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Wybson Carvalho

Recanto do Poeta

10 poetas da Academia Caxiense de Letras


Carvalho junior xilogravura - 10 POETAS DA ACADEMIA CAXIENSE DE LETRAS   
Imagem: Arte em xilogravura de Tita do Rêgo Silva [www.titadoregosilva.de]

A presente seleção de poemas contempla dez nomes de poetas do quadro de membros da Academia Caxiense de Letras [Caxias/Maranhão/Brasil, org. Carvalho Junior].  
 
O homem |Ana Luiza Almeida Ferro

A folha brinca ao sabor da brisa

A folha tremula sob o jugo do vento

A folha cai pelo capricho do vendaval.

 

A criança não sabe onde pisa

O adulto procura o seu assento

O idoso se esquiva do mal.

É o homem a folha ou o vendaval?


Mãe Nêga |Carvalho junior

depois de dois milênios

debaixo da mesma pedra

que escondia um cascudo

em alto perigo de extinção,

Mãe Nêga dos Cipós acorda.

 

a pele não lembra de dor.

ferida é apenas um sonho.

toda rija e alta na postura,

toca uma harpa de barro

e sorri em língua estranha.

 

Mãe Nêga gosta das penas

pardas da saracura-do-mato, 

da fogueira de pirilampos

que arde nos seus cabelos.

 

Mãe Nêga é uma mãe-d’água,

mãe de um mundo em argila,

onde não há calos de mágoa,

onde nascer é muito antigo.  

 

Mãe Nêga cospe nas faces

da morte, dança em roda

a canção do ineterno dia,

parece uma índia mansa,

a mãe negra e humilhada

do poeta Gonçalves Dias. 

 

Mãe Nêga tem peixes

atravessando o corpo

como uma personagem

na tinta de Afarin Sajedi.

— Mãe Nêga, vem me buscar!

— Mãe Nêga, vem me tirar daqui!


Narciso |Edmilson Sanches

Dobrado sobre si mesmo

o poema conversa

com seu melhor

amigo

 

— um interlocutor

privilegiado:

seu umbigo.
 
Provinciana |Inês Maciel

Sou provinciana, sou como uma abelha,

E se assim sou, assim gosto de ser…

Sou rústica, sou da terra, sou cabreira,

Mas sou livre em minha forma de viver…

Sou como a chuva que molha o campo,

Sou como a jabuticaba, pau d’arco, jatobá,

Sou como faísca passageira de um relâmpago,

Sou como um bicho, sou do mato, sou de lá…

Sou como uma nuvem que passa errante,

Sobre um entrelaçado de vida abundante

Onde a natureza e a vida são tecelãs…

Mas trago nos olhos o piscar dos vaga-lumes,

E, entranhado na alma, eu guardo o perfume

Das flores silvestres, no alvor das manhãs…


Nascer |Jorge Bastiani

Havia uma criança

De olhos perdidos

Olhando para o nada

Quando o mundo

Explodiu.


A Faca e o Peixe |Naldson Carvalho

a aguçada lâmina,

porte da coação

magnética e

perseguidora alcançou o peixe

enquanto nadava temente

contra a corrente reversa

implantada no mau tempo.

estendido ficou o peixe

na banca com papéis diversos,

esquecido,

mumificado

para um desafio inaceitável,

que,

já tarde que foi vindo,

tão cedo não deve voltar.
 
Beco sem saída |Quincas Vilaneto

Tirou do bolso

A levíssima pena

E sentou-se

No batente da porta

Para esperar o poema.
 
Pequenos Inventos |Renato Meneses

(I)

Ventos só vêm com assovios
colher pipira é arte de goiaba madura
criança é mundo sem cancela
e poesia é âmbula dessas coisas.

(II)

Moça de geografia façoila
cintura breve, delgadas pernas
um par de bunda curva e plenitude.
na destreza do seu andar
e olhar um tanto de vaca
promissão de pélvicos bezerros.
 
(III)

Nesse ensejo de inidôneos homens
no devir de encontrar rípios virtuosos
a lanterna de Diógenes queimou o foquito.
 

(IV)

 
No carnaval dos Caetés
bispo Sardinha foi comido
sacrilégio mais insosso!
notadamente, nossa culinária exitosa
é de carne profana: giseles, paes, pitangas
dignas de pantagruel.


[…………………………] |Silvana Meneses

ser

ser a palavra livre

livre arbítrio

eu e deus no abismo.

 

Último poema |Wybson Carvalho

não há mais página em branco,

para o preto grafite

desenhar o esboço da alma.

a ponta do lápis quebrou

no livro fechado e envelhecido

à história sem ser escrita.

então, ao homem

a arte fora negada

sem ter sido amiga da vida.

 

Fonte: Literatura e Fechadura


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