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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

O gosto pelo “Já teve!”


Quem aprecia a culinária tradicional de Caxias deve se preparar para algo inusitado que está prestes a acontecer, porque, se as previsões pessimistas se confirmarem, muito em breve aquela comida saborosa temperada com azeite de coco babaçu vai ser apenas uma lembrança guardada pelos mais antigos, a engrossar o volume do nosso livro de receitas do já teve, de triste notoriedade na Princesa do Sertão Maranhense.

O tema esteve em debate, nesta semana, no plenário da Câmara de Vereadores, quando vários edis chamaram a atenção para o grande número de desmatamentos que estão acontecendo na zona rural do município, realizados por empresários do agronegócio que tem por meta plantar largamente soja em Caxias. De acordo com os parlamentares que se manifestaram, os babaçuais simplesmente estão sendo varridos por tratores com correntes, ao mesmo tempo que as quebradeiras de coco são impedidas de ter acesso às amêndoas, das quais retiram o sustento familiar vendendo-as em estado puro ou na forma do nosso afamado azeite de coco, produto que os consumidores encontram nas feiras livres ou nas bancas das verdureiras por toda a cidade.

Sem entrar no mérito de quem planta soja, haja vista que a atividade gera divisas,  comodities muito valorizadas no mundo do agronegócio, que sem dúvida produz  dinheiro, fator importante para a economia do Estado e do país, a questão que interessa aos caxienses é saber sobre os benefícios que a produção do grão oferecerá ao município, levando-se em conta que a grande maioria dos investidores desses empreendimentos é constituída por pessoas de fora que não tem afinidade alguma com as tradições locais e o modo de viver de nossa população rural.

A vereança observa que, além do fato que atinge as quebradeiras de coco, o desmatamento pode destruir também a bacia hídrica do município e concorre ainda para um êxodo rural que logo chegará ao perímetro urbano da cidade, agravando o quadro de dificuldades que a gestão municipal já tem pela frente ao administrar os assentamentos que todos os dias estão surgindo em bairros caxienses, especialmente os situados na periferia. 

Como o dinheiro da venda das propriedades logo é consumido nas atividades do dia a dia da cidade, o trabalhador rural e sua família acabam expostos a mazelas como desemprego, inaptidão para o mercado de trabalho, despreparo educacional para competir, fatores negativos presentes na atual conjuntura econômica do município. Ou seja, se o agronegócio da soja não proporcionar algo de concreto, capaz de gerar emprego e renda na cidade, Caxias terá pela frente um gravíssimo drama social para enfrentar, com consequências imprevisíveis para a vida de toda a comunidade.

Mas, é o que acontece quando se dorme no ponto e passa a viver das lembranças de um passado que um dia foi pujante, do tempo das fábricas de tecido, das festas do arroz e do algodão, e das pequenas usinas de beneficiamento de coco babaçu e de arroz que se espalhavam por Caxias, há 30 ou 40 décadas atrás.

E lembrar que na legislatura passada a Câmara Municipal assistiu a uma palestra de um idoso engenheiro alemão, que, impressionado com o que viu, disse que o seu país teria uma estrutura econômica muito melhor, se contasse com as florestas de babaçuais que existem no Maranhão. 

Para ele, o babaçu é uma verdadeira mina de ouro, já que a partir do coco, não apenas a amêndoa, o azeite, o óleo, o carvão de alto teor energético, o pó de grande valor alimentício, principalmente para evitar a desnutrição em crianças, e também a casca serve à confecção de painéis de madeira reconstituída (MDF) semelhantes a madeira de lei, de excelente valor comercial. E, melhor, tudo realizado dentro de uma cadeia produtiva sem prejudicar o meio ambiente e proporcionando sustentabilidade aos babaçuais. 

Por desprezar o valor do que possui de graça, o maranhense prefere acompanhar os modismos de plantão e aplaude os novos investimentos que por aqui chegam como se fossem a salvação e o progresso da nossa economia. Depois, contemplando a terra arrasada e empobrecida, só lhe restará curtir o gosto pelo mal afamado “Já teve!”.


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