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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Política de isolamento social tem que continuar em Caxias


Neste sábado, 19, deixa de vigorar a última medida de isolamento social imposta pela prefeitura no Município de Caxias, estabelecida para um prazo 11 dias, e ainda não é possível afirmar-se que houve algum recrudescimento da pandemia do novo coronavírus na região. Derrubando o otimismo de quem torce pela contenção dos contágios, a doença continua célere em se disseminar. E, pior, elevando o número de pessoas infectadas em internação hospitalar nas unidades de saúde do município. Na quinta-feira, nada menos do que 42 leitos de internação estavam ocupados, deixando atônitas e preocupadas as equipes médicas que combatem a doença, diante do risco iminente de colapso no sistema de atendimento da Princesa do Sertão.

Mesmo a duras penas, com muito esforço, a polícia militar, a guarda municipal e o corpo de fiscais do município que está diariamente nas ruas, se não reduziu de todo, fez diminuir sensivelmente a circulação de pessoas na cidade. Mas esse trabalho não tem sido uma tarefa fácil, porque, enquanto o grosso dos empreendimentos maiores cedeu aos apelos do prefeito Fábio Gentil (Republicanos), dos vereadores, à frente o presidente da Câmara Municipal, vereador Catulé (PRB), os pequenos empresários são os que continuam a dar dor de cabeça para quem atua na fiscalização que obriga o fechamento de lojas que não prestem serviços essenciais. Os fiscais abordam, conversam, deixam determinado local de portas abaixadas, mas é só virarem as costas, dobrarem a primeira esquina, que os estabelecimentos reabrem à espera de clientes.

Cenas dessa natureza continuam ocorrendo na área central de Caxias e, com toda certeza, nos bairros e nos povoados da zona rural, onde a fiscalização é menos presente. O trabalho de fiscalizar, porém, é falho, não pelo fato de ser mais relaxado, mas porque não há efetivo de policiais, guardas e fiscais em quantidade suficiente para cumprir a missão em todo o território municipal. E, assim, agradecido pela inconsequência de alguns, o Covid-19 agradece e continua a sobreviver.

Numa situação sanitária sem paralelo na vida do brasileiro, o egoísmo, a arrogância,  têm obscurecido o raciocínio até dos mais esclarecidos. Os que colocam a economia em primeiro lugar, chegam à desfaçatez de ignorar o interesse maior da vida dos próprios familiares. Longe de aparentar ignorância, desconhecimento dos fatos amplamente divulgados todos os dias, é essa incompreensão irracional e teimosa das pessoas que é a maior aliada do vírus, e causa de dor, aflição e desespero no seio de muitas famílias caxienses.         

Impressiona o modo como alguns agem para justificar seus pontos de vista egoístas. O ponto de partida é transportar o problema para outrem, como se o combate à pandemia fosse apenas uma questão de posicionamento político ou administrativo, quando a verdade é que o mundo nunca esteve tão despreparado para enfrentar uma doença tão desconhecida.

Nos meios de mídia, através da interação com comunicadores de todos os matizes,  exige-se de tudo e do melhor, sem levar-se em conta que a indisponibilidade de insumos e de medicamentos é real, face a elevadíssima demanda em praticamente todos os países; que as equipes de assistência também estão sofrendo com a enfermidade; que as baixas entre médicos, enfermeiros e técnicos são muito mais comuns do que se pensa e que é grande o esforço para repor o pessoal que é obrigado a se afastar, porque também estão enfermos ou mortos. O povo clama por distribuição de remédios para se prevenir. Ninguém entende que tal medicação simplesmente não existe. Por isso os médicos relutam em administrar remédios dados como milagrosos contra a doença.

