, em solo gonçalvino; que cerca de 2.100 pessoas já foram infectadas pela doença; que já foram anotados 62 óbitos por causa da enfermidade; há que comemorar-se hoje que, até agora, 1.733 pacientes foram recuperados, apenas 257 encontram-se em isolamento domiciliar e 20 seguem em internação hospitalar.

Até sexta-feira, o município já havia realizado mais de oito mil testes rápidos contra a doença, dos quais cerca de 6,5 mil pessoas foram descartadas de portar a enfermidade. Mas, em razão da população caxiense se situar atualmente na casa de aproximadamente 180 mil habitantes, a testagem ainda é pequena e tem de crescer inclusive com exames mais aprofundados para controlar-se a doença.

Portanto, suspender as atividades empresariais, o comércio ambulante, por 11 dias, pedindo a cooperação de todos, parece pouco, mas já é algo que mostra maturidade e que, além de um gesto de boa vontade, sugere que, em Caxias, mais do que as coisas da economia, mais é importante é a vida. Esta sim, insubstituível.


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