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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Civilidade indomada


Na semana passada, a Câmara de Vereadores de Caxias expôs em audiência pública um dos problemas que atualmente mais afetam a comunidade: a acessibilidade e caminhabilidade no centro histórico da Princesa do Sertão Maranhense. Sim, porque a locomoção no perímetro central da cidade não está fácil, a começar porque há muita desordem e não há mesmo por onde se possa caminhar com tranquilidade. Óbvio que no período do horário comercial, que é o momento que as pessoas utilizam para fazer compras, ir às agências bancárias, visitar o oculista, o médico, etc.

A audiência foi patrocinada pelo presidente do Poder Legislativo, vereador Teódulo Damasceno Aragão (PP), atendendo demanda que colheu dos estudantes caxienses de arquitetura e engenharia da faculdade Unifacema, que participaram da reunião acompanhados de professores dos dois cursos, dentre estes o professor Ezíquio Barros Neto, que, além de presidente da Academia Caxiense de Letras, é também membro do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC), órgão muito ligado às peculiaridades da vida histórica da cidade e que funciona como uma espécie de guardião das tradições locais no campo das letras, da cultura e do seu patrimônio físico secular.

O lado positivo da audiência foi marcado pela exposição de dez alunos, cinco do curso de arquitetura e cinco do curso de engenharia, demonstrando com argumentação e imagens projetadas os muitos problemas que no centro atazanam a vida de quem circula pela área central de Caxias. Mas dizer que se circula pelo centro de Caxias está mais para eufemismo do que propriamente realidade, posto que o cidadão, a cidadã, a todo o momento se depara com barreiras (calçadas e acessos a prédios) que lhe levam a descer para o piso das ruas e avenidas, disputando com carros e motocicletas um perigoso e às vezes até fatal momento de passagem. 

Ousaram com propostas mudando a sinalização e o sentido de tráfego de algumas vias centrais, oferecendo alternativas que permitam uma fluidez maior ao trânsito conturbado de hoje. Denunciaram a configuração atual dos estacionamentos e também foram taxativos em dizer que qualquer mudança no panorama do centro de Caxias passa, sem qualquer outra alternativa, pela retirada do comércio ambulante das ruas e das praças centrais.

Foi muito bom saber que nossos jovens já estão por aqui mesmo se preparando em especialidades que antes só podiam ser absorvidas fora do município. Também que levam à sério as normas de seus cursos de formação, no sentido de se instruírem para oferecer conhecimentos que venham a melhorar o futuro de Caxias. Afinal de contas, o futuro pertence mesmo a eles que agora são estudantes.

Não obstante, foi ruim sair do encontro com a certeza de que as mudanças, em suma, alguma coisa possa acontecer de melhor nesse terreno, precisa contar com a boa vontade da gestão da cidade, aqui não destacando somente a atuação da prefeitura, mas de todos os demais poderes constituídos do município, inclusive o poder legislativo, em cuja sede ocorreu a importante audiência pública.

Quem não entende o alcance das palavras que estão sendo ditas, vai logo dizer que isso não é verdade, porque o município tem legislação específica sobre o tema, já que dispõe de código de postura e de plano diretor, ainda que ambos estejam já meio defasados para a atualidade contemporânea, e que, portanto, bastaria que as autoridades os acionassem para a cidade funcionar às mil maravilhas.

E, nesse clima de avaliação, mais perturbador foi concluir que nossas dificuldades no campo da acessibilidade e caminhabilidade começam com a incivilidade e a falta de educação da cidadania, porque, como uma criança que cresce sem freios, assim é grande parte da comunidade, acostumada a fazer o que lhe convém e dá prazer, sem levar em conta que o direito de uma pessoa termina onde começa o direito de outra. Talvez seja uma falha da educação tradicional que se reflete hoje para o contexto familiar, das autoescolas que não conseguem incutir responsabilidade em seus aprendizes de condutores, e por aí vai...

Conscientes dessa realidade, os estudantes da Unifacema chegaram a sugerir o uso de campanhas informativas esclarecedoras antes da aplicação de punições, para despertar a consciência de nossos cidadãos face essa caótica realidade que enfeia Caxias. As punições, então, seriam um último recurso, já que não se encontra alternativa melhor do que fazer o contribuinte sentir o peso de suas faltas no próprio bolso. Entretanto, aqui irá aparecer mais um gargalo, pois há muito tempo a palavra fiscalização foi abolida do dicionário do município e, em decorrência disso, ninguém respeita nada. A criatividade decorre da inventividade da mente de cada infrator.

Apesar de ter reunido apenas quatro parlamentares no plenário (os vereadores Teódulo Aragão, Torneirinho (PV), Charles James (Solidariedade) e Gentil Oliveira (PV)), mais professores, a representação do Corpo de Bombeiros e da Associação dos Surdos de Caxias, a concorrida audiência pública foi muito interessante e certamente seu relatório final irá subsidiar as futuras ações que possam vir a ser feitas para melhorar a acessibilidade e a caminhabilidade no centro de Caxias. 

Ponto para os vereadores que participaram do evento, os estudantes e populares que lotaram a CMC, e parabéns à Câmara Municipal por estar no momento propiciando a discussão de temas relevantes ao progresso da cidade.


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