O fato é que não há medicação eficaz contra o vírus. Os médicos apenas cuidam de controlar órgãos afetados, impedindo-os de entrarem em colapso. Todo o trabalho de defesa está mesmo dentro do nosso próprio corpo. Por isso alguns pacientes sucumbem, enquanto outros ganham alta de forma admirável. As sequelas da doença impressionam os cientistas. A pessoa pode muito bem sair do hospital em estado satisfatório e depois falecer em casa, por causa de problemas decorrentes. Só uma vacina, capaz de estimular nossas defesas imunológicas, trará tranquilidade em relação a essa doença no mundo.

Por outro lado, as exigências  reclamando a realização de uma testagem geral nos habitantes de Caxias chegam a atingir grau de histeria coletiva, como se a cidade tivesse condições de realizá-la amplamente. Ora, a indústria farmacêutica do país foi apanhada de calça curta  e desaparelhada para produzir os insumos utilizados pelo corpo biomédico e farmacêutico. E, dessa forma, não há muito o que fazer, além de procurar comprar equipamentos e reagentes no exterior, onde os preços, em face da demanda, estão pela hora da morte, e os prazos de entrega são solapados todos os dias, com grande prejuízo para os cofres públicos e o funcionamento da infraestrutura de saúde nacional.

Para dar uma ideia da dificuldade, somente nesta quarta-feira, engenheiros da Universidade de São Paulo (USP) apresentaram ao país um improvisado respirador nacional para funcionar em UTI, que vai custar algo em torno de 4 mil reais para quem se dispuser a entrar na fila de espera para adquiri-lo. O custo da aparelhagem é dez vezes menor do que os importados. Mas, de acordo com as últimas informações, a USP só terá condições de construir 10 unidades desse respirador por dia.

Lógico que um trabalho de testagem amplo da população estaria dando mais resultado no presente momento. Países que adotaram esse método estão bem mais confortáveis enfrentando a doença até à chegada da almejada vacina. A questão é que o Governo Federal falhou ao se omitir e por não dar a devida atenção ao problema, concorrendo concretamente para nos envergonhar e a patrocinar um risco real para a vida de  centenas de milhares de brasileiros.

O youtuber Felipe Neto publicou no meio da semana, no jornal New York Times, que, “enquanto o Brasil se revela incapaz de conter a expansão do novo coronavírus, diversos países que já atravessaram a primeira onda da pandemia de Covid-19 – alguns com sucesso – se veem atarantados diante da segunda. É o caso de China, Japão, Austrália e Espanha”.

De acordo com o influenciador, em junho, a China testou quase 3 milhões em Pequim e implantou novas quarentenas, depois de um surto de 249 casos. Na semana passada, o governo japonês decidiu pagar a bares e restaurantes de Tóquio para fechar suas portas, depois que foram registrados 224 casos. Melbourne, na Austrália, entrou em novo lockdown diante da comprovação de 288 casos no estado de Victoria. Na Catalunha, o registro de perto de mil casos levou a quarentenas em diversas cidades.

Na sua opinião, a incompetência brasileira para lidar com a pandemia se tornou motivo de preocupação e chacota em todo o mundo. Aliás, todos os países que deram pouca importância à Sars-Cov2, como Suécia, Estados Unidos e Brasil, agora estão pagando muito caro por negligenciar o ímpeto da enfermidade.

Aqui, em Caxias, os registros oficiais diários confirmam que a pandemia ainda segue em franca expansão (na quinta-feira - 79 óbitos, 2.530 infectados confirmados, 1.870 recuperados, 539 confirmados em isolamento domiciliar, 42 confirmados em internação hospitalar, 9.590 testes rápidos, dos quais, 7.406 descartados), ameaçando inclusive a capacidade de internação hospitalar da cidade. Em vista disso, é prudente manter sob controle a flexibilização do comércio, para evitar a circulação de pessoas. Já é possível sentir que os caxienses estão mais conscientes diante do problema, se protegendo. Claro que muita gente vai ficar chateada por deixar de faturar. O comércio informal, inclusive, que tem colaborado com as autoridades.

Não obstante, certo mesmo é que todos têm que colaborar e dar a sua cota de sacrifício para podermos conviver com a doença, enquanto a vacina não vem.


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