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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Caxias e suas curiosidades históricas


Nosso torrão natal, assim como todas as cidades históricas do Brasil, guarda em seus costumes certas peculiaridades. Nas linhas que se seguem o espaço estará aberto a três situações que os nativos pouco conhecem sobre o lugar em que seus antepassados viveram, e que hoje continuam a manter e preservar como morada.

A primeira dessas distinções é a conotação que o substantivo trizidela encontra aqui na terra do cantor do timbiras. Trizidela, conforme os dicionários, é a atribuição com a qual é denominada uma povoação menor separada de uma maior por um rio, como ocorre aqui em Caxias, em Pedreiras, em Codó e outras cidades do centro leste do Maranhão.

Mas, se é assim, porque em Caxias todo mundo escreve tresidela em vez de trizidela, ao se referir, talvez, ao mais antigo bairro caxiense, e pelo que consta, nos anais históricos, a localidade onde os padres jesuítas portugueses ergueram um seminário para ensinar as primeiras letras e números aos filhos dos colonos da região, além de catequizar e interagir com os índios guanarés, os silvícolas da área?!!!

A dúvida, que com toda certeza paira sobre a cabeça de muita gente, foi descortinada em conversa com o dileto amigo e irmão, poeta Wybson Carvalho, que oportunamente ofereceu uma explicação elucidadora do problema. 

Segundo ele, trizidela é aquilo mesmo que está nos dicionários e muitos municípios guardam a correta acepção, como foi o caso da cidade de Trizidela do Vale, município desmembrado de Pedreiras. 

Entretanto, em Caxias, porém, o correto é escrever tresidela, porque a palavra não é regida pelos dicionários, mas pelo fato de que o nosso antigo Arraial das Aldeias Altas, em seus primórdios, era constituído por três aldeias indígenas, três cidadelas, daí se originando tal denominação.

Outra peculiaridade caxiense pode ser constatada quando se tem em mãos um documento ou se assiste a uma sessão ordinária da Câmara Municipal, e de lá ouve-se dizer, ou ler, que os trabalhos parlamentares ora integram a 19ª Legislatura, que corresponde a quatro anos de atividade na casa, o mandato de cada vereador ou vereadora atualmente eleitos.

Como dizer que a Câmara de Caxias só tem 19 legislaturas, perfazendo 76 anos de trabalhos contínuos, quando hoje se sabe que o poder legislativo caxiense, criado em 1811, foi instalado, de fato e de direito, no longínquo ano de 1813, no dia 7 de fevereiro, portanto, há 209 anos!

A discrepância, primeiro, começou a ser removida por meio da esplêndida obra do acadêmico caxiense Quincas Vilaneto, “O município e a Câmara Municipal de Caxias (2006)”, dentro da qual está configurada a longa relação de bancadas parlamentares que fizeram história na cidade. Feitos os cálculos, facilmente percebe-se que, em vez da 19ª, na verdade, já estamos na 51ª Legislatura! Então, porque insistir dizendo que nosso legislativo está na 19ª Legislatura?!

O quebra-cabeça foi resolvido com a constatação de que o nosso legislativo viveu períodos em que teve que se adaptar aos movimentos políticos da história caxiense e nacional, transcorridos em três momentos: o período regencial/imperial; o advento da república; e a primeira redemocratização do país, com o fim do Estado Novo do presidente Getúlio Vargas e a posse do presidente Eurico Gaspar Dutra, a partir do ano de 1946.

Então, de 1813 a 1889, tivemos o período regencial/imperial. Em seguida, de 1890 a 1931, o que se chamou de 1ª República. Depois, o período do Estado Novo, que terminou em 1945. E, por último, o período de 1948 até nossos dias, que o saudoso diretor da CMC, o ex-deputado estadual caxiense Abreu Sobrinho, chamou de 2ª República, dentro do qual já se processaram 18 Legislaturas e, agora, a 19ª, em curso.  

Nesta semana, tem início as comemorações alusivas ao Dia Internacional da Mulher, e a Câmara Municipal, que hoje tem uma Procuradoria da Mulher, sob o comando da vereadora Cynthia Lucena (PP), deverá ao longo deste mês de março reservar espaço para discussões sobre a realidade em que vive hoje a mulher brasileira, a maranhense e a caxiense, no que tange às conquistas e aos problemas que continua enfrentar, dentro do contexto social e fora dele.

Aproveitando a deixa, aqui também mais uma preciosidade caxiense, através da primeira eleição de uma mulher caxiense para o parlamento municipal, Jerônima Medeiros, na segunda metade dos anos 1930. 

A conjuntura política da época, pressionada pela aprovação do Código Eleitoral promulgado em 24 de fevereiro de 1932, que autorizou as mulheres brasileiras a votar, resultou em manifestações pelo exercício desse direito em todo o país. E, assim, promoveram-se campanhas por todo o território nacional em favor do voto livre para as mulheres. Uma conquista, resultado de quatro décadas de uma luta intensa do movimento feminista, rechaçado por grande parte da sociedade do país, uma vez que, na época, apesar de ser um direito básico de todo cidadão, o voto feminino era encarado como “um absurdo” e “desafiador da família”.

 A campanha foi endossa por várias instituições civis e religiosas, dentre as quais a Igreja Católica, que assumirem bandeiras em favor da eleição de mulheres para os parlamentos brasileiros, sendo que por aqui a preferência recaiu sobre a religiosa católica Jerônima Medeiros, que acabou eleita.

Foi eleita, mas pode mostrar pouca desenvoltura na função, já que em 10 de novembro de 1937, através de um golpe do presidente Getúlio Vargas, a política do país foi substituída pelo Estado Novo e por uma nova Constituição, ainda naquele ano, que duraria até 1945. Uma das primeiras ações desse novo regime foi anular todas as eleições, derrubando, obviamente, o mandato de nossa primeira vereadora.

A título de esclarecimento, a característica principal dessa constituição era a grande concentração de poderes nas mãos do chefe do Executivo. Seu conteúdo era fortemente centralizador, ficando a cargo do presidente da República a nomeação das autoridades estaduais, os interventores e a esses, por sua vez, cabia nomear as autoridades municipais.

O poder Judiciário foi acossado e o Legislativo teve suas principais funções englobadas pelo Executivo. Partidos políticos foram dissolvidos, eleições eliminadas, pena de morte instituída, e atos ditatoriais como censura, expurgos e cultos à personalidade se tornaram recorrentes. 

Era uma situação que hoje muitos sonham em reeditar, saudosos de um tempo que jamais vivenciaram, ou talvez vibrando com os efeitos e causas da reprovável guerra da Rússia de Vladimir Putin contra a soberania e a liberdade da Ucrânia.

O nome da vereadora Jerônima Medeiros, porém, restou imortalizado denominando a ala administrativa da Câmara Municipal, a partir de 2014, durante a 17ª Legislatura que, por sinal, foi a que registrou dois fatos singulares importantes para a atual política de empoderamento desfrutada pelas mulheres caxienses: o legislativo ser comandado pela primeira vez por uma voz feminina; e ter na bancada parlamentar cinco representantes mulheres.


